Luciene Neves (foto), 24, integrante de um grupo de jovens católicos que
atende vítimas da violência, foi morta na noite de anteontem a 73
metros de sua casa, no Jardim São Luís, zona sul da capital.
Por
volta das 23h, durante o jogo Brasil e Argentina, uma moto com dois
homens parou em frente ao bar do Buiú, onde 15 pessoas, incluindo
Luciene, assistiam a um show sertanejo, tradicional às quartas-feiras.
Um
dos homens pulou da moto, entrou no bar ainda de capacete e apontou a
arma, disparando cerca de 30 vezes, afirmam testemunhas.
Três tiros acertaram Luciene. Ela morreu no local, diante de primos e amigos.
Esta foi a 17ª chacina do ano na Grande São Paulo, a quarta desde sábado.
"A
gente vê na TV e acha que quem morre é sempre envolvido com o crime.
Mas estão passando e atirando em qualquer um", afirma o dono de uma
lanchonete do bairro, que não quis dar o nome.
Além
de Luciene, morreram o tapeceiro Alexandre Figueiredo, 39, e o
eletricista de automóveis Marcos Quaresma, 31. Uma mulher e dois homens
ficaram feridos e foram levados para o hospital.
A mulher já teve alta e os homens estão estáveis.
15 MINUTOS
Luciene trabalhava como promotora de eventos em um selo de músicas católicas.
No grupo de jovens também ajudava usuários de drogas e ex-presidiários.
Ela estava no bar havia menos de 15 minutos, de acordo com familiares que não quiseram se identificar.
Dos
cinco bares que ficam no mesmo quarteirão, aquele era o único aberto
naquela noite --os outros têm fechado mais cedo, com medo da onda de
violência.
A zona sul é uma das mais afetadas. Só no último dia 9 deste mês, nove pessoas foram baleadas na mesma noite no Jardim São Luís.
O
bar do Buiú era visto pelos vizinhos como um local de "ambiente
familiar". "O dono expulsava todo mundo por volta das 23h", conta uma
vizinha que não quis ter o nome divulgado.
Luciene
havia acabado de chegar do trabalho, deixou a bolsa em casa e foi até o
bar enquanto a mãe terminava de preparar o jantar.
Era uma menina alegre, extrovertida e criada na Igreja Católica, segundo a família.
"É
revoltante. A gente vive em uma guerra civil e o governo, acuado, não
faz nada. É uma dor terrível", disse um primo de Luciene, que será
enterrada nesta manhã. A polícia afirma que ainda não tem suspeitos.