Papa fará saudação aos moradores e receberá presente da comunidade (Foto: Andressa Gonçalves/ G1)
Uma laje utilizada por crianças para soltar pipa vai servir de palco para o
Papa Francisco
durante visita à Varginha, no Conjunto de Favelas de Manguinhos, no dia
25 de julho. A 47 dias da Jornada Mundial da Juventude, a comunidade
não passou por grandes mudanças. O campo de futebol que vai reunir os
fiéis para o encontro com o pontífice continua em péssimas condições, os
alambrados são sustentados por postes, o muro está apoiado em pedaços
de madeira e um ferro-velho ainda ocupa grande parte do espaço.
O que é a JMJ
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Criada pelo Papa João Paulo II, em 1984, a Jornada Mundial da
Juventude (JMJ) é o maior encontro internacional de jovens com o Papa. A
última edição, em 2011, reuniu mais de 2 milhões de pessoas em Madri.
Realizado a cada três anos, o evento mudou de data para não coincidir
com a Copa do Mundo, em 2014.
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De acordo com Everaldo Oliveira, morador da comunidade e integrante da
equipe responsável pela visita do Papa à Varginha, o pontífice vai
chegar ao local de carro fechado pela Avenida Leopoldo Bulhões, que terá
o trânsito interditado. O Comitê aguarda autorização do Vaticano para
que o Papa ande de papamóvel e possa ter mais contato com a comunidade.
De cima da laje do vestiário do campo de futebol, Francisco fará uma
saudação e receberá as boas-vindas dos jovens da comunidade. Em seguida,
os moradores vão retribuir a mensagem com uma surpresa que ainda está
sendo planejada. Um discurso de cerca de 30 minutos encerra a visita do
pontífice à favela.
Campo de futebol
O campo de futebol, que vai receber o papa argentino, tem 8.400 metros
quadrados e capacidade para receber mais de 25 mil pessoas. Uma escada
será construída para dar acesso à laje e um toldo vai ser colocado em
cima do vestiário para servir de fundo. O alambrado, que está caindo,
deve ser substituído por uma grade mais baixa. O muro branco, que está
inclinado e representa um risco à segurança dos fiéis, será derrubado.
A construção separa o campo da área que era chamada de Faixa de Gaza,
referência à área de conflitos entre palestinos e israelenses. A
associação era feita em razão dos constantes tiroteios entre as favelas
de Manguinhos e Mandela, antes da instalação da Unidade de Polícia
Pacificadora, em janeiro. Um espaço será reservado para os idosos e
portadores de deficiências. Um ferro-velho que funciona do lado de fora
do campo vai dar lugar aos jornalistas que farão a cobertura do evento.
Barbante puído serve de cadeado da porta do campo de futebol na Favela
da Varginha. Campo tem capacidade para receber mais de 25 mil pessoas
(Foto: Andressa Gonçalves/ G1)
“Os bombeiros vão definir quantas pessoas podem entrar. Mas a Varginha
tem mil moradores, o Mandela tem 20 mil, Manguinhos mais de 20 mil. Se
vierem 20%, já são oito mil pessoas. Ainda tem o público do Jacaré, do
Arará, de Bonsucesso e todo o Complexo do Alemão. Tenho certeza que vai
lotar", disse Everaldo Oliveira.
Sem cordão de isolamento
Na quarta-feira (5), o mestre de cerimônias do Papa Francisco,
monsenhor Guido Marini, e uma comitiva visitaram a capela para finalizar
o planejamento dos espaços por onde o Papa vai passar na favela, além
de organizar o cerimonial.
De acordo com a coordenação da visita, a estação de trem de Manguinhos
vai ser uma área de segurança estratégica, mas ainda não foi confirmado
se a estação será bloqueada. O acesso à Rua Carlos Chagas, onde o papa
vai caminhar, será fechada e Francisco seguirá a pé entre as pessoas por
100 metros.
A ideia é que não haja cordão de isolamento e que os moradores das
casas possam ter contato com o pontífice. A interdição da rua vai até a
igreja evangélica que fica na entrada do campo de futebol. "Somente as
famílias desta rua poderão vê-lo tão de perto. Essa foi a rua abençoada.
Ele vem aqui pra ver pessoas. A ideia é partilhar o momento com a
comunidade. Isso aqui é a realidade que ele tinha em Buenos Aires",
completou Everaldo Oliveira.
Visita a casa na favela
A grande surpresa da caminhada é que o papa vai entrar em uma casa da
comunidade. "A casa a ser visitada será de alguém que precisa mesmo.
Será uma pessoa que a visita faça diferença para a família. A
expectativa é tão grande que até uma evangélica me pediu para que o papa
vá à casa dela", contou o morador.
A passagem pela rua virou um grande evento. Os moradores já começaram a
chamar os seus convidados. "Tem gente que vai receber 30 parentes. Eles
não abriram a casa para hospedagem porque só a família lotou a casa. Na
minha casa, serão mais de 15", revelou Everaldo.
"Se interditarmos da Rua Carlos Chagas até o Arará e as pessoas puderem
ficar nesse espaço, caberiam aí mais de 50 mil pessoas", disse Everaldo
Oliveira, integrante da equipe responsável pela visita do Papa à
Varginha.
Everaldo
Oliveira trabalha na igreja da Varginha e é um dos organizadores da
visita do papa à favela (Foto: Andressa Gonçalves/ G1)
Bênção
A Capela São Jerônimo Emiliani foi a escolhida para ser visitada pelo
papa. Na véspera, um novo altar será colocado no local e o papa dará a
bênção. No templo que acomoda até 60 pessoas, Francisco fará um momento
de oração com a comitiva e moradores convidados.
“Nós ganhamos um altar novo em abril. Com a possibilidade de recebermos
a visita do Santo Padre, a gente resolveu esperar pela sua bênção. A
mesa que fica no presbitério, local onde o padre realiza a celebração,
já está na igreja matriz e só será colocado no dia 24”, explicou
Everaldo Oliveira.
Segundo o morador que trabalha na paróquia há 26 anos, a expectativa é
grande pelo presente que o papa deve entregar à comunidade. “Para mim,
se ele trouxesse uma relíquia de primeiro grau de São Jerônimo Emiliani
ou do beato João Paulo II já seria ótimo. Acho que tem que ser algo que
dure o tempo que essa igreja existir”, declarou.
Faixa de Gaza abençoada
O aposentado Antônio Carlos Vasconcelos mora num cômodo dentro do campo
de futebol e se mostra orgulhoso por ser um dos moradores mais antigos.
Durante trajeto, Papa visitará a casa de uma família da comunidade (Foto: Andressa Gonçalves/ G1)
“Moro aqui há 64 anos. Sinto como se minha casa fosse visitada. Rodaram
mais de 300 comunidades, a nossa foi a premiada. Antes aqui era
conhecido como Faixa de Gaza. Mas, a Faixa de Gaza foi abençoada com
essa escolha. Deus mandou o papa vir aqui e a gente não vai ser mais
esquecido. A gente espera que enxerguem a gente e todo o Complexo de
Manguinhos. A gente faz a nossa parte para tirar a garotada da rua, são
mais de 300 garotos”.
Antônio ressalta que o maior medo de quem mora no local é a cheia do
rio e que a esperança é de melhorias. “Quando a Maré enche, dá medo.
Você vê a água vindo e pede a Deus para parar a chuva. Nós somos a
última comunidade, e a água vem toda caindo pra cá.”
"Não queremos nada muito exorbitante, a gente quer tudo muito simples,
nem palco, nem luxo. Porque eu acho que a gente foi escolhido por isso,
pela simplicidade. E é isso que continuaremos sendo depois da vinda do
papa. A gente pediu que não fosse feita nenhuma obra de maquiagem aqui. O
legado social que isso vai deixar, vai depender da prefeitura dar essa
assistência. Preferimos esperar assistência do que obras com efeito
paliativo", completou Everaldo.
Antonio Carlos Vasconcelos mora num cômodo construído na beira do campo (Foto: Andressa Gonçalves/ G1)