Cerca de 15 mil novos alunos, oriundos de escolas particulares, devem ingressar na rede pública no próximo ano. A estimativa é da Secretaria de Educação, cuja previsão é superar em 25% o número de matrículas desse público em relação ao ano letivo em curso, que recebeu 12 mil egressos das unidades privadas.
Segundo a pasta, um dos fatores para esse aumento pode ser justificado pela alta nas mensalidades, que terão reajuste médio de até 21%, conforme levantamento feito pelo Jornal de Brasília.
“Essa alta nas escolas particulares tende a pesar no orçamento das famílias, sobretudo em uma época de dificuldades na economia. Além disso, verificamos que esse crescimento de alunos egressos da rede privada vem se acentuando nos últimos cinco anos”, afirma Fábio Pereira de Sousa, subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação Educacional do órgão.
“A rede pública tem melhorado o índice de concluintes, e a expectativa é que a quantidade de alunos nas escolas públicas venha a reduzir justamente por causa disso”, diz o subsecretário.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particulares do DF (Sinepe), Álvaro Moreira Domingues, por sua vez, rechaça um cenário de possível migração de alunos da rede privada para as escolas públicas. Por isso, descarta haja qualquer redução significativa em 2016.
“Os dados confirmam o contrário, pois os números mostram que, pelo menos na última década, o que houve foi um crescimento entre 5% e 8% ao ano. Há seis anos, a privada tinha 150 mil alunos na educação básica; hoje, são 196 mil. Portanto, acho difícil que esse processo seja revertido", afirma o presidente do Sinepe.
De acordo com Domingues, um contexto de queda nesse sentido seria confirmado apenas diante de uma crise aguda na economia, o que ele descarta hoje.
Para Luis Claudio Megiorin, presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa), caso o País mergulhe, de fato, em uma recessão, tal migração ocorrerá paulatinamente.
“Pode ser que, em um primeiro momento, não haja um prejuízo impactante na rede privada. Mas uma meia dúzia de escolas que não fazem parte do grupo dos grandes empresários não vai durar muito tempo, principalmente considerando um cenário macro”, avalia Megiorin, que, por outro lado, prevê um crescimento em torno de 2% na inadimplência.
Mais 45 mil alunos na rede pública
Hoje, 470 mil estudantes estão matriculados nas 696 escolas públicas do DF. Para 2016, a Secretaria de Educação espera cerca de 45 mil novos alunos. Embora o Censo Escolar do Ministério da Educação de 2013 aponte que a rede pública perdeu 10,5 mil alunos naquele ano, Fábio Sousa, subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação Educacional, diz que isso é natural, pois são estudantes que concluíram o Ensino Médio. As escolas particulares ganharam cerca de 17 mil estudantes à época.
Famílias vão em busca de vaga
Diante da alta prevista nas mensalidades das escolas particulares, a universitária Grace Tavares, de 30 anos, não encontrou solução a não ser lutar por uma vaga na rede pública para o filho Cauã, de seis anos.
Desempregada desde junho último, ela se diz sem condições de bancar nem mesmo os atuais R$ 250 mensais de despesas escolares do filho, aluno da 1ª série do Ensino Fundamental. “Estou tentando matriculá-lo em alguma escola do Distrito Federal. Moro no Entorno, mas vou aproveitar que faço faculdade no DF para levá-lo comigo”, conta Grace.
Impacto
Já a bancária Fernanda Bolzan, 34 anos, não descartaria matricular o filho Pedro Bolzan, de três anos, em uma creche pública de qualidade. Preocupada com o reajuste de 15% a ser praticado em 2016 na instituição em que Pedro está hoje, ela diz, no entanto, que o impacto será muito pesado, uma vez que os R$ 900 que paga por mês ficarão muito mais pesados.
“Eu e o meu marido estamos analisando o que fazer. Ele, que é servidor do Governo do Distrito Federal, teve o salário reduzido em 20%. Adoramos a estrutura da creche do nosso filho, mas vamos tentar a melhor saída”, diz Fernanda Bolzan.
Especialista diz que é preciso pesquisar
Pesquisar dever ser a palavra de ordem para os pais que desejam manter os filhos na escola particular sem pagar por mensalidades tão caras, avalia o economista Cesar Bergo, professor da Universidade de Brasília (UnB).
"Vale a pena verificar quais são as instituições privadas que oferecem algum tipo de desconto e bolsas. Há muitas escolas novas, por exemplo, que oferecem mensalidades mais atrativas e têm a qualidade nem tão baixa assim, visto que estão interessadas em se firmar no mercado", afirma Bergo.
Considerações
Ao fazer esse levantamento, porém, um aspecto importante deve ser considerado, segundo o economista. "Essa pesquisa tem que ser feita com pais de outros alunos que tenham vivenciado essa experiência, e não procurar diretamente as escolas, onde o script é sempre o mesmo, e a bolsa oferecida não corresponde à realidade, sendo apenas uma estratégia de marketing", explica o especialista.
No caso de pais que têm mais de um filho, os descontos podem ser ainda mais interessantes. "Em uma situação em que a mensalidade vai pesar no orçamento de casa, é importante tirar da cabeça do filho a questão da escola de grife. É preciso deixar claro que ele vai estudar onde é possível pagar", afirma o professor da UnB.
Mudanças e adaptações
Especialista em Educação e doutor em Psicologia Educacional, Afonso Galvão afirma que tantos os pais quantos os filhos podem sentir o impacto proporcionado pela mudança de ambiente escolar na rotina.
Segundo o especialista, essa reação se dá, sobretudo, pela superioridade culturalmente atribuída às instituições privadas, máxima estruturada nas desigualdades sociais. “A tradição da classe média é educar os filhos na escola particular. E, no caso de uma mudança assim, a adaptação não costuma ser fácil”, diz.
Estrutura deficitária
Conforme Galvão, a inferioridade conferida às escolas públicas ocorre essencialmente por causa da estrutura deficitária na rede ao longo de anos.
“A escola pública entra em greve todo ano, e a particular, não. A escola pública tem problemas em suas instalações, banheiros sujos e quebrados, fiação exposta, ou seja, carece de organização em seu ambiente. Mas nem tanto pelos professores, muitos deles melhores qualificados dos que os das instituições privadas”, argumenta o especialista.
Para Galvão, entretanto, a transição de um aluno que estudou na rede privada durante a educação infantil e o Ensino Fundamental tende a ser mais tranquila. “Por causa do nível de disciplina e aprendizado nesse período, esses alunos chegam à escola pública com a visão de que tudo ali é mais fácil”, afirma.
Prazos
A matrícula de novos estudantes na rede pública segue até 23 de outubro, por meio do número 156.
É preciso informar nome completo, data de nascimento, nome do responsável e CEP da residência ou do trabalho do responsável.
Não é possível escolher a unidade escolar, já que as crianças e os adolescentes são alocados de acordo com o CEP informado.
Quem estuda na rede particular e quer ingressar na rede pública em 2016 pode fazer o registro pelo site
www.se.df.gov.br.
Estudantes com deficiência têm até 20 de outubro para fazer a inscrição. É preciso ir à Gerência de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação Educacional nas coordenações regionais de ensino e apresentar relatórios médicos e documentos pessoais e escolares do estudante, além de documentos do responsável de onde deseja pleitear a vaga.
Novos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (no Ensino Fundamental, para alunos a partir de 16 anos; no Ensino Médio, para alunos a partir de 18) devem se inscrever de 24 a 31 de outubro. Nesse caso, é possível informar a escola em que o candidato deseja estudar.
Alunos que estudaram na rede pública devem fazer a renovação de matrícula nas secretarias das unidades escolares até 16 de outubro. O remanejamento de estudantes com deficiência acontece no mesmo período.