Petrobras recorre às federações das indústrias de São Paulo e do Rio para elaborar plano de controle do consumo de gás e energia elétrica.
A falta de chuvas e a má gestão do setor energético
nacional fizeram o país chegar a uma situação limite: o Brasil está às
portas de um racionamento ou mesmo de desabastecimento de energia
elétrica e de gás. O alerta foi dado na última segunda-feira pela
Petrobras às federações das indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e São
Paulo (Fiesp). Interlocutores da presidente da estatal, Graça Foster,
procuraram as duas entidades para pedir ajuda na elaboração de um plano
de racionamento tanto para a energia elétrica quanto para o gás. Em
reação, a Firjan está pedindo ao Ministério das Minas e Energia que
esclareça quais providências está tomando para evitar o pior.
As hidrelétricas brasileiras estão gerando menos energia do que são
capazes, porque há pouca água disponível. Os reservatórios do Sudeste e
do Centro-Oeste estão no nível mais baixo dos últimos dez anos -- apenas
29,8% do total. Essa é a região que produz 70% da energia do país. A
previsão para os próximos meses é de uma quantidade de chuvas menor do
que nos anos anteriores. Para evitar apagões, todas as termelétricas do
país foram ligadas e estão operando a plena capacidade. Atualmente, 20%
da energia gerada no Brasil vem das térmicas. Essas usinas podem ser
movidas a gás, carvão ou óleo. Dos três, o gás é o insumo mais barato e
mais limpo. Além do produto que vem do gasoduto Brasil-Bolívia, o país
ainda importa gás liquefeito, mas a Petrobras está encontrando
dificuldades em importar gás para os meses de janeiro e fevereiro, o que
obrigaria a estatal a tirar gás dos consumidores industriais para
continuar abastecendo as térmicas.
O gás é a fonte de energia empregada em 11,3% do parque industrial
brasileiro. Os setores que mais dependem do gás para funcionar são o
químico e petroquímico, o de cerâmica e vidros e o de
metalurgia. Qualquer aumento de demanda, portanto, pode levar a um
racionamento ou desabastecimento. Para a Firjan, a situação é “muito
crítica”.
“Estamos na antessala do racionamento. Por isso o pedido de
providencias ao governo. A última coisa que queremos é que a atividade
industrial seja prejudicada, afetando o crescimento da economia”, diz
Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial da Firjan. Para o
consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura
(Cbie), o mau planejamento da demanda energética agravou as
consequências da conjunção climática desfavorável. “Se não tivéssemos
esperado tanto para ligar as usinas térmicas a gás, possivelmente não
teríamos hoje reservatórios tão baixos.
O governo ficou esperando um
milagre da chuva que não aconteceu”, explica Pires. Para ele, o governo
deixou para acionar as térmicas mais tarde porque o custo da energia
gerada nessas usinas é maior que o da fornecida por hidrelétricas.
Seria, portanto, politicamente inconveniente aumentar o preço da energia
em um momento em que o governo protagoniza um embate com as
distribuidoras de energia elétrica por uma queda no preço das tarifas.
Dilma - A presidente Dilma Rousseff usou o tema do
racionamento em várias oportunidades para atingir o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Ela, que foi ministra de Minas e Energia na
primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, atacou o tucanato durante a
campanha presidencial de 2010 argumentando ter sido a responsável por
reestruturar o setor elétrico do país e impedir a volta do apagão. Em
setembro deste ano, o assunto voltou à baila. No anúncio da redução das
tarifas de energia elétrica, Dilma voltou a lembrar dos apagões de 2001.
naquele ano, foi necessário o racionamento para evitar a falta de luz.
"O novo momento exige que o País faça redução de custos e a redução das
tarifas decorre do modelo hidrelétrico que implementamos em 2003. Lembro
quando o mercado de energia não funcionava, mas esse País mudou, hoje
respeitamos os contratos. Contratos venceram, não se pode tergiversar
quanto a isso", afirmou a presidente, referindo-se ao ano em que ela
assumiu a pasta da Energia.
Na mesma ocasião, Dilma fez a seguinte declaração: “Tínhamos um país
com sérios problemas de abastecimento e distribuição de energia, que
amargaram oito meses de racionamento, que resultaram em grandes
prejuízos para as empresas e impuseram restrições à qualidade de vida da
população. Tivemos que reconstruir esse setor”, declarou.
Dois dias depois, o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão,
disse que o Brasil não passaria por novos apagões. O que houve no
período anterior ao governo Lula foi um racionamento de energia que
durou oito meses e que não voltará a acontecer no Brasil. Hoje temos um
sistema interligado de Norte a Sul, de Leste a Oeste no País", afirmou.
Fiesp - Procurada pela reportagem do site de VEJA, a
Fiesp negou que tenha sido comunicada formalmente sobre o alerta da
Petrobras. “Para o presidente Paulo Skaf ou para mim, ninguém ligou para
falar de escassez de energia elétrica. Formalmente a Fiesp não recebeu
nenhum comunicado da Petrobras”, afirmou Carlos Cavalcanti, diretor de
infraestrutura da Fiesp responsável pela área de energia. O diretor
comentou ainda que falar em racionamento é “alarmismo”.
Na tarde desta quarta-feira, a diretoria do Sistema Firjan emitiu um
comunicado às empresas associadas sobre o “agravamento das condições de
oferta de energia elétrica e gás no país”. Diz a nota: “A água retida
nos reservatórios das usinas hidrelétricas do subsistema
Sudeste/Centro-Oeste, onde se concentra a maior parte dos reservatórios
do país, representa atualmente apenas 29% da capacidade total de
armazenamento. Para evitar que a redução dos reservatórios atinja níveis
críticos de risco praticamente todas as termelétricas disponíveis já
estão em operação, não havendo mais, portanto, margem para aumento
significativo da geração térmica. Além disso, a logística de
abastecimento dessas usinas, em especial as operadas a óleo combustível e
a diesel, também não é trivial e tem enfrentado dificuldades. Soma-se a
isso a previsão de chuvas para o futuro próximo estar abaixo da média
histórica, o que poderá levar à continuidade de redução da capacidade
dos reservatórios. Diante desse quadro, a possibilidade de ocorrência de
eventos de desabastecimento temporário de energia para o fim do ano e
início de 2013 aumentou substancialmente, alcançando níveis
preocupantes. Concomitantemente, a elevada demanda de gás natural para
suprimento das térmicas poderá levar as distribuidoras estaduais a
exercer junto aos seus clientes industriais as cláusulas de
flexibilidade e de interruptibilidade dos contratos. Qualquer um dos
eventos terá impactos negativos inequívocos sobre a atividade
industrial.”
A Firjan informa que solicitou ao Ministério de Minas e Energia e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do estado do Rio de Janeiro esclarecimentos sobre medidas que possam garantir o “fornecimento adequado desses insumos energéticos, essenciais para a atividade industrial e para todo o país”.
A Firjan informa que solicitou ao Ministério de Minas e Energia e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do estado do Rio de Janeiro esclarecimentos sobre medidas que possam garantir o “fornecimento adequado desses insumos energéticos, essenciais para a atividade industrial e para todo o país”.
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/brasil-caminha-para-o-racionamento-de-energia