Mais uma
estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
disse na quinta-feira (15) que foi violentada sexualmente dentro do
campus da instituição. A aluna, que não quer ter o nome divulgado,
prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que apura casos
de abusos dentro das faculdades paulistas.
De acordo com a
estudante, em uma festa em 2013 organizada pelo Centro Acadêmico da
faculdade, dois alunos a levaram até um local ermo no estacionamento da
instituição, onde colocaram a mão dentro da calça dela e a forçaram a
beijá-los. Após reagir, a estudante foi vista por uma amiga e conseguiu
deixar o local.
A aluna denunciou o ocorrido à faculdade, mas não
recebeu apoio da instituição. “Eu não sabia a quem podia recorrer, onde
podia recorrer. Não tive apoio psicológico nenhum, ainda mais que,
depois do que aconteceu, houve um grande processo de difamação,
perseguição. Em momento nenhum eu encontrei apoio”, disse à CPI.
Uma
sindicância foi aberta ainda em 2013 na faculdade para apurar o
ocorrido. No entanto, segundo a estudante, o processo foi viciado. O
depoimento dela aos professores da comissão de investigação foi
alterado. Em 2014, uma nova sindicância foi feita. Segundo a faculdade,
os dois alunos serão punidos.
O diretor da Faculdade de Medicina
da USP, José Otavio Costa Auler Junior, presente na sessão, negou que a
instituição tenha sido omissa nos casos de abuso e violência sexual. Ele
não soube precisar, no entanto, quantos casos ocorreram dentro da
faculdade nos últimos anos. Auler disse que enviará à CPI, em breve, na
íntegra, todos os processos de apuração existentes. Ele reconheceu que,
pelo menos desde 2012, não houve nenhum aluno punido em decorrência das
denúncias.
“Todos os casos que chegaram a nosso conhecimento
oficialmente foram apurados. A faculdade não se omitiu em nenhuma
hipótese sobre isso. Muitos dos assuntos chegaram a nosso conhecimento
por meio desses depoimentos [da CPI]. Estamos dispostos a promover novas
políticas e correções”, disse.
Auler acrescentou que, a partir de
fevereiro, entre outras ações, será instituído um núcleo de acolhimento
aos alunos, com assistência médica, advogados e psicólogos, onde os
estudantes possam relatar seus problemas. Também será criado um núcleo
de ações dos direitos humanos e uma ouvidoria na faculdade, de fácil
acesso aos estudantes.
“Os calouros passarão a ser recebidos de
maneira totalmente diferente. Não haverá álcool. E vamos começar a
recepção com os pais, explicando para eles toda a situação e mostrando
todos os mecanismos que a instituição tem hoje de acesso à denúncia”,
destacou.
O presidente da CPI, o deputado Adriano Diogo,
questionou a razão de todas as sindicâncias da faculdade, até o momento,
não terem sido concluídas com culpados. Ele disse que não criminalizar a
conduta desses estudantes agora poderá gerar médicos como Roger
Abdelmassih, condenado por ter estuprado uma série de mulheres em sua
clínica.
“A gente achava que essas barbaridades aconteciam nas
faculdades dos grotões, onde o MEC [Ministério da Educação] não entrava.
Mas não, são nas melhores, nas mais espetaculares, na cara de todo
mundo. Nós temos que aproveitar esse momento mágico [da CPI] para
estabelecer novas formas de funcionamento”, disse.
A CPI pediu ainda que seja apurada a alteração do depoimento da aluno dada à Comissão de Investigação da faculdade.
http://www.msn.com/pt-br/noticias/educacao/aluna-de-medicina-da-usp-diz-a-cpi-que-foi-violentada-sexualmente-na-faculdade/ar-AA8dPvX