Dada a opção, mais de 90% das pessoas escolheram ser tratadas no seu lar
Nova York, EUA.
Quando Martin Fernandez, 82, chegou à emergência do Hospital Mount Sinai
recentemente, com febre alta e uma terrível dor abdominal, fizeram a
ele e a sua família uma pergunta inesperada. Fernandez teria que receber
antibióticos por via intravenosa para sua infecção do trato urinário,
mas poderia escolher ficar no Mount Sinai ou receber cuidados em casa.
Se escolhesse ser internado em casa, os médicos e enfermeiras iriam
visitá-lo todos os dias. Ele receberia medicações intravenosas e faria
exames de laboratório, raios X e mesmo ultrassonografia em casa, se
fosse preciso. Os custos não seriam maiores do que se estivesse no
hospital. Em três ou quatro dias, receberia alta – e não teria que ir a
lugar nenhum.
Para Fernandez, um pintor de
paredes aposentado da Venezuela que vive com sua mulher no Upper West
Side de Manhattan, em Nova York, a escolha foi fácil. Ele se internou no
apartamento de sua filha, a apenas alguns quarteirões de distância,
poucas horas depois.
Fernandez colocou um
cateter urinário, mas pôde continuar usando as próprias roupas durante o
dia e pijamas de noite. Sua mulher e sua filha cozinharam refeições com
arepas, vegetais e feijões pretos, e ele comeu na cama.
“Os hospitais ajudam a gente, mas é tanto barulho que não dá para
dormir, e a pessoa fica muito sozinha. Aqui não tem horário de visita e
nem hora de sair. A gente fica em casa, mas com o hospital junto”,
explica a filha, Ana Vanessa Fernandez.
Sob
pressão para reduzir os custos e aumentar a qualidade ao mesmo tempo,
alguns sistemas hospitalares estão testando uma experiência incomum:
levar o atendimento em domicílio ao extremo, oferecendo tratamentos com o
mesmo nível dos hospitalares em casa para pacientes como Fernandez que,
no passado, precisariam ser internados. E enquanto aumenta a
conscientização sobre os perigos das hospitalizações, principalmente
para idosos, os pacientes começam a aproveitar a oportunidade com
entusiasmo.
“Eu sempre dou risada quando as
pessoas dizem: ‘Você acha mesmo que é tão boa quanto um hospital?’ Você
já foi a um hospital? Para muitos desses pacientes, é um pouco
assustador”, conta a doutora Melanie Van Amsterdam, médica principal do
programa de Cuidados de Saúde em Casa do Hospital Presbiteriano de
Albuquerque, no Novo México.
A doutora Melanie
começou trabalhando como a única médica em tempo integral do programa.
Ela passava horas vasculhando as fichas dos pacientes atrás dos que
podiam se beneficiar do programa: os que estavam doentes o suficiente
para precisar de uma internação, mas não o bastante para ir para uma
unidade de terapia intensiva.
Alguns dos
pacientes se negaram. Um homem não queria visitas em casa, porque tinha
cães grandes, lembra ela. Mas mais de 90% concordaram. Hoje, Melanie se
vê fazendo um tipo de tratamento diferente do que oferecia anos atrás
como médica em um hospital.
“No sistema
hospitalar, você obtém mais informações do computador do que de suas
orelhas, olhos e nariz. Hoje eu me apoio muito mais em minha habilidade
de fazer exames físicos para cuidar desses pacientes. Acho que você
também fica mais confortável com as incertezas”.
Mesmo com critérios de admissão muito cuidadosos, o inesperado
acontece. Melanie e sua equipe tiveram que levar doentes ao hospital
quando suas condições médicas pioraram e, algumas vezes, precisaram
chamar a emergência. Ainda assim, isso acontece com pouca frequência:
somente 2,5% dos pacientes precisam voltar ao hospital tradicional.
A tendência de tirar os pacientes dos hospitais “vai continuar a
evoluir e a ser testada, mas acho que dará certo”, diz Bruce Leff, que
pesquisa a internação em casa desde os anos 80. Nos últimos dois anos,
ele recebeu ligações de pelo menos uma centena de administradores de
sistemas de saúde ansiosos para aprender mais sobre como internar
pacientes em suas próprias casas.
“Minha
impressão é que, com o tempo, os hospitais se tornarão lugares onde a
pessoa só vai para conseguir um cuidado muito especializado, com alta
tecnologia”, acredita ele.
Só no hospital
Regras. Pacientes com sinais vitais preocupantes – frequência cardíaca
muito alta, pressão sanguínea muito baixa – não podem ir para casa.
Também estão fora do programa pacientes sem eletricidade e água
encanada.
Tratamento fica mais curto, e uso de sedativos diminui Nova York.
Bruce Leff percebeu que alguns pacientes tinham medo do hospital no fim
dos anos 80, quando fazia atendimento domiciliar para pacientes que não
podiam sair de casa. Quando alguns de seus pacientes pioravam,
simplesmente recusavam-se a ser internados. “Ficar no hospital pode ser
tóxico”, afirma Leff, geriatra que hoje é professor de medicina na Johns
Hopkins. Então, Leff e seus colegas tiveram uma ideia. E se os
pacientes pudessem ser hospitalizados em suas próprias casas? A primeira
tarefa era determinar quem necessitava de tratamento hospitalar, mas
que pudesse ser cuidado com tecnologia instalada em sua casa. Medicação
intravenosa e raio X podem ser facilmente adaptados para qualquer
quarto, ventiladores pulmonares, não. “Sou médico. Posso falar com um
paciente, examiná-lo, trazer oxigênio doméstico, medicamentos
intravenosos e soro, posso fazer um exame de raio X em casa. A hipótese
era que ao levar isso em frente, poderíamos diminuir os danos”, afirma
Leff. Com uma bolsa da Fundação John A. Hartford, Leff e sua equipe
ofereceram cuidados com nível de hospital para 150 pacientes internados
em casa. Eles chamaram seu programa de “Hospital em Casa”. As
conclusões, publicadas no “The Annals of Internal Medicine”, foram
promissoras. Os pacientes ficaram hospitalizados por períodos mais
curtos e seus tratamentos custaram menos. Além disso, tiveram menor
tendência a sofrer delírios ou receber medicamentos sedativos e não
voltaram à emergência nem foram readmitidos com a mesma frequência que
os outros.
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