Nível do Rio Cubatão está abaixo da média
Os moradores da região não sentem nas torneiras a crise hídrica que
afeta a Grande São Paulo e Campinas. Porém, em breve, a Baixada Santista
pode ser atingida pela escassez no abastecimento caso as previsões de
chuva não se confirmem ainda na primavera.
Assim constatam especialistas, que afirmam: a redução dos níveis dos
rios locais é o primeiro alerta. A baixa no volume dos mananciais que
abastecem a região foi relatada por A Tribuna, na edição de ontem (23), que mostrou a situação de dois rios: Cubatão e Pilões.
O primeiro – de onde se capta 42,8% da água consumida na região – é o
que mais sente os reflexos da seca. As marcas na escala linimétrica
(régua que verifica o nível da lâmina d'água) não deixam dúvidas: houve
redução de, ao menos, dois metros na volumetria do rio.
A causa: a estiagem, que neste ano registra o pior histórico. “Se não
chover substancialmente nos próximos meses, a região não estará livre de
desabastecimento no verão”, afirma o climatologista da ONG Amigos da
Água, Rodolfo Bonafim.
O consultor ambiental Alessandro Azzoni também prevê o mesmo cenário.
Além do aumento populacional na região durante a temporada de verão, ele
aponta o desperdícios na rede como entraves a serem sanados.
“Perde-se 30% de água do ponto de captação até o consumidor. Somado aos
problemas de distribuição, há ainda as ligações clandestinas”, cita.
Para Bonafim, o sucateamento das tubulações de distribuição contribui
para a perda do líquido durante o trajeto. “São encanamentos antigos,
geralmente da década de 60, e que estão subdimensionados”.
Outra questão a ser resolvida, segundo Azzoni, é a cultural: é preciso a
realização constante e maciça de campanhas de conscientização do uso
racional da água potável.
“É natural que o turista, não aclimatado com as temperaturas do
Litoral, use mais água. Seja em banhos demorados ou em piscinas. Há a
necessidade de educação já nos pedágios”, afirma o consultor ambiental.
Como alternativas para suprir o possível desabastecimento, ambos
defendem a utilização de lençóis freáticos e investimentos em novos
pontos de captação de água nos rios da região (veja matéria nesta
página).
“Nosso sistema hídrico (da região) é bom, mas sofre em ocasiões
especiais, como esta que enfrentamos com a falta de chuvas. E muito se
perde com o desperdício”, cita Bonafim.
Comum
Na alta temporada de verão, várias cidades da região costumavam
enfrentar baixa pressão e pane no abastecimento de água. O cenário
tornou-se menos grave com uma série de investimentos da Sabesp nos
últimos seis anos. Entretanto, em dezembro passado, Guarujá registrou
desabastecimento. Por esse motivo, a Prefeitura obteve na Justiça
liminar (decisão provisória) por danos morais, contra a Sabesp, em
função do problema.
Em janeiro, a falta de água chegou a Santos, no Morro São Bento.
Bairros de São Vicente e Bertioga também sofreram com o
desabastecimento.
Estudos visa novos mananciais
O Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista (CBH-BS) finaliza
um inventário sobre a situação dos rios da região. O estudo, com
conclusão prevista para ainda este ano, balizará os futuros
investimentos para a melhora do sistema de captação local de água.
Uma das alternativas estudadas sinaliza para a ampliação da capacidade
produtiva local, cujo potencial é um dos mais amplos do Estado. O
líquido tratado excedente teria como destino outras regiões paulistas.
Segundo o presidente do colegiado, o prefeito de Bertioga Mauro
Orlandini (DEM), o instrumento leva em consideração o crescimento
demográfico regional para os próximos anos.
“Precisamos entender qual o volume de água necessário a nossa região.
Garantida a sustentabilidade, por que não enviar (o excedente) para a
Capital, por exemplo? O importante é não descobrir um santo para cobrir
outro”, explica.
Orlandini ainda cita que o levantamento apontará toda a potencialidade
hídrica da região. E servirá para criação de um plano definitivo ao
alerta da Agência Nacional de Águas (ANA).
Um estudo da entidade mostrou que 16 dos 29 maiores aglomerados
urbanos do País precisam achar novos mananciais para garantir o
abastecimento até 2015. A lista inclui 472 municípios, entre entres 56
situados em três regiões metropolitanas de São Paulo (Baixada Santista,
Campinas e a Capital).
Campanhas
Outra vertente defendida é a ampliação das campanhas de economia de
água. Em Bertioga, Orlandini diz finalizar leis de descontos no IPTU
para os munícipes que tenham preocupações com o meio ambiente.
“Não há reservatórios e nem investimentos que aguentem deixar as
torneiras abertas sem necessidade”, cita. O prefeito acredita que a
proposta pode ser levada às demais cidades. “Faremos aqui (Bertioga) o
projeto piloto”.
Resposta
A Sabesp informa que, além da Capital e Interior, o abastecimento da
Baixada Santista está garantido, apesar da estiagem e das altas
temperaturas, que reduziram a vazão dos mananciais. Sobre o volume médio
de água consumida diariamente por habitante na Baixada Santista, a
empresa informa que esse índice “varia muito de município para
município, assim como a vazão de água produzida para atender moradores e
turistas”.
Sobre a conscientização do consumo, a Sabesp cita ter o Programa de
Uso Racional da Água (Pura), que completou cinco anos na Baixada
Santista. O programa desenvolve palestras, visitas técnicas para
diagnóstico predial e orientações aos mais diversificados públicos. Por
fim, a empresa informa que Cubatão é atendida pelo Rio Cubatão. No
entanto, existe a possibilidade de complementar a vazão captada para a
estação de tratamento de água da Cidade com volume da Represa Billings,
quando necessário. A retirada da água da Billings não causa qualquer
problema ambiental e o tratamento da água segue os parâmetros de
potabilidade exigidos em lei.
http://www.atribuna.com.br/cidades/se-n%C3%A3o-chover-em-breve-regi%C3%A3o-da-baixada-santista-pode-sofrer-com-falta-de-%C3%A1gua-1.411006