A medicina moderna pode manter o HIV isolado, mas a cura ainda está longe, e cientistas dizem que a razão pode estar na quantidade de esconderijos do vírus, maior que o esperado.Traços de HIV podem ficar adormecidos nas células imunológicas do corpo e este reservatório latente é 60 vezes maior do que se estimava anteriormente, revelou um novo estudo publicado na revista Cell.
As descobertas, baseadas em três anos de experiências de laboratório, explicam porque o vírus da Aids costuma retornar sutilmente, podendo provocar uma manifestação completa da doença se a pessoa infectada parar de tomar medicamentos antirretrovirais.
"Os resultados do nosso estudo certamente mostram que encontrar uma cura para a Aids será muito mais difícil do que pensávamos e ansiávamos", afirmou o pesquisador sênior Robert Siliciano, professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
Aids e HIV são a mesma coisa. MITO: Aids é a doença, e o HIV é o vírus que transmite a doença.
Ter o vírus não significa ter Aids, pois a pessoa pode passar muitos anos com o HIV sem que a doença se manifeste. "Hoje a gente fala em quem tem HIV e quem tem Aids, pois quem tem o HIV e faz o tratamento correto pode vir a não manifestar a doença", explica o médico infectologista e imunologista Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador do comitê de retroviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Leia mais AFP/ Instituo Pasteur
Em 1995, Siliciano já tinha demonstrado que reservatórios do HIV adormecido estavam presentes nas células imunológicas.
Há 213 provírus conhecidos ou vestígios de HIV que permanecem nas células e tecidos de todo o corpo mesmo que o vírus seja indetectável no sangue.
A mais recente pesquisa demonstrou que 25 deles - um total de 12% - poderiam se reativar, replicar seu material genético e infectar outras células.
Isto surpreendeu a equipe de cientistas, porque estes provírus não induzidos tinham anteriormente sido vistas como defeituosos, consequentemente sem desempenhar qualquer papel na volta da infecção.
O estudo revelou que a frequência média de provírus não induzidos intactos foi "pelo menos 60 vezes maior" do que vírus latentes potencialmente perigosos que os cientistas já conheciam.
Para se chegar à cura, todos estes provírus intactos não induzidos precisam ser eliminados, afirmam especialistas.
Mais de 34 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo. A pandemia, que já tem 30 anos, mata cerca de 1,8 milhão de pessoas todos os anos.
No entanto, a existência de um punhado de soropositivos no mundo, descritas como em remissão ou potencialmente curadas do HIV, tem despertado a esperança de uma possível cura da Aids, embora estes casos sejam raros.
O mais conhecido deles, Timothy Brown - um americano conhecido como "paciente de Berlim" - se livrou do vírus após um transplante de medula que o curou, tanto de leucemia quanto da infecção por HIV.
Outro caso recente é o de uma menina, infectada no útero, que recebeu fortes doses de antirretrovirais logo após o nascimento até os 18 meses de idade.
Nesta ponto, a mãe da criança deixou de levá-la ao médico e de lhe dar a medicação. Um estudo publicado nesta quarta-feira mostrou que a menina, hoje com 3 anos, não tem qualquer vestígio de HIV no sangue, apesar de ficar sem tratamento por tanto tempo.
Testes clínicos para verificar a abordagem em ampla escala em crianças nascidas em países de rendas baixa e média devem começar no ano que vem.
"Embora a cura da infecção por HIV possa ser alcançada em situações especiais, a eliminação do reservatório latente é um grande problema e ainda não está claro quanto tempo levará para encontrarmos uma saída para isto", disse Siliciano.
Em 2011, o mundo registrou os 30 anos da epidemia da Aids, já que em 1981 foram notificados os primeiros casos da doença que causava imunodeficiência severa e afetava especialmente homens gays. Mas foi em 20 de maio de 1983 que o cientista Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França, isolou pela primeira vez o vírus causador da doença - uma história que ficou marcada pela rivalidade com o americano Robert Gallo, então ligado ao Instituto Nacional do Câncer dos EUA. Na imagem de microscópio mostra o vírus HIV se conectando à superfície de uma céula do sistema imune. Veja, a seguir, a cronologia de alguns eventos ligados à história da Aids: