terça-feira, 29 de outubro de 2013

Estatais chinesas avançam sobre pré-sal brasileiro e já são sócias de 12 blocos no setor de petróleo

 

  • Maior descoberta no pré-sal da Bacia de Campos foi capitaneada pela hispano-chinesa RepsolSinopec
  • Analistas veem com bons olhos maior competição, mas alertam para aumento da dependência das exportações em relação à China
 
Navio da Petrobrás em adaptação para operar no pré-sal Foto: Genilson Araújo / Agência O Globo
Navio da Petrobrás em adaptação para operar no pré-sal Genilson Araújo / Agência O Globo
RIO - Com a estreia das estatais China National Petroleum Corporation (CNPC) e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) no setor de petróleo e gás brasileiro — as duas integram o consórcio vencedor do leilão de Libra, realizado na última segunda-feira — os chineses dão mais um largo passo sobre o pré-sal brasileiro. Com Libra, sobe para três o número de blocos em que estatais chinesas atuam no pré-sal. Incluindo o pós-sal, elas são sócias de 12 blocos. E ainda pretendem entrar no segmento de refino.
 
O movimento é visto por alguns como uma bem-vinda parceria, já que aumenta a concorrência no setor petrolífero, desafogando a Petrobras — que está sob forte estresse financeiro. Mas é avaliado por outros como um risco para as contas externas nacionais, já que a maior presença chinesa no setor deve elevar as exportações de petróleo para o país asiático, acentuando a dependência da economia brasileira em relação à China, principal destino de nossas exportações.
 
São quatro os tentáculos chineses que avançam sobre o petróleo brasileiro. Além da CNPC e da CNOOC, as estatais Sinopec e Sinochem também tem negócios no Brasil. Embora originalmente focadas na indústria petroquímica e química, elas diversificaram sua atividade na última década, ingressando na produção de petróleo, dentro da estratégia do governo chinês de assegurar o suprimento de matérias-primas para seu desenvolvimento econômico. No Brasil, a Sinopec se associou à espanhola Repsol em 2010, criando a RepsolSinopec, que atua em nove blocos. A Sinochem se tornou sócia da norueguesa Statoil no mesmo ano em dois outros blocos.
 
— A vinda de mais empresas chinesas é positiva, pois aumenta a competição no setor. É melhor diversificar os atores do que concentrar os investimentos nas mãos de poucos dado o enorme desafio que é o pré-sal brasileiro e situação financeira da Petrobras (cujo nível de endividamente está no limite) — avalia Walter De Vitto, analista de petróleo da consultoria Tendências.
 
No pré-sal, a RepsolSinopec já atua em dois blocos, concedidos quando ainda não se tinha comprovação de petróleo abaixo da camada de sal. No BMC-33, a empresa já perfurou três poços, com reserva estimada em 1,2 bilhão de barris de óleo equivalente (boe, que inclui óleo e gás), considerada a maior descoberta do pré-sal da Bacia de Campos. Mês que vem, a companhia deve iniciar a segunda fase da campanha exploratória, perfurando mais poços. Ainda não há previsão de produção, mas segundo a empresa, o primeiro óleo não deve brotar antes de 2018. A RepsolSinopec tem 35% do bloco (é operadora do consórcio), a Statoil tem outros 35% e a Petrobras, 30%.
 
Campos em produção estão entre 20 maiores do país
Outro bloco no pré-sal em que a empresa atua é o BM-S-9, na Bacia de Santos, no qual a Petrobras e a britânica BG também são sócias. Neste, há duas áreas promissoras: Sapinhoá e Carioca. A produção em Sapinhoá foi iniciada em janeiro deste ano, com uma plataforma com capacidade para 120 mil barris de petróleo diários. A segunda plataforma deve entrar em produção no segundo semestre de 2014, com capacidade de 150 mil barris/dia. Carioca deve entrar em produção em 2015.
 
O portfólio da empresa inclui ainda o campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, um dos 20 maiores em produção no país e no qual é sócia da Petrobras, e outros seis blocos exploratórios. A Sinopec também negocia com a Petrobras uma sociedade em uma refinaria no Maranhão, parceria que pode ser estendida a mais uma unidade no Ceará. Já a Sinochem tem atuação mais tímida, com 40% do campo de Peregrino, situado em dois blocos na Bacia de Campos. Com produção de cerca de 100 mil barris de petróleo por dia, ele também está na lista dos 20 maiores do país.
 
Se a parceria da Sinopec com a Petrobras vingar, será mais um passo para estreitar a aliança entre as duas empresas. Foi a Sinopec que inaugurou a onda de investimentos de companhias estatais chinesas no setor de petróleo brasileiro, com a construção do Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene), em 2004. O negócio foi fechado no âmbito da estratégia do então presidente Lula de fortalecer a cooperação Sul-Sul, um desdobramento dos projetos conjuntos de ciência e tecnologia formados na década anterior. Desde então, os laços comerciais entre os países não param de crescer. Em 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, posto que ocupa até hoje.
 
— É natural que o Brasil passe a exportar mais petróleo para a China, de forma a aproveitar a demanda asiática e se beneficiar da estratégia chinesa de diversificação de fontes energéticas. Ao mesmo tempo, é importante evitar o vício das exportações dos commodities, cujos preços podem oscilar violentamente, tornando a economia como um todo vulnerável. A melhor forma de lidar com essa assimetria é fazer o dever de casa: reformas no âmbito doméstico para agilizar e equilibrar a economia brasileira, fomentando não apenas a agriculturade exportação, mas também indústria e serviços — diz Adriana Erthal Abdenur, professora do Instituto de Relações Internacinais da PUC-Rio e coordenadora geral do BRICS Policy Center.

MEC estuda cobrar taxa em dobro de quem faltar no Enem

Aluno ausente que não justificar a falta também poderá ser punido com extinção de isenção de inscrição.

Enem 2013 registrou a ausência de cerca de 2 milhões de candidatos.

Prejuízo do Inep com abstenção pode ser de até R$ 60 milhões

BRASÍLIA - O Ministério da Educação (MEC) quer criar mecanismos para reduzir o índice e abstenção no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que registrou a ausência de cerca de 2 milhões de candidatos no último fim de semana - nada menos do que 29% do total de inscritos. Estão em estudo duas medidas: cobrar taxa em dobro ou extinguir a isenção em edições futuras do Enem de quem se inscrever e faltar sem justificativa; e abrir um prazo para que candidatos cancelem a inscrição dias antes da impressão das provas, em julho, quase quatro meses antes do teste.
 
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do ministério responsável pelo Enem, estima que o não comparecimento de 2 milhões de inscritos neste ano pode ter causado um prejuízo de até R$ 60 milhões, em despesas como a impressão de provas que não foram utilizadas e a contratação de fiscais e pessoal de apoio em número acima do necessário.
 
- Quase 30% (de abstenção) é um percentual altíssimo, não pode ser. É preciso conscientização, um processo educativo de cidadania. A gente está pensando algumas soluções estruturantes - diz o presidente do Inep, Luiz Claudio Costa.
 
Ele explica que a ideia de cobrar taxa de inscrição em dobro ou acabar com a isenção em edições futuras para quem faltar sem justificativa depende de lei aprovada no Congresso. Hoje a taxa é de R$ 35. São isentos os alunos de escolas públicas matriculados no 3º ano do ensino médio e quem apresenta declaração de carência socioeconômica.
 
Dos 7,17 milhões de inscritos neste ano, apenas 1,9 milhão pagaram a taxa, ainda assim, com valor subsidiado, já que o custo de realização do exame é de R$ 49,86 por inscrito.
 
Caso a medida punitiva já estivesse em vigor, pagantes que faltaram ao exame teriam que desembolsar R$ 70 para fazer o próximo Enem, em 2014. Da mesma forma, candidatos isentos perderiam o benefício, tendo que pagar R$ 35 numa próxima edição.
 
A outra medida em análise prevê a abertura de um prazo, entre os meses de junho e julho, para que candidatos pudessem cancelar a inscrição. Isso seria feito pela internet, mediante o uso de senha pessoal. Assim, quem se inscrevesse em abril ou maio e soubesse de antemão que estaria impossibilitado de comparecer à prova, em outubro, teria uma chance de cancelar sua participação sem gerar prejuízo.
 
- Daríamos a oportunidade, para a pessoa que é seria e já sabe que não vai, avisar - diz Luiz Claudio.
O Inep fará um levantamento por amostragem com inscritos que faltaram ao exame deste ano. O objetivo é saber o motivo da ausência:
 
- A gente está elaborando um questionário que vamos encaminhar por e-mail. Conhecendo o perfil de quem faltou, podemos ver a melhor ação a ser tomada.
 
Segundo Luiz Claudio, não é simples estimar o tamanho do prejuízo decorrente da ausência de 2 milhões de inscritos. Isso porque uma parte da logística seria a mesma com ou sem o comparecimento de todos eles. Afinal, a abstenção costuma se espalhar por todo o país. Assim, salvo casos extremos em que a maioria dos ausentes fosse de uma mesma cidade, um exame com 5 milhões ou 7 milhões de participantes seria realizado praticamente no mesmo número de municípios: 1,6 mil, o que corresponde a quase um terço das cidades brasileiras.
 
Ele lembra também que quem falta ao exame não gera todas as despesas previstas. É o caso da correção da redação, que se limitará aos 5 milhões de textos escritos pelos candidatos.
 
O número de participantes desclassificados por postar imagens e mensagens em redes sociais durante as provas, o que é proibido pelo edital do exame, poderá aumentar. Além dos 36 candidatos já eliminados, o Inep identificou um 37.º participante que postou foto de dentro do local do exame, no domingo. Segundo Luiz Claudio, esse candidato teria tomado precauções para evitar sua identificação, cobrindo dados pessoais na folha fotografada. Mas, diz o presidente do instituto, acabou rastreado pela equipe do Inep, que agora confere outras informações para evitar a repetição de um erro. No ano passado, uma participante foi confundida com uma homônima e acabou excluída equivocadamente.
 
Encerrada a aplicação do exame no domingo, o Inep coordena nesta semana a chamada operação reverso, que consiste em levar de volta as provas para quartéis do Exército nos estados e, de lá, para Rio de Janeiro e Brasília, onde serão corrigidas.
 
Nesta terça-feira terá início o curso a distância de capacitação dos corretores de prova. Esses profissionais já receberam treinamento antes do Enem, mas, nos próximos dias, participarão de novas sessões com foco no tema da redação: a Lei Seca.
 

Nova política de preços da Petrobras prevê reajustes automáticos

Diretor financeiro diz que estatal vai trabalhar para que metodologia proposta esteja implementada até 22 de novembro

RIO E SÃO PAULO - Após executivos da Petrobras afirmarem que o Conselho de Administração da estatal pode aprovar uma nova metodologia de reajuste de preços para a gasolina e o diesel até o dia 22 de novembro, as ações da companhia dispararam nesta segunda-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis preferencias (PN, sem direito a voto) subiram 7,57% e os ordinários (ON, com direito a voto), 9,82% - as maiores altas do Ibovespa. Com o avanço, a Petrobras ganhou R$ 20 bilhões de valor de mercado em relação ao fechamento de sexta-feira, um salto de R$ 232,3 bilhões para R$ 252,8 bilhões, e passou a russa Gazprom no ranking de maiores petroleiras do mundo, ocupando agora nona posição. A possibilidade de uma nova política de reajuste dos combustíveis - que o governo costuma restringir para segurar a inflação -, deixou em segundo plano o resultado ruim do balanço trimestral da empresa, divulgado na sexta-feira. O lucro de R$ 3,39 bilhões ficou abaixo do esperado e foi 39% menor que o do mesmo período de 2012.
 
De acordo com um integrante do Conselho de Administração ouvido pelo GLOBO, o novo cálculo do reajuste - já aprovado pela diretoria - consiste em uma média ponderada da cotação do barril de petróleo tipo Brent relacionada a fatores internos da empresa, como produção e refino. O método, desta forma, seria aplicado automaticamente em prazos preestabelecidos, sem interferências políticas.
- A diretoria da Petrobras fez uma apresentação ao Conselho de Administração na última sexta-feira. O objetivo desse novo cálculo é não afetar o caixa da empresa, mas também não penalizar a população brasileira com o aumento dos preços. A metodologia retira as maiores e as menores oscilações do preço do barril. Por isso, (o reflexo para o consumidor) será algo perene. Essa conta leva em consideração fatores como a expectativa da produção e a capacidade de refino. Não é só a cotação internacional. Agora, os detalhes serão avaliados pelo Conselho - disse essa fonte.
 
No dia 29 de setembro, em entrevista ao GLOBO, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que a estatal estudava uma nova política de aumentos dos preços dos combustíveis, desde que “a volatilidade dos preços internacionais não fosse repassada ao mercado interno”. Nesta segunda, Almir Barbassa, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre, evitou dar detalhes da mudança, mas destacou que, uma vez aprovado, o cálculo será automático. Segundo Barbassa, o objetivo é alinhar os preços dos derivados comprados no mercado internacional com os vendidos no país. Isso, afirmou, vai permitir maior geração de caixa e a redução do nível de alavancagem para níveis aceitáveis - compatível com o plano de investimento de US$ 236,7 bilhões até 2017, que inclui o desenvolvimento das áreas do pré-sal.
 
- A diretoria da Petrobras aprovou essa nova metodologia de reajuste. O principal produto é a maior previsibilidade, e que é compatível com o plano de negócios. A metodologia foi levada ao Conselho. Eles pediram que fizéssemos novas análises e foi estabelecido o prazo de 22 de novembro para considerar o que foi colocado. São vários parâmetros importantes, como o percentual de reajuste e a periodicidade desses reajustes. Depois de aprovada, e uma vez definida (a metodologia), o reajuste é automático e passa a ser empregado. A metodologia leva a aumentos ou reduções. É aderência aos preços internacionais - afirmou Barbassa.
 
Analista: ‘Alta em cima de especulação’
Indagado por analistas sobre a necessidade de aprovação pelo Conselho, Barbassa disse que é preciso adequar a empresa à nova realidade. Ele citou o nível de alavancagem, de 36% no fim de setembro - quando o “aceitável” pela companhia é 35%:
 
- É preciso ressaltar o peso relativo de cada derivado. Diesel e gasolina representam algo próximo a 50% da receita. Quando se fala de previsibilidade e de reduzir a alavancagem, tudo será colocado na conta. É essencial olhar caso a caso.
 
O diretor afirmou não ser o momento de especular se a metodologia será ou não aprovada. E disse que, uma vez alinhados os preços, o fluxo de caixa estará positivo em 2015. Até agosto, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a empresa perdeu cerca de R$ 3,4 bilhões com a defasagem de preço dos combustíveis. Segundo Graça Foster, a gasolina apresentava diferença de 6,5% e o diesel, de 19%, na última quarta-feira.
 
O especialista Adriano Pires, do CBIE, disse que, não fosse o anúncio dessa nova metodologia, as ações da empresas teriam fechado a segunda em forte queda.
 
- O resultado operacional veio ruim, com redução no nível do caixa e maior alavancagem. É muito cômodo divulgar essa metodologia no dia do resultado, pois o foco passa a ser outro. Não sabemos como será essa metodologia e nem se será aprovada. E onde está a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)? Foi uma alta em cima de especulação, de uma suposição, alimentando os especuladores. O ideal seria estudar e divulgar já o resultado final.
 
Procurada, a CVM disse que “acompanha e analisa as informações e movimentações envolvendo às companhias abertas e o mercado bursátil, tomando as medidas cabíveis, quando necessário”.
 
David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), lembra que a nova metodologia trará mais previsibilidade, o que é positivo. Ele lembra que, na década passada, a companhia já usou uma fórmula parametrizada - que tinha como base a cotação média do barril e limitava os aumentos e reduções nos preços.
 
Segundo Luana Helsinger, analista sênior da corretora GBM, o mercado começa lentamente a especular sobre o modelo adotado. O Goldman Sachs aponta um modelo de reajustes automáticos de combustíveis baseado na defasagem média de preços dos 12 meses anteriores. Mas acredita que essa política poderia esbarrar no “monitoramento do impacto de preços de combustíveis que o governo fez nos últimos três anos”. O Deutsche Bank lembra que, nos últimos meses, o mercado voltou a comentar uma possível volta da chamada “conta petróleo”. No Itaú BBA, os analistas preferiram a cautela. “A nova metodologia ainda não foi aprovada e nós não sabemos o tamanho do alívio que poderia oferecer para o apertado balanço da companhia”.
 
José Formigli, diretor de Exploração & Produção da Petrobras, disse que a Petrobras trabalha para fechar o ano de 2013 com uma queda de 2% em sua produção. José Cosenza, diretor de Abastecimento, lembrou que estão sendo feito estudos para que a Refinaria Abreu e Lima (PE) - incorporada pela Petrobras, já que a venezuelana PDVSA não investiu no projeto - passe a processar óleo leve e não só óleo pesado, como previsto. A refinaria está orçada em US$ 18 bilhões, ante os US$ 17,3 bilhões previstos em março.
 
Com ajuda da Petrobras, a Bolsa fechou nesta segunda em alta de 1,70% aos 55.073 pontos. O dólar caiu 0,41%, a R$ 2,180.