Para sustentar a família, Francisco Wilson de Oliveira faz fretes na
moto e automóvel particulares. Ambos são movidos à gasolina. Um aumento
no preço desse combustível o obrigaria a repassar a majoração para os
clientes. O problema é que, assim como esse exemplo, há muitos outros no
Estado que explicam porque o impacto da elevação do custo desse produto
seria tão intenso na economia local.
O
reflexo na inflação vai depender também do tamanho dessa elevação. A
reportagem fez o cálculo caso o reajuste de 7%, de acordo com o jornal
Estado de são Paulo, seja realmente confirmado na próxima semana e
repassado integralmente para o consumidor final.
Com base no mais
recente levantamento semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP), o cearense pagaria entre R$ 0,15 e R$
0,21 a mais do que desembolsa hoje por um litro de gasolina. No caso do
óleo diesel, com previsão de alta entre 4% e 5%, essa majoração seria de
pouco mais de R$ 0,10. Conforme a pesquisa da ANP, o preço mínimo do
litro da gasolina encontrado, no Ceará, na semana compreendida entre os
dias 6 e 12 de janeiro foi de R$ 2,55. Esse valor passaria a R$ 2,72 com
o reajuste de 7%.
Mais simulações
No
outro extremo, o valor máximo, que estava a R$ 3,00 pularia para R$
3,21; enquanto eu o preço médio de R$ 2,72 em igual semana saltaria para
R$ 2,91.
No simulacro realizado para o óleo diesel, o cenário
seria de avanço entre R$ 0,09 e R$ 0,11 no preço médio do litro
comercializado no Ceará. Atualmente, segundo dados coletados pela ANP,
na semana mais recente deste mês de janeiro, o valor médio do
combustível é de R$ 2,193.
Preocupação
"Essa
alta de quase R$ 0,20 no litro se ocorrer de verdade vai me prejudicar
bastante. O jeito é ter que repassar tudo para o cliente. O que já tá
tuim vai ficar ainda pior", lamenta Wilson.
O assessor de
Economia do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Ceará
(Sindipostos-CE), Antônio José Costa, confirma esse patamar de aumento,
contudo, diz que é impossível afirmar se os 7% serão realmente
anunciados e, nesse caso, se serão repassados de forma integral. "É
impossível a gente confirmar isso. O mercado é livre. Cada postos
estabelece o preço que quer. Ainda existe a variável das
distribuidoras", observa Antônio José Costa.
Pelo menos para o
empresário Edson Matias, que trabalha com transporte escolar, um
reajuste nesse momento não iria impactar de forma mais contundente.
Segundo ele, o veículo de trabalho é movido a Gás Natural Veicular
(GNV). "Sempre é ruim aumento de preço, mas, no meu caso, não sentiria
muito", diz.
O Sindipostos-CE, porém, descarta que houvesse uma
nova correria pelo GNV. "Não acredito em migração nem para o etanol,
imagine o gás natural, que necessita de alteração no carro. A população
ainda deve continuar com a gasolina. Quem põe R$ 50 vai continuar
colocando os mesmos R$ 50, mas rodando menos".
Ainda compensaria
Conforme
os cálculos do jornal, mesmo se o aumento e os novos valores para a
gasolina fossem confirmados, ainda não valeria a pena encher o tanque
com etanol. Para que o álcool compense mais do que a gasolina comum é
preciso que o valor do biocombustível seja inferior a 70% do preço da
concorrente no caso dos veículos flex. Levando em consideração o valor
médio da semana mais recente pesquisada pela ANP no Ceará, a proporção,
atualmente, é de 80%. Após a suposta majoração cairia apenas para 75%.
Reflexo na inflação
Para
a economista Eloísa Bezerra, esse aumento viria em péssima hora para o
Ceará, que tenta superar uma forte estiagem, principalmente porque a
inflação de determinados produtos subiu no ano passado em virtude do
transporte de itens por longas distâncias, que demandam mais custos com
combustíveis.
"Seria um momento inoportuno. Mesmo com a redução
da energia anunciada, uma elevação na gasolina e no diesel mexeria com o
preço de vários produtos e, com certeza, traria um impacto no IPCA de
janeiro e de fevereiro", antecipa.
ILO SANTIAGO JR.REPÓRTER
Impacto na inflação de até 0,28 ponto
São Paulo.
O reajuste de 7% no preço da gasolina nas refinarias poderá ter impacto
direto entre 0,13 ponto e 0,28 ponto porcentual no Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo cálculos feitos por
economistas. Os preços da gasolina têm participação de 3,9% no IPCA.
Ontem,
o ministro interino do Ministério da Fazenda, Arno Augustin, disse que
desconhece qualquer decisão sobre aumento do preço da gasolina.
Caso
o governo, para amenizar o efeito do reajuste sobre os preços, eleve
nos próximos meses o porcentual da mistura do etanol sobre a gasolina de
20% para 25%, esse impacto tende a ser menor. Esse aumento da mistura
não seria adotado de imediato, mas sim depois, provavelmente quando as
prefeituras das principais capitais do País elevarem suas tarifas de
ônibus, o que deve pressionar bastante a inflação. O economista-sênior
do Besi Brasil, Flávio Serrano, calculou um impacto de 0,18 ponto
porcentual sobre o IPCA, sem nenhuma alteração tributária. "Se a mistura
de álcool na gasolina passar de 20% para 25%, deve mitigar cerca de 4
pontos-base", disse, acrescentando que provavelmente esse efeito cairia
para 0,14 ponto porcentual.
Comportamento
"Depende
do comportamento do preço do álcool. Mantidas as condições de mercado,
seria isso. Agora, se o preço do etanol subir, reduz esse efeito e o
impacto do reajuste seria maior. Caso o preço do álcool caia, poderia
até ajudar mais. Então, estamos sempre falando no curto prazo, sem
considerar grandes alterações nas condições de mercado", ponderou.
O
economista trabalhava com um cenário em que o governo "dividiria o
aumento necessário em duas tranches". "Essa primeira seria por volta de
7%. Tudo para evitar muito impacto no IPCA no começo do ano, já que o
nível da inflação esta muito elevado", disse. "Se o reajuste for
confirmado na semana que vem, boa parte do impacto acontece em
fevereiro, quando a inflação deverá desacelerar por conta da redução dos
preços da energia elétrica", comentou.
Queda na energia será superadaAs
principais revisões de preços previstas para os primeiros meses deste
ano - da gasolina, dos ônibus urbanos de algumas cidades, como Rio de
Janeiro, São Paulo e Fortaleza e da energia elétrica - devem resultar em
alta da inflação. Apesar da tentativa do governo de conter o custo de
vida da família brasileira, o saldo entre as três pressões acaba sendo
positivo, com os reajustes da gasolina e do transporte superando os
reflexos da queda da tarifa de energia.
Redução da tarifa residencial de energia seria suplantada pelas outras elevações FOTO: DIVULGAÇÃO
"É
preciso avaliar se a redução da energia terá efeito líquido de 16% para
o consumidor, como espera o governo. As térmicas que estão sendo
acionadas nesse período de reservatórios baixos poderão encarecer a
conta de energia", alertou o economista do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) André Braz.
Para
ele, as revisões da passagem de ônibus nas cidades do Rio e São Paulo
podem ser diluídas nos indicadores de dois meses, dependendo de quando
forem autorizadas. Se passarem a valer a partir do meio para o fim do
mês, terão reflexo também no mês seguinte. Para o cálculo do impacto dos
reajustes das tarifas de ônibus nos dois municípios, o Ibre/FGV
considerou um aumento de 11,84% em São Paulo, referente à inflação
acumulada nos últimos dois anos, desde o último reajuste; e de 5,5% no
Rio, já anunciado pela prefeitura. Em Fortaleza, o aumento de 10% já
está valendo, o que antecipa os impactos.
Projetos mantidos
A
diretoria da Petrobras pediu ao seu conselho de administração um
reajuste nos preços de diesel e gasolina para este mês como forma de
garantir os projetos previstos em seu plano de negócios, segundo fontes.
A empresa espera uma recomposição dos 15% de aumento nos dois
combustíveis, conforme indica o plano de negócios para o período
2012-2016, divulgado em junho passado.
A estimativa do plano,
calculada para sustentar os US$ 236,5 bilhões de investimentos previstos
para o período, foi apenas parcialmente atendida no ano passado pelo
governo - a União é sócia controladora da companhia. A gasolina foi
reajustada nas refinarias em 7,83% em 25 de junho. O diesel recebeu dois
reajustes, um de 3,94%, em 25 de junho, e outro de 6%, em 16 de julho. O
possível aumento neste mês não acabaria com a defasagem de preços dos
combustíveis vendidos pelas refinarias da Petrobras em relação ao
mercado internacional, mas garantiria a manutenção de projetos e
investimentos da companhia e aliviaria o caixa, que amarga perda de US$ 1
bilhão ao mês com a diferença dos preços de importação de diesel e
gasolina.
Aumento deve ‘respingar’ no etanol
São Paulo. O
reajuste do preço do etanol hidratado nas bombas seria natural com o
aumento da gasolina e viria atrelado à paridade de 70% do preço entre o
combustível de cana-de-açúcar e o de petróleo. Ou seja, com aquecimento
da demanda após a alta da gasolina e a opção feita pelo etanol nos
veículos flex fuel, o valor do hidratado subiria e também pressionaria a
inflação. “A correção do preço da gasolina é necessária e a alta do
etanol hidratado ocorrerá e chegará à inflação, que será forte neste
primeiro trimestre”, afirmou Fábio Silveira, sócio-diretor da RC
Consultores.
O
impacto da alta do preço do hidratado até poderia ser maior se o
consumo do não fosse reduzido desde 2010, de 25% para 14% Foto: Tuno
Vieira
Ele lembra que, por conta da entressafra da
cana-de-açúcar até abril, a oferta do etanol é a que está estocada nas
usinas e destilarias. “Os estoques não são altos e o preço do produto
desde o fim da safra já subiu 9% em novembro, 2,5% em dezembro, e deve
ter alta de mais 1,5% neste mês com sem aumento da demanda”, disse.
O
impacto da alta do preço do hidratado até poderia ser maior se o
consumo do combustível não fosse reduzido desde 2010, de 25% para 14%,
da demanda total dos automóveis, de acordo com dados da União da
Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Efeito maior
No
entanto, o efeito do aumento dos preços nas usinas seria maior em São
Paulo, onde o preço final ao consumidor é formado por 61% do preço do
produtor, ante uma média de 52% em outros estados, por causa do ICMS
paulista, o menor do Brasil. Ainda segundo Silveira, o governo poderia
esperar mais algumas semanas para reajustar o preço da gasolina e
postergar os impactos do aumento nos indicadores de inflação. Além
disso, contaria com o aumento da oferta de etanol, com início da
colheita da safra 2013/2014 de cana, em abril. "Definitivamente, não é
um bom momento para o reajuste (da gasolina). A aproximação da safra e a
própria sinalização de oferta do etanol no mercado inibiriam a alta da
preços do álcool", explicou Silveira.
Na avaliação de Luiz Carlos
Corrêa Carvalho, sócio da consultoria Canaplan e presidente da
Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o governo poderia utilizar
mais uma vez uma manobra fiscal para evitar a alta dos preços do etanol,
como já fez no passado com a Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (Cide).
Cobrada sobre a gasolina, a Cide chegou a
representar 14% do preço do combustível de petróleo, mas foi reduzida,
até ser zerada no último reajuste nas distribuidoras, e as altas não
chegaram ao consumidor.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1224012