Jovem de 16 anos pensou que passaria mais tempo presa, caso pedisse para voltar para casa
A adolescente brasileira que está detida há mais de 45 dias nos Estados
Unidos revelou à família, em São Paulo, que não contou às autoridades
norte-americanas que queria voltar ao Brasil porque teve medo que isso
prejudicasse seu processo judicial e adiasse ainda mais o seu retorno.
A estudante V.L.S., de 16 anos, está detida em um abrigo para menores
em Miami desde o dia 27 de novembro. Ela chegou aos Estados Unidos para
passar férias no país, de onde retornaria no dia 26 de maio. No entanto,
antes de se encontrar com uma tia-avó — que a esperava no aeroporto —, a
brasileira acabou sendo detida pelas autoridades locais por problemas
com documentos na imigração.
De acordo com o Itamaraty (Ministério de Relações Exteriores do
Brasil), após ser detida, a jovem não foi deportada imediatamente porque
pediu para ficar nos EUA. Segundo a chancelaria brasileira, quando o
imigrante revela o desejo de regressar ao país de origem, a deportação
pode acontecer imediatamente. No entanto, como o desejo da jovem era
entrar no país, ela então foi enviada ao abrigo em Miami, onde espera
para que um juiz de imigração analise o caso — a audiência está marcada
para o dia 31 de janeiro.
A mãe da adolescente, a balconista Alexsandra Aparecida da Silva, de 36 anos, confirmou ao R7
que, “no comecinho”, o desejo de V. era ficar nos Estados Unidos e
conhecer o parque de diversões da Disney. No entanto, quando ela notou
que o imbróglio estava se arrastando e que ela ainda continuava presa,
sua vontade mudou.
Segundo Alexsandra, uma semana antes do Natal, sua filha já estava
querendo voltar. Apesar disso, ela ainda não tinha revelado esse desejo
às autoridades norte-americanas ou brasileiras.
— O Itamaraty me disse que ela poderia estar voltando a qualquer
momento. Daí eu falei com ela: “V., você pode voltar a qualquer momento,
você é que não quer, você é que quer ficar aí”. Daí ela falou: “Não,
mãe, eu quero voltar. Eu queria ficar no comecinho, só que agora eu não
quero mais”.
Apesar da conversa, que ocorreu por telefone uma semana antes do Natal,
a adolescente não declarou às autoridades que queria voltar para casa.
— [Minha filha me disse:] “Eu não posso voltar. Se eu falar que eu
quero voltar, o processo vai começar tudo de novo”. Ela falou que
disseram isso para ela lá. Por isso ela nunca falou que queria voltar.
Com a audiência marcada apenas para o dia 31 de janeiro, V. pensou que,
ao pedir para voltar para casa, seu processo “começaria de novo” e se
arrastaria ainda mais, conta a mãe.
— Até briguei com ela no telefone. Mas ela me disse que todo mundo [no abrigo] sabia que ela queria voltar.
Jovem recebeu visita de diplomata
O Itamaraty informou ao R7 que a primeira vez que a
jovem declarou à diplomacia brasileira o desejo de retornar ao País foi
na última quinta-feira (10), dia em que uma diplomata do Consulado em
Miami visitou a adolescente no abrigo. Segundo a chancelaria brasileira,
esse tipo de visita ocorreu “várias vezes” nos últimos 45 dias.
De acordo o Itamaraty, V. foi orientada na quinta-feira pela diplomata a
formalizar o pedido para as autoridades norte-americanas, o que poderia
mudar o processo e acelerar o regresso da jovem.
Nem o Itamaraty nem a mãe da adolescente souberam informar, até a noite
de sexta-feira (11), se a jovem tinha feito o pedido aos
norte-americanos e se as circunstâncias de sua deportação tinham sido
alteradas.
Segundo Alexsandra, a filha receberia a visita de um advogado ontem.
Ela não sabia, no entanto, se o advogado era brasileiro ou
norte-americano e se era indicado pelo Consulado em Miami.
De acordo do Itamaraty, se a jovem declarar às autoridades
norte-americanas que quer voltar para casa, a diplomacia brasileira
tentará evitar a audiência e fazer com que V. retorne antes do dia 31 de
janeiro. Isso dependeria, no entanto, das leis e autoridades dos EUA.
Dificuldades
Nesses mais 45 dias distante da filha, Alexsandra vem se queixando de dificuldades para falar com ela.
A família foi informada que poderia telefonar todos os dias para V.,
mas o número indicado nunca completa a ligação. Por isso, ela se
comunica com a jovem quando ela consegue ligar, o que ocorreu seis vezes
até agora — uma a cada semana.
— Só ela que consegue me ligar. Ontem [na madrugada de quinta para sexta], foram apenas seis minutos.
A mãe, que mora no bairro do Rio Pequeno e está afastada do trabalho
por recomendação médica, reclama também do auxílio do Itamaraty.
— O Itamaraty não liga pra mim para falar, não ligam para dar informações. Estou sabendo só pela boca de repórteres.
Para a mãe, se a filha tivesse revelado antes do Natal que queria voltar ao Brasil, ela já estaria em casa.
http://noticias.r7.com/internacional/jovem-detida-nos-eua-ficou-com-medo-de-pedir-para-voltar-ao-brasil-diz-mae-da-adolescente-12012013