Mais de 800 mil pessoas se suicidam por ano e 75% delas são de países
de baixa renda, aponta o primeiro relatório sobre o tema elaborado pela
OMS (Organização Mundial da Saúde). O estudo apresentado nesta
quarta-feira (3) mostra que, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata no
mundo, mas que o número daquelas que não obtém sucesso na tentativa
ainda é superior.
Por conta desta situação, a OMS considera o caso "um grande problema de
saúde pública" que, infelizmente, não é tratado da forma correta e diz
que "aumentar a consciência social e acabar com o tabu é uma das chaves
para que alguns países façam progressos na luta contra o suicídio", como
informa o relatório.
O relatório mostra que apenas 28 países contam com um plano estratégico
para prevenir o suicídio de sua população, e outros 60 recopilam dados
de suicídios consolidados. A organização aponta o estigma e o tabu em
torno do suicídio como causa principal para que familiares e o governo
não tratem a causa de forma aberta e efetiva, já que em alguns países
essa restrição ocorre porque o ato do suicídio é ilegal.
Geralmente, os homens se matam mais do que as mulheres, e em países com
maior capital financeiro, essa margem triplica. Já nos desenvolvidos,
esta prática está relacionada com desordens mentais, provocadas
especialmente pelo abuso de álcool e depressão. No entanto, a maioria
dos casos acontece em países de baixa e média renda e tem como principal
causa a pressão e o estresse ocasionados por problemas socioeconômicos.
Além disso, muitos casos são provenientes de conflitos, desastres
naturais, violência física e mental, abuso, isolamento e até mesmo por
discriminação. Em relação à prática do ato, 30% dos suicídios ocorrem
por envenenamento, enforcamento ou uso de armas de fogo.
A depressão ainda é uma doença estigmatizada que envolve muitos mitos e
tabus. De acordo com o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente
da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), os pacientes têm
preconceito e medo de serem tachados de loucos ou doentes mentais, por
isso demoram a procurar ajuda médica e, consequentemente, aderir ao
tratamento.
— Esta demora pode acarretar na cronificação do quadro, o que dificulta
a remissão da doença. Por isso, o primeiro passo é vencer o medo do
diagnóstico.
Com depressão e transtorno bipolar, PC Siqueira desabafa: "muito ruim viver assim"
Ultrapassada a primeira barreira, o segundo passo é avaliar o estágio
da depressão. Segundo o psiquiatra Kalil Duailibi, coordenador do
departamento de psiquiatria da Unisa (Universidade de Santo Amaro), nem
todo diagnóstico exige uso de medicação.
— No caso de uma depressão leve, a orientação é fazer psicoterapia,
mudar hábitos e praticar atividade física, de preferência aeróbia,
quatro vezes por semana. O uso de antidepressivo geralmente é prescrito
em quadros moderado e grave.
O especialista acrescenta que “os remédios não causam dependência e podem ser administrados com segurança por muito tempo”.
— O tempo de uso pode variar de meses a anos e somente 10% das pessoas
que sofrem de depressão vão precisar manter o tratamento para o resto da
vida.
"Passei quase um mês trancada em casa chorando e dormindo", diz estudante que sofre de depressão
Segundo o presidente da ABP, a interrupção do antidepressivo nunca deve
ser feita de forma abrupta. A orientação é diminuir as doses de forma
lenta e gradativa, com orientação médica, para evitar recaídas. Kalil
acrescenta que “estar se sentindo bem não significa deixar o remédio de
lado”.
— Isso é um erro. A meta do tratamento da depressão é contribuir para
que a pessoa volte a ter uma vida normal, ou seja, sinta prazer nas
atividades habitualmente agradáveis e seja reintegrada em todas as
esferas de sua vida: social, afetiva e profissional.
Segundo dados da ABP, mais de 80% das pessoas com depressão podem melhorar se receberem o tratamento correto.
Abandono do tratamento
De fato, o medicamento pode levar até 15 dias para começar a ter boa
ação antidepressiva. No entanto, os efeitos colaterais são imediatos, o
que dificulta bastante a adesão ao tratamento e faz com que o paciente
queira abandoná-lo precocemente, conforme explica Kalil.
— A maioria dos pacientes interrompe o tratamento duas a três vezes até
perceber que ficam mais vulneráveis a ter novas crises. A partir daí,
costumam seguir as orientações médicas.
Entre os efeitos desagradáveis, o médico cita boca seca, prisão de
ventre, visão turva, diminuição da libido, insônia e ganho de peso. Mas,
para Geraldo, estes não são motivos suficientes para suspender a
medicação.
— Apesar das desvantagens dos efeitos colaterais, a medicação promove
uma melhora significativa da depressão. Além disso, temos muitas classes
de medicamentos, que conseguem atender cada perfil de paciente.
O presidente da ABP alerta que pessoas que já tiveram um quadro de
depressão têm 50% de chance de ter outro. Para quem já teve dois
episódios, o risco aumenta para 70% e, para quem teve três, sobe para
mais de 90%.
Depressão é uma doença feminina
A depressão pode ocorrer em qualquer ciclo da vida, mas como o sexo
feminino passa por vários processos hormonais, as mulheres estão mais
vulneráveis para a depressão, alerta Kalil.
— Entre 12 e 55 anos a depressão afeta quatro mulheres para cada homem,
enquanto na infância e terceira idade a proporção é mais equilibrada,
de uma mulher para cada homem.
A ex-BBB Fani Pacheco, de 30 anos, faz parte desta estatística. Em
entrevistas a jornais e revistas, Fani já assumiu ter depressão desde os
22 anos e garantiu que ficar sem medicamento a faz se sentir
desmotivada e sem vontade de fazer nada.
Segundo Geraldo, a depressão não é tristeza, mas pode vir acompanhada
deste sentimento, assim como melancolia, desânimo, falta de interesse
por qualquer atividade, alterações do sono e do apetite, pensamentos
negativos, desesperança e desamparo.
— A depressão tira as forças da pessoa, mas com o tratamento adequado este quadro pode ser revertido.
http://noticias.r7.com/saude/estudo-afirma-que-a-cada-40-segundos-uma-pessoa-se-suicida-no-mundo-04092014