- Maior descoberta no pré-sal da Bacia de Campos foi capitaneada pela hispano-chinesa RepsolSinopec
- Analistas veem com bons olhos maior competição, mas alertam para aumento da dependência das exportações em relação à China
RIO - Com a estreia das estatais China National Petroleum Corporation
(CNPC) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) no setor de
petróleo e gás brasileiro — as duas integram o consórcio vencedor do
leilão de Libra, realizado na última segunda-feira — os chineses dão
mais um largo passo sobre o pré-sal brasileiro. Com Libra, sobe para
três o número de blocos em que estatais chinesas atuam no pré-sal.
Incluindo o pós-sal, elas são sócias de 12 blocos. E ainda pretendem
entrar no segmento de refino.
O movimento é visto por alguns como
uma bem-vinda parceria, já que aumenta a concorrência no setor
petrolífero, desafogando a Petrobras — que está sob forte estresse
financeiro. Mas é avaliado por outros como um risco para as contas
externas nacionais, já que a maior presença chinesa no setor deve elevar
as exportações de petróleo para o país asiático, acentuando a
dependência da economia brasileira em relação à China, principal destino
de nossas exportações.
São
quatro os tentáculos chineses que avançam sobre o petróleo brasileiro.
Além da CNPC e da CNOOC, as estatais Sinopec e Sinochem também tem
negócios no Brasil. Embora originalmente focadas na indústria
petroquímica e química, elas diversificaram sua atividade na última
década, ingressando na produção de petróleo, dentro da estratégia do
governo chinês de assegurar o suprimento de matérias-primas para seu
desenvolvimento econômico. No Brasil, a Sinopec se associou à espanhola
Repsol em 2010, criando a RepsolSinopec, que atua em nove blocos. A
Sinochem se tornou sócia da norueguesa Statoil no mesmo ano em dois
outros blocos.
— A vinda de mais empresas chinesas é positiva,
pois aumenta a competição no setor. É melhor diversificar os atores do
que concentrar os investimentos nas mãos de poucos dado o enorme desafio
que é o pré-sal brasileiro e situação financeira da Petrobras (cujo
nível de endividamente está no limite) — avalia Walter De Vitto,
analista de petróleo da consultoria Tendências.
No pré-sal, a
RepsolSinopec já atua em dois blocos, concedidos quando ainda não se
tinha comprovação de petróleo abaixo da camada de sal. No BMC-33, a
empresa já perfurou três poços, com reserva estimada em 1,2 bilhão de
barris de óleo equivalente (boe, que inclui óleo e gás), considerada a
maior descoberta do pré-sal da Bacia de Campos. Mês que vem, a companhia
deve iniciar a segunda fase da campanha exploratória, perfurando mais
poços. Ainda não há previsão de produção, mas segundo a empresa, o
primeiro óleo não deve brotar antes de 2018. A RepsolSinopec tem 35% do
bloco (é operadora do consórcio), a Statoil tem outros 35% e a
Petrobras, 30%.
Campos em produção estão entre 20 maiores do país
Outro
bloco no pré-sal em que a empresa atua é o BM-S-9, na Bacia de Santos,
no qual a Petrobras e a britânica BG também são sócias. Neste, há duas
áreas promissoras: Sapinhoá e Carioca. A produção em Sapinhoá foi
iniciada em janeiro deste ano, com uma plataforma com capacidade para
120 mil barris de petróleo diários. A segunda plataforma deve entrar em
produção no segundo semestre de 2014, com capacidade de 150 mil
barris/dia. Carioca deve entrar em produção em 2015.
O portfólio
da empresa inclui ainda o campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos,
um dos 20 maiores em produção no país e no qual é sócia da Petrobras, e
outros seis blocos exploratórios. A Sinopec também negocia com a
Petrobras uma sociedade em uma refinaria no Maranhão, parceria que pode
ser estendida a mais uma unidade no Ceará. Já a Sinochem tem atuação
mais tímida, com 40% do campo de Peregrino, situado em dois blocos na
Bacia de Campos. Com produção de cerca de 100 mil barris de petróleo por
dia, ele também está na lista dos 20 maiores do país.
Se a
parceria da Sinopec com a Petrobras vingar, será mais um passo para
estreitar a aliança entre as duas empresas. Foi a Sinopec que inaugurou a
onda de investimentos de companhias estatais chinesas no setor de
petróleo brasileiro, com a construção do Gasoduto Sudeste Nordeste
(Gasene), em 2004. O negócio foi fechado no âmbito da estratégia do
então presidente Lula de fortalecer a cooperação Sul-Sul, um
desdobramento dos projetos conjuntos de ciência e tecnologia formados na
década anterior. Desde então, os laços comerciais entre os países não
param de crescer. Em 2009, a China se tornou o principal parceiro
comercial do Brasil, posto que ocupa até hoje.
— É natural que o
Brasil passe a exportar mais petróleo para a China, de forma a
aproveitar a demanda asiática e se beneficiar da estratégia chinesa de
diversificação de fontes energéticas. Ao mesmo tempo, é importante
evitar o vício das exportações dos commodities, cujos preços podem
oscilar violentamente, tornando a economia como um todo vulnerável. A
melhor forma de lidar com essa assimetria é fazer o dever de casa:
reformas no âmbito doméstico para agilizar e equilibrar a economia
brasileira, fomentando não apenas a agriculturade exportação, mas também
indústria e serviços — diz Adriana Erthal Abdenur, professora do
Instituto de Relações Internacinais da PUC-Rio e coordenadora geral do
BRICS Policy Center.