Suspeita foi filmada encostando cigarro aceso em rosto de adolescente no litoral de SP
A jovem foi levada, algemada, para o 2º DP de São Vicente
Daia Oliver/ R7
Abatido ao ver a filha presa, o pai da mulher que foi filmada
torturando uma adolescente no litoral sul de São Paulo saiu em defesa da
suspeita. Elizângela Fernandes, que no Facebook se apresenta como
Elizângela Granneman, esteve na tarde desta segunda-feira (27) na DDM
(Delegacia de Defesa da Mulher) de Praia Grande. Após ser interrogada e indiciada por
sequestro, tortura e cárcere privado, ela foi levada, algemada, para o
2° Distrito Policial, localizado na vizinha São Vicente.
O pai, que é caminhoneiro e preferiu manter a identidade em sigilo,
disse que a filha é uma pessoa doce e que foi “torturada” pela
adolescente, referindo-se às supostas investidas da garota na tentativa
de reatar o relacionamento com o então namorado de Elizângela.
— A família tem muita pena dela [suspeita]. Não acredita no que estão
falando por aí. Ela é uma menina muito doce. Quem conhece, de verdade, a
Elizângela sabe que ela tem um coração muito grande.
Para o caminhoneiro, a filha agiu movida pela emoção.
— Depois de quatro meses sofrendo o que ela estava... Ela chegou a
emagrecer. Achei que ela estava até doente. Deve ter sido em um momento
de loucura. Ninguém está livre disto.
Ele não apoia o ato de violência e disse que Elizângela, que tem um filho de quatro anos, deveria ter optado por outro caminho.
— Acho que deveria ter sido feito diferente. Ela tinha que procurar a Justiça, a polícia.
Foragida
Elizângela estava foragida desde o dia 7 de outubro, quando teve a
prisão temporária decretada. Inicialmente, a defesa informou que
apresentaria a suspeita durante o período eleitoral, já que o artigo 236
do Código Eleitoral (Lei 4737/65) determina que “nenhuma autoridade
poderá, desde cinco dias antes e até 48 horas depois do encerramento da
eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito ou
em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável,
ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto”.
Um detalhe fez cair por terra a estratégia: a jovem não estava inscrita
na Justiça Eleitoral, portanto, não poderia ser considerada eleitora.
Desta forma, a titular da DDM de Praia Grande, Rosemar Cardoso
Fernandes, responsável pela condução da investigação, não foi impedida
de realizar a prisão.
O pai de Elizângela alegou que a filha foi à delegacia com a intenção
de se entregar. O advogado da suspeita, Fábio Baptista, afirmou que não
ficou surpreso com o cumprimento da temporária e repetiu o discurso do
caminhoneiro.
De acordo com a delegada, durante o interrogatório, a mulher não
demonstrou arrependimento e chegou a argumentar que “estava certa”.
— Disse que a moça [vítima] vivia ligando, que queria reatar o namoro
com o rapaz [então companheiro de Elizângela]. Ela falou que não houve
sequestro, que a vítima concordou em ir à casa para elas conversarem e
que aquilo não foi tortura. Disse também que a vítima não saiu porque
não quis e que a casa estava com a porta aberta.
Na delegacia, Elizângela representou contra a mãe da vítima, segundo Rosemar.
— A suspeita disse que a mãe da vítima a agrediu por conta da discussão que ela teve com a adolescente na casa.
Apesar de no vídeo com o registro violência Elizângela aparecer
colocando um cigarro aceso no rosto da garota de 17 anos, ela negou que
praticou tortura. A mulher alegou que, a partir do momento em que
encostou o cigarro na pele da adolescente, ele apagou. Conforme a
delegada, Elizângela falou ainda que a vítima não reagiu porque não
quis.
Revogação da temporária
O advogado Fábio Baptista adiantou que vai pedir a revogação da prisão
temporária da cliente. Caso a Justiça negue a solicitação, entrará com
um habeas corpus para que Elizângela possa responder em liberdade.
Na avaliação dele, “os fatos não condizem com a notícia-crime”.
— Para a defesa, não existiu sequestro, porque sequestro jamais pode
ser consentido. Tem que ser contra a vontade da pessoa. E as provas que
constam no inquérito dizem que as partes compareceram, independentemente
de qualquer tipo de ameaça. Cárcere privado também é discutível, porque
ela [a vítima] não foi impedida em momento algum de sair.
Baptista destacou que não há no inquérito prova de que a casa onde
aconteceu a violência estava com as portas trancadas. No entendimento
dele, cabe, no máximo, indiciamento por lesão corporal. Para o defensor,
há somente “suposições dos crimes”.
O advogado refutou a afirmação de que Elizângela não se arrependeu.
— Não é que ela não se arrepende do que fez. Hoje, ela se arrepende
muito pelo fato gerado em si. A família dela toda está sofrendo. Agora, o
abalo psicológico ou a tortura, ela também sofreu. Elizângela entende
que vinha sendo torturada pela vítima, ao tempo em que ela estava
querendo a todo momento o marido de Elizângela. Mandava carta, e-mail.
Era ligação falsa.
O advogado completa o raciocínio:
— Então, a tortura vinha sendo de ambas as partes.
A delegada titular da DDM, Rosemar Fernandes, investiga o caso
Daia Oliver/ R7
Questionado sobre por qual motivo Elizângela não denunciou a adolescente para a polícia, ele respondeu:
— Não registrou queixa. Foi o detalhe. Aliás, ninguém registrou queixa.
A queixa partiu da delegada [após vazamento do vídeo com as cenas da
violência na internet].
As imagens da agressão espalharam-se pelas redes sociais, provocando
revolta entre internautas. Outra suspeita, que teria filmado a
violência, já está presa.
As cenas foram gravadas no final de setembro, mas só se caíram na rede
dias depois. A agressão, segundo a polícia, teria durado três horas,
versão rebatida por Elizângela.
A delegada chegou a cogitar a prisão de uma terceira suspeita, mas não
havia elementos que comprovassem a participação dela nos crimes.
Rosemar considera que o inquérito está praticamente concluído e disse depender apenas de laudos para que ele seja finalizado.
Defesa na internet
Dias antes de se apresentar na delegacia, Elizângela resolveu se defender usando a internet.
Em vídeo de pouco mais de nove minutos, postado no YouTube, a jovem
explicou por qual motivo não havia se apresentado na delegacia e disse
que não era uma "cobra".
http://noticias.r7.com/sao-paulo/pai-de-jovem-que-torturou-rival-defende-filha-ela-e-uma-pessoa-muito-doce-28102014