A
JD Assessoria e Consultoria, empresa de José Dirceu, abriu uma filial
no Panamá, paraíso fiscal da América Central. Está registrada no mesmo
endereço da Truston International, controladora do Hotel Saint Peter,
aquela hospedaria que ofereceu salário de R$ 20 mil ao presidiário
Dirceu, em Brasília.
As duas empresas, a JD Consultoria e a
Truston International, anotam em seus registros o mesmo endereço onde
funciona o Morgan & Morgan, escritório especializado no fornecimento
de testas de ferro a empresas interessadas em se instalar no Panamá. A
novidade veio à luz graças aos repórter Andreza Matais e Fábio Fabrini.
Repetindo,
para evitar que você se confunda: Dirceu abriu no Panamá uma filial da
sua Consultoria, que funciona no mesmo local da Truston, que controla o
Hotel Saint Peter, que ofereceu emprego a Dirceu, que aceitou, mas teve
de voltar atrás depois que se descobriu que seu “empregador” tinha como
acionista majoritário um “laranja” vinculado ao Morgan & Morgan,
escritório panamenho que serve de endereço para a consultoria de Dirceu e
para a controladora do hotel que o empregaria em Brasília. Ufa!!!
A
filial panamenha de Dirceu foi aberta em 2008, três anos depois de o
escândalo do mensalão tê-lo derrubado da cadeira de chefe da Casa Civil
de Lula. A Truston, pseudo-proprietária do hotel, foi criada logo a
seguir, três meses depois da chegada da consultoria do ex-ministro ao
paraíso fiscal.
Suprema coincidência: embora funcionem no mesmo
endereço, a assessoria de Dirceu informa que a JD Consultoria e a
Truston não têm
nada a ver uma com a outra. Tudo muito claro, como se vê. Claro como as águas do Tietê.
Enquanto
Dirceu estiver na cadeia, responde pela JD Consultoria o irmão dele,
Luiz Eduardo de Oliveira e Silva. Procurado, não quis falar. A
assessoria informou que a filial da firma de Dirceu não conseguiu
prospectar negócios no Panamá. No papel, o braço panamenho da
consultoria teria como objetivo “o mesmo desenvolvido pela matriz'', em
São Paulo.
Tomada pelo contrato social, a firma de Dirceu faz algo
muito parecido com lobby. Por exemplo: atua na intermediação de
“parcerias empresariais com os países do Mercosul''. Facilita o
“relacionamento institucional de particulares com os mais variados
setores da administração pública''.
No alvorecer de dezembro,
quando o repórter Vladimir Netto descobriu que a panamenha Truston
controlava o hotel que empregaria Dirceu, os personagens da pantomima
realizaram dois lances. Num, Dirceu desistiu do emprego que lhe renderia
R$ 20 mil mensais e o benefício de deixar a cadeia durante o dia.
Noutro, o empresário Paulo Masci de Abreu, que se declara dono do Hotel
Saint Peter, apressou-se em “comprar” as ações da Truston, assumindo
formalmente o controle do negócio.
Paulo Masci é irmão de José
Masci de Abreu, presidente do PTN, partido que integra a megacoligação
pró-reeleição de Dilma Rousseff. Ao “adquirir” as cotas da Truston
International, Paulo Masci tentou tomar distância do ‘laranjal’
panamenho. A então controladora do Saint Peter era presidida por José
Eugenio Silva Ritter, um auxiliar administrativo do escritório Morgan
& Morgan, residente em área pobre da Cidade do Panamá.
No
português das ruas, José Ritter é um “laranja”. Junto com outras duas
pessoas vinculadas ao escritório Morgan & Morgan, ele aparece como
dono de cerca de 30 mil empresas instaladas no Panamá. Entre elas,
conforme já mencionado
aqui,
uma construtora de Fabricio Correa, irmão mais velho do presidente do
Equador, Rafael Correa. Por sorte, José Dirceu não tem nada a ver com
coisa nenhuma. O preso já está, a propósito, em outra. Reivindica agora
autorização judicial para trabalhar no escritório do advogado José
Gerardo Grossi. O salário é menor: R$ 2,1 mil. Mas Grossi não tem nenhum
testa de ferro no Panamá.
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2013/12/22/dirceu-abriu-filial-de-sua-consultoria-no-panama/