Novo documento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo revela que a
Tarumã Empreendimentos Imobiliários Ltda., a “empresa relâmpago” do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), distribuiu R$ 200 mil
de lucro para Maria Verônica Calheiros, mulher do senador, apenas quatro
meses após a artista plástica injetar R$ 290 mil em seu capital. Um
lucro de 69% - na época, a taxa básica de juros era de 12,5% ao ano.
Sem nenhuma operação registrada, a Tarumã encerrou suas atividades em
16 de novembro de 2011, nove meses após ser registrada na Junta
Comercial do Distrito Federal. Com o fim da Tarumã, Verônica recebeu R$
498.284 em lucro e na restituição do investimento. Dois filhos do casal,
Rodolfo e Rodrigo, também sócios na empresa, receberam R$ 833 cada.
Considerado alto por especialistas em lavagem de dinheiro, o lucro
líquido obtido em tão pouco tempo coloca sob suspeita as operações
financeiras e contábeis da empresa - que, em menos de um ano, movimentou
ao menos R$ 500 mil. Aberta depois das eleições de 2010, a Tarumã teria
funcionado em uma sala no Lago Sul de Brasília.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, está desde a semana
passada mergulhado na análise das atividades da empresa. Às vésperas da
eleição para o Senado, Gurgel denunciou Renan Calheiros ao Supremo
Tribunal Federal (STF) por peculato, falsidade ideológica e uso de
documentos falsos.
O inquérito está, atualmente, no gabinete do ministro Ricardo
Lewandowski. Renan, que prega a transparência desde que assumiu a Casa
pela segunda vez, se nega a esclarecer as atividades da Tarumã, alegando
sempre se tratar de atividade privada.
O contrato social da empresa registrado na Junta Comercial do
Distrito Federal prevê a exploração de empreendimentos imobiliários,
como locação, compra e venda de imóveis próprios e participações
societárias. No entanto, não foram localizados imóveis ou corretores
registrados em nome da empresa ou de nenhum de seus sócios.
A empresa foi registrada em 22 de fevereiro de 2011 em nome do
senador e de seus dois filhos. Cinco meses após a constituição, Renan
deixou a sociedade e deu lugar à esposa, que turbinou o capital da
empresa de R$ 10 mil para R$ 300 mil.
Sem renda fixa e casada em comunhão parcial de bens, Verônica
Calheiros integralizou em “moeda corrente” o valor de R$ 290 mil no
capital da empresa em 21 de julho de 2011. Quatro meses mais tarde, a
Tarumã encerrou suas atividades. A extinção foi registrada na Junta
Comercial do Distrito Federal em 16 de novembro de 2011.
A última declaração de bens pública apresentada pelo senador informa
que ele tem um patrimônio de R$ 2,1 milhões. Na declaração ele menciona
um apartamento em Maceió, uma casa em Barra de São Miguel e R$ 3 mil em
contas bancárias.
A operação foi assistida por Bruno Mendes, advogado e assessor
comissionado de Renan no Senado. Mendes tornou-se figura conhecida em
2007, depois de aparecer associado ao escândalo de empreiteiras que, a
pedido do parlamentar, bancavam despesas da jornalista Mônica Veloso,
com quem Renan tem uma filha. Bruno se negou a esclarecer as atividades
da Tarumã.
Evolução de renda
Nas investigações feitas pelo Conselho de Ética do Senado, laudos da
Polícia Federal e dados da Receita Federal atestavam a incapacidade
financeira do senador e de seus familiares diante da evolução
patrimonial registrada nas declarações de imposto de renda. Os sinais,
segundos os investigadores, eram de patrimônio descoberto. As contas
sugeriam que, com os recursos que alegava possuir, o senador não teria
como pagar despesas pessoais e mais os valores repassados à jornalista
Mônica Veloso.
Em nota divulgada no dia 12 de março, após a publicação da reportagem
pelo Estado, o presidente do Senado informou que “todos os aspectos
fiscais e empresarias dos contribuintes Renan, sua esposa e seus filhos
estão devidamente registrados perante os órgãos oficiais de controle.”
Sobre a denúncia do procurador-geral da República, o presidente do
Senado afirma ser o maior interessado no “desenlace” da questão. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.