Ao menos 600 metros cúbicos de terra provenientes de obras de terraplanagem no local onde foi construído o Tempo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, no Brás, região central de São Paulo, foram despejados de forma irregular no terreno do campus leste da USP (Universidade de São Paulo) durante o mês de janeiro de 2011, segundo testemunhas ouvidas pelo Ministério Público Estadual de São Paulo. O terreno foi interditado em janeiro por estar contaminado e apresentar riscos para a saúde de funcionários e alunos. Na última semana, a Justiçaliberou o local.
A IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) afirmou em nota que toda a terra retirada durante a construção do templo foi enviada para uma central de tratamento de resíduos (veja íntegra da nota abaixo). A instituição enviou para a reportagem um comprovante no qual atesta que 6,3 toneladas de materiais foram descartados na central.
De acordo com depoimento de Valter Pereira da Silva, que realizou as obras de terraplanagem na área do templo e despejou a terra na USP, as negociações foram feitas por intermédio de dois professores que conseguiram a autorização do diretor do campus, professor José Jorge Boueri, para o depósito do material no local.
A gestão de Boueri terminou em janeiro, e a faculdade informou que ele não trabalha mais no local. A reportagem não conseguiu entrar em contato com ele ou com Silva.
Segundo a ação do MP, como o local faz parte da APA (Área de Proteção Ambiental) Parque Ecológico do Tietê seriam necessárias licenças especiais para o transporte e deposição de terra no local sob supervisão da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). Além disso, não foi feita licitação para contratar as empresas que realizaram o serviço.
USP diz não saber de onde veio a terra
A USP confirma, por meio de sua assessoria, que "em 2011 foram feitos depósitos de terra no campus", mas a instituição diz não saber a procedência da mesma e afirma também não "poder confirmar se essa terra estava contaminada antes de chegar ao campus".
Silva afirma, em depoimento, que procurou a USP Leste por morar perto do local, e realizou mais de 100 viagens em seu caminhão durante a operação. Inicialmente a terra foi depositada na área da portaria da faculdade.
Segundo o depoente, Boueri teria exigido que em contrapartida ao despejo da terra fosse feita a limpeza do mato existente na portaria principal e na área entre os prédios, onde atualmente fica o campo de futebol. O mato removido foi colocado do outro lado do campus, ao lado da passarela.
Silva afirma ainda que foi remunerado apenas pelo responsável pela obra de construção do templo, e o contrato – cujo valor não se recorda – incluía o despejo da terra em um lugar a ser definido por ele.
Posteriormente Silva foi contratado por outra empresa para aterrar o terreno onde foi construído o prédio do laboratório da universidade. Por esse serviço ele recebeu R$ 3.000, e a terra usada no processo foi novamente da área do templo.
Veja a íntegra da nota enviada pela IURD:
Toda a terra retirada durante a construção do Templo de Salomão foi enviada ao aterro LARA Central de Tratamento de Resíduos Ltda., certificado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB, conforme documentação em anexo.
Desta forma, a Universal cumpre, rigorosamente, as legislações municipal e estadual, no que diz respeito a este assunto.