Cada composição da Linha 15-Prata possui 120 bancos, quantidade menor em relação ao metrô comum
SÃO PAULO - O maior monotrilho do mundo abre neste sábado para a população, de forma experimental, na primeira linha deste tipo de modal do Metrô de São Paulo. Com capacidade para mil passageiros em cada trem - metade de uma composição convencional -, o sistema ainda passa por testes e deve funcionar plenamente a partir de outubro. As duas primeiras estações da Linha 15-Prata, na zona leste da capital, apesar de atrasos para a inauguração, serão entregues ao público inacabadas.
Por enquanto, o ramal só vai operar aos sábados e domingos, das 10 às 15 horas, e com intervalos grandes entre as viagens. No resto da semana, continuarão a ser feitos ajustes e medições por parte do Metrô e da empresa canadense Bombardier, fabricante dos trens. O Estado encontrou nesta sexta-feira técnicos avaliando a composição enquanto ela circulava entre as Estações Vila Prudente e Oratório, em uma viga de concreto armado a 15 metros de altura.
A vertigem de estar suspenso em um trem sobre uma avenida extremamente movimentada, como a Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello, é ampliada pelas grandes janelas de 1,2 metro de altura dos vagões do monotrilho. E também pela ausência de qualquer tipo de barreira na lateral externa da estrutura.
As vidraças são maiores do que as das composições convencionais do Metrô e, em determinados pontos, os passageiros ficam “grudados” na janela, algo impossível nos trens comuns, onde os assentos impedem uma aproximação maior do vidro. “Ai, meu Deus, não quero nem chegar perto!”,disse uma repórter ao ver a altura, aproximando-se de um janelão.
O trem do monotrilho tem outras distinções. Ele não tem operadores - sua navegação é realizada por meio de um sistema de comunicação computadorizado. Na viagem desta sexta, a reportagem notou que a trepidação do monotrilho, em seu deslocamento, é maior do que a dos demais trens, o que torna a viagem menos confortável.
“Ele (o trem) com carga, com peso, diminui um pouco o balanço. Precisa de um lastro para ele firmar um pouco”, afirmou um técnico do Metrô que acompanhou a viagem e preferiu não se identificar.
Estrutura. A superlotação, porém, não será algo raro quando a Linha 15-Prata estiver completa, em 2016, entre a região da Vila Prudente e Cidade Tiradentes, em um trajeto de 18 estações e 26,6 quilômetros. O ramal passa por bairros populosos, como Sapopemba e São Mateus. “Para as demandas da zona leste, deveria ser metrô mesmo, parrudo”, diz o engenheiro Horácio Augusto Figueira, especialista em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP) e que já trabalhou no Metrô. Ele teme que a ligação do monotrilho com a Linha 2-Verde, na Estação Vila Prudente, se torne um gargalo inviável quando a Linha 15 estiver pronta.
Também há menos assentos: cada trem tem 120 vaga, ante 264 dos da frota K e 368 da antiga frota C, ambas na Linha 3-Vermelha. O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, disse nesta sexta que investimentos em monotrilho têm sido comuns pelo mundo, em países como China e Índia. A previsão do dirigente era de que outras estações da Linha 15 abrissem neste ano, o que não vai acontecer. “Não tenho o cronograma aqui”, respondeu ao ser perguntado nesta sexta.
Ponto de drogas. A Estação Oratório abre neste sábado só com uma de suas duas entradas aberta. A outra não tem ainda grande parte dos vidros que recobrem as escadas rolantes. Há muito lixo no local e moradores da Rua Nupeba, onde fica o acesso, reclamam que o espaço virou ponto de consumo de drogas à noite, porque não há iluminação. “É muito perigoso, enche de gente”, afirma o eletricista Sidnei Koja, de 37 anos. A reportagem encontrou pinos de cocaína pelo chão. O Metrô não se manifestou sobre o assunto. A Linha 15 custará R$ 6,4 bilhões para ser construída.