Policial
caminha em frente a ônibus queimado por black blocs durante protesto no
Rio. A manifestação é para exigir mudanças no sistema de ensino público
estadual e municipal. (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Um grande protesto realizado no Centro do Rio, das 17h às 20h desta
segunda-feira (7), começou com uma passeata pacífica que reuniu milhares
de pessoas — 10 mil, segundo a Polícia Militar, e 50 mil, de acordo com
o sindicato de professores. Entre as reivindicações,
melhores salários para os docentes (entenda).
Às 20h30, no entanto, começou mais uma noite repleta de cenas de
vandalismo, causada por uma minoria de ativistas mascarados, após o fim
do protesto em apoio aos profissionais da educação, em greve desde 8 de
agosto.
Desta vez, um grupo com cerca de 200 jovens pichou, quebrou janelas e
tentou invadir e incendiar o Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara
Municipal, na Cinelândia, dando início a uma série de vandalismos. Até
então, poucos policiais tinham sido vistos nos arredores do protesto. Um
agente que não quis se identificar confidenciou: "Recebemos ordem para
não fazer nada. Ficamos entrincheirados no QG [quartel-general] e, pela
primeira vez, começamos a trabalhar depois que fomos atacados", disse ao
G1.
Um preso
Pelo menos 15 manifestantes foram detidos e levados para a 5ª DP (Mem
de Sá). Um deles era menor de idade. Eles foram revistados e liberados
porque nada que pudesse configurar o flagrante foi encontrado. Na mesma
delegacia, um homem que se aproveitou do tumulto foi preso após ser
achado com quatro aparelhos de televisão e pares de chinelo, em um ponto
de ônibus próximo à Central do Brasil. A polícia investiga se ele
furtou os produtos durante a confusão. Em depoimento, o preso negou o
crime e disse que apenas recebeu o material. Ele foi autuado por
receptação e, segundo a polícia, tem cinco passagens por furto na mesma
região.
De acordo com advogados do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos
(DDH), outras duas delegacias receberam ativistas detidos. Um foi levado
à 12ª DP (Copacabana), e outros três foram conduzidos à 17ª DP (São
Cristóvão).
A violência dos ativistas dispersou o ato por volta das 20h30. Até
então, seguia sem conflitos, apenas com palavras e faixas contra a
política educacional do estado, em apoio à greve e contrário ao plano de
cargos e salários aprovados pelos vereadores (
entenda o impasse).
As avenidas Presidente Vargas, onde a passeata começou, e Rio Branco,
por onde seguiu até a Cinelândia, tiveram trechos interditados durante a
noite, atrapalhando o trânsito.
Professores usaram 'escudos' de cartolina contra a violência policial (Foto: Christophe Simon/AFP)
A depredação chegou também ao Theatro Municipal, outro prédio
centenário do Centro, ao lado da Câmara. Na sede do Legislativo, segundo
a assessoria de imprensa da casa, agentes do grupamento especial da
Guarda Municipal e o efetivo da Coordenadoria Militar conseguiram
impedir a invasão. Os vândalos jogaram galões de gasolina e bombas
caseiras pelas janelas, na tentativa de incendiar o prédio. A parte
externa foi pichada com palavras contra o prefeito Eduardo Paes e o
governador Sérgio Cabral.
Dispersos, os mascarados seguiram quebrando bancos, placas, pontos de
ônibus e fazendo fogueiras com lixo e entulho por ruas do Centro, Glória
e Lapa. Um ônibus foi incendiado próximo ao Cine Odeon, ainda na
Cinelândia. Bombeiros controlaram o fogo. Ninguém ficou ferido. Outro
coletivo, desta vez perto dos Arcos da Lapa, foi depredado. Segundo a
Rio Ônibus, foram mais de dez veículos quebrados.
Câmara sem expediente nesta terça
Devido à depredação, a administração da Câmara Municipal informou que
não haverá expediente nesta terça-feira (8). O prédio ficará fechado
para a realização de perícia policial. "Apesar do incidente, a Câmara do
Rio reforça que respeita os professores municipais e que estará sempre
aberta ao diálogo democrático. Reconhece também que é legítimo o ato
público promovido pela categoria e está ciente de que vândalos e
baderneiros se infiltraram no movimento com claro propósito de destruir a
sede do Legislativo Municipal".
TJ mantém decisão pelo fim da greve
O Tribunal de Justiça do Rio negou nesta segunda o recurso do Sindicato
Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) contra a liminar que
obriga os professores da rede municipal a voltar ao trabalho, sob multa
de R$ 200 mil por dia. A decisão autoriza a prefeitura a cortar o ponto
dos docentes a partir do dia 3 de setembro.
O Sepe disse que ainda vai se reunir com o advogado do sindicato para
planejar os próximos passos. A coordenadora geral do Sepe, Marta Moraes,
esclareceu que o sindicato não havia sido convocado pela prefeitura,
até as 20h, para uma reunião no Palácio da Cidade nesta terça-feira (8),
como informou o governo municipal. O encontro contará com a presença de
diretores, pais de alunos e até professores em greve, mas que não fazem
parte do Sepe.
Em greve desde o dia 8 de agosto, profissionais da rede estadual de
educação fazem às 14h, no Clube Municipal, nova assembleia da categoria,
para decidir os rumos da mobilização.
Plano de cargos de professores
Um grupo de vereadores da oposição esteve nesta segunda com a juíza da
5ª Vara de Fazenda Pública, Roseli Nalin, para conversar sobre a decisão
da Justiça que poderia suspender em caráter liminar a votação do plano
de cargos e salários aprovado no último dia 1º. Segundo os vereadores, a
juíza informou que vai solicitar outras informações para a Câmara sobre
os fatos ocorridos no dia da votação e a decisão deve sair até quarta
(9).
Ela quer saber se havia condições para a realização de uma sessão
apesar do tumulto nos arredores. Os vereadores entraram com ação na
Justiça, no dia seguinte da votação do plano de cargos e salários, na
Câmara dos Vereadores. No dia 1º de outubro, houve confronto policial
com manifestantes na porta da Câmara enquanto os vereadores participavam
da votação no plenário da casa.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/10/apos-ato-pacifico-de-professores-no-rio-grupo-tenta-incendiar-camara.html