22/04/2013
- Bola está vestido com o uniforme vermelho da Subsecretaraia de
Administração Prisional (Suapi). Na gola do moleton, ele carrega óculos
de grau. (Foto: Maurício Vieira/G1)
O segundo dia de julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos,
o Bola, deve ser retomado às 9h desta terça-feira (23). Segundo o
Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), os trabalhos devem começar
com o depoimento da testemunha de acusação Jailson Alves de Oliveira.
A primeira pessoa a ser ouvida no plenário do júri foi a delegada Ana
Maria Santos - que participou das investigações do caso. Segundo a
assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), a policial
falou como informante. Ela havia sido arrolada como testemunha de defesa
e de acusação, porém, Ana Maria pediu que fosse ouvida apenas como
informante e a solicitação foi deferida pela juíza, conforme o TJMG
Primeiro dia
A juíza Marixa Fabiane Lopes encerrou a sessão desta segunda-feira (22)
por volata das 22h30 no primeiro dia de julgamento do ex-policial
Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar e ocultar o
cadáver de Eliza Samudio – ex-amante do goleiro Bruno Fernandes – após o
depoimento da Delegada Ana Maria Santos. A policial falou no Fórum de
Contagem
por cerca de seis horas como informante a pedido da defesa. Ela
participou das investigações do caso na época do inquérito policial.
Ana Maria afirmou que Jorge Luiz Rosa – primo do goleiro Bruno
Fernandes, e adolescente na época do crime – disse em um dos depoimentos
que o executor de Eliza seria branco, "patolinha", com falhas nos
dentes e responderia pelo apelido de Neném. Segundo a delegada por
medo, Jorge deu outra descrição do executor de Eliza quando ouvido no
Rio de Janeiro, dizendo que era pessoa "alta e negra". "Ele disse que o
fizera porque estava com medo", relatou a delegada. O medo, conforme
ela, era do executor de Eliza.
Segundo a delegada, os olhos do primo de Bruno ficavam lacrimejando
durante o depoimento. "Não raras vezes, conteve o choro ao falar do
momento da execução", disse. Ela ainda afirmou que Jorge estava
tranquilo e lucido no depoimento. "Eu reafirmo, ele [Jorge] me
transmitiu muita credibilidade, ele foi bastante detalhista”. Jorge foi
ouvido pela primeira vez no Rio de Janeiro e depois em Contagem, ambas
na época em que o crime foi descoberto e começou a ser investigado. O
primo de Bruno foi o primeiro a falar que Eliza Samudio estava morta.
O depoimento da policial também foi marcado por questionamentos de um
dos advogados de Bola, Ércio Quaresma, sobre a investigação policial e o
trabalho da Polícia Civil. Como o não indiciamento do policial civil
aposentado José Lauriano de Assis Filho, também conhecido como Zezé, e
investigado pelo Ministério Público por participação no crime. Ana Maria
afirmou que os elementos não eram suficientes para indiciar Zezé. "Isso
aqui foi fraude, nós vamos provar", diz o advogado segurando o
relatório do inquérito.
Vários objetos apreendidos durante a investigação foram expostos no
plenário: algo parecido com um tapete, um travesseiro, facas, embalagens
de produtos de higiene infantil, cheques e cartões em nome de Luiz
Henrique Romão. Havia também notebooks e um envelope fechado onde estava
escrito a palavra cabelo. Até mesmo uma arma foi mostrada. Segundo o
assistente de acusação, José Arteiro, a arma e outros objetos mostrados
durante o júri ficam guardados no cartório e foram expostos a pedido da
defesa.
A sessão desta segunda-feira (22) durou cerca de 13 horas. Os trabalhos
começaram durante a manhã, onde foram ouvidas as preliminares da defesa
de Marcos Aparecido dos Santos e da promotoria. Após um intervalo para
almoço, o Conselho de Sentença foi definido: quatro homens e três
mulheres julgarão o ex-policial pelos crimes de assassinato e ocultação
de cadáver de
Eliza Samudio, ex-amante do goleiro
Bruno Fernandes – já condenado pelos crimes.
Antes disso, a juíza Marixa Fabiane indeferiu pedidos da defesa para
desconsiderar a certidão de óbito de Eliza Samudio e de adiamento do
julgamento pela ausência de duas testemunhas: a delegada Alessandra
Wilke e de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno.
Os três filhos e a mulher de Bola acompanham a sessão no Tribunal do
Júri de Contagem. O réu aguarda em um cela no fórum e ainda não foi
chamado pela juíza Marixa Fabiane Rodrigues, que preside o júri.
O início dos trabalhos também foi marcado pela ausência de uma
testemunha, José Cleves, que precisou ser localizada por um oficial de
Justiça. A juíza determinou que ele fosse buscado em casa e considerou a
falta como "um absurdo". O depoimento das testemunhas deve ser iniciado
na tarde desta segunda-feira (22).
Júri
Sete jurados decidirão o destino do réu no Fórum de Contagem, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte (MG), no júri presidido pela juíza
Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. A previsão é que o julgamento dure três
dias, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Bola está
preso desde 2010, acusado de ser o executor da jovem. Uma propriedade
dele, em Vespasiano (MG), foi um dos locais vaculhados pela policia.
Bola seria julgado em novembro do ano passado, porém, no primeiro dia
do júri, seus advogados abandonaram o plenário e ele se negou a ser
representado por um defensor público. Depois disso, teve seu julgamento
desmembrado.
O ex-policial ainda responde pelo desaparecimento, tortura e morte de
duas pessoas, em Esmeraldas (MG), em 2008, e pelo assassinato de um
homem em 2009, em Belo Horizonte. Em novembro de 2012, ele foi
absolvido, da acusação de ter assassinado um carcereiro no ano 2000, em
Contagem.
Segundo o Ministério Público, nove acusados, sob ordens de Bruno,
participaram do sequestro e desaparecimento de Eliza Samudio, entre eles
o
amigo Macarrão e uma ex-namorada do goleiro, ambos condenados em novembro.
A acusação contra uma pessoa foi arquivada. Para a Promotoria, o
jogador, que atuava no Flamengo, arquitetou o crime para não ter de
reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia.
Conheça todos os réus.
No dia 8 de março, o goleiro
Bruno Fernandes foi condenado
a 22 anos e 3 meses de prisão em regime inicialmente fechado por
homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de
recurso que dificultou a defesa da vítima), sequestro e cárcere privado e
ocultação de cadáver. A pena foi aumentada porque o goleiro foi
considerado o mandante do crime, e reduzida pela confissão do jogador.
Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um
sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere
privado. Depois, foi entregue para o ex-policial Bola, que a asfixiou e
desapareceu com o corpo.
O bebê Bruninho, filho de Eliza e de Bruno, que foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje
vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
Além do ex-policial, dois réus ainda vão ser julgados separadamente. No
dia 15 de maio, vão a júri Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques
de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno,
foi morto a tiros em agosto. Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro, foi absolvida durante o julgamento em março.
Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a
presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de
dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e
multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até
Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais
relata o medo que sentia.
Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava
grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda
deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse
proteção.
Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos
devem ser usados pela acusação no júri. Um deles, Jorge Luiz Rosa,
adolescente à época, já cumpriu medida socioeducativa por atos análogos a
homicídio e sequestro. Ele foi o primeiro a delatar o goleiro,
confessando ter ajudado Bruno a levar Eliza ao sítio. O jovem contou que
a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois,
negou tudo.
O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao
'Fantástico' neste ano. Ele disse que não tinha como Bruno não saber que
Eliza seria morta.
O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime,
mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano. Ele também chegou a
desmentir as acusações contra o goleiro, mas, em uma carta enviada por
ele aos pais, incluída no inquérito, relatou ter sofrido ameaça de
outros advogados para alterar o depoimento. À época, o advogado de
Bruno, Francisco Simim, negou qualquer pressão.
http://g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/noticia/2013/04/2-dia-de-juri-de-bola-deve-comecar-com-depoimento-de-testemunha.html