O presidente interino Michel Temer exonerou o ex-ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho do cargo
de presidente do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria
(Sesi). O decreto foi publicado nesta quarta-feira (18) no Diário
Oficial da União.
Carvalho foi secretário-geral no primeiro mandato da
presidente afastada Dilma Rousseff e chefe de gabinete do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Durante os oito anos foi responsável pela
articulação do governo com os movimentos sociais. Desempenhou diversas
funções no Partido dos Trabalhadores e exerceu cargos na prefeitura de
Santo André (SP). Carvalho estava na presidência do conselho desde
fevereiro de 2015.
Também foi publicada hoje a nomeação de João Henrique de Almeida Sousa
para o lugar de Carvalho na presidência do Conselho Nacional do Sesi.
Sousa é advogado, foi deputado federal pelo Piauí, entre 1991 e 2002, e
ministro dos Transportes no final do segundo governo do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Nos dois primeiros anos do governo Lula, foi
presidente dos Correios.
O Conselho Nacional do Sesi é responsável por fixar as diretrizes,
coordenar as ações, programas e metas da entidade, aprovar e fiscalizar
os orçamentos e suas respectivas execuções, além das prestações de
contas do Departamento Nacional e dos departamentos regionais. Encaminha
também as prestações de contas da entidade à Controladoria-Geral da
União (CGU), órgão agora extinto por Michel Temer, e ao Tribunal de
Contas da União (TCU). É formado por representantes dos empresários, do
governo e dos trabalhadores.
O presidente do PSD, Guilherme Campos, confirmou que foi convidado e que
aceitará assumir a presidência dos Correios. O convite partiu do
ministro das Comunicações, Ciência e Tecnologia Gilberto Kassab, também
do PSD.
"O convite foi feito. As conversas com o presidente (em exercício)
Michel Temer estão quase finalizadas. Agora é aguardar que ele aprove a
indicação do Kassab e faça o anúncio até o final da semana", afirmou
Campos a
O Financista
.
Sobre uma eventual abertura de capital dos Correios, Campos disse que se pronunciará apenas após assumir o comando da estatal.
Se o anúncio for oficializado, o presidente substituirá Giovanni
Queiroz, que assumiu a presidência dos Correios em novembro do ano
passado durante o governo da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não acredita que a presidente
afastada Dilma Rousseff será bem-sucedida na tentativa de reverter o
processo de impeachment.
Em entrevista à BBC Brasil, o ex-governador do Paraná - que, mesmo
sendo do partido do presidente interino Michel Temer, vê o processo de
impeachment como "golpe" - diz que Dilma não seria capaz de costurar as
alianças necessárias, propondo mudanças radicais em suas políticas,
"porque ela é muito teimosa".
Requião refuta ainda qualquer tipo de pressão interna em seu partido
por ser contrário ao impeachment e ao governo interino de seu
correligionário Michel Temer. "O PMDB não é o partido nazista", afirma.
O senador está em Lisboa para participar da cúpula da Assembleia
Parlamentar Euro-Latino-América (EuroLat), que reúne cerca de 120
parlamentares de países dos dois lados do Atlântico.
Ele faz parte de um grupo de senadores brasileiros contrários ao impeachment que quer buscar apoio da comunidade internacional.
Como copresidente do componente latino-americano do organismo, Requião
também fez um discurso na sessão de abertura da cúpula, no qual fez
duras críticas ao governo interino.
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil: A participação em fóruns no exterior e o apoio da
comunidade internacional podem reverter o processo de impeachment?
Roberto Requi
ão:
Acredito que o impeachment só seria revertido pela própria Dilma,
criando um a aliança para formar um governo de coalizão nacional, uma
mudança radical da política econômica, a busca pelo apoio popular, mas
isso dificilmente ela fará, porque é muito teimosa. A Dilma vai seguir a
mesma linha em que estava governando, que é uma linha inaceitável.
BBC Brasil:
Por que o senhor considera inaceitável?
Requião:
Porque, na verdade, ela começou a fazer o que o Temer quer fazer agora.
Privatizações, a visão neoliberal da economia, a globalização e
destruição de empresas públicas, cortes na saúde e na educação, cortes
na Previdência, precarização das leis de trabalho… enfim, é a reação do
capital vadio contra o Estado social.
BBC Brasil:
Uma incapacidade do governo Temer poderia salvar o mandato da Dilma?
Requião:
Dificilmente salvará o mandato dela, mas pode levar a uma mudança da
orientação da política econômica do Brasil, com Dilma ou sem Dilma.
BBC Brasil:
O senhor esperava, neste encontro em Lisboa, uma resposta dos países latino-americanos ao impeachment?
Requião:
O componente latino-americano do EuroLat mostrou uma coerência e uma
unidade impressionante em relação à democracia e rejeitou a interinidade
deste atual governo brasileiro. Isso é muito importante. (...)Envia uma
mensagem para a discussão da democracia no mundo, é um reflexo muito
positivo na história política recente, no período que estamos vivendo.
BBC Brasil
:
O senhor defende uma nova eleição presidencial em outubro. É possível
realizar, sem muitos danos, um pleito tão importante em tão pouco tempo?
Requião:
A eleição elimina os danos dessa transição. A Dilma perdeu o seu
próprio apoio porque governou com a política econômica do adversário.
Perdeu sua base e não ganhou outra. E ainda por cima se relacionou mal
com o Congresso nacional. O Temer foi eleito na mesma chapa da Dilma, ou
seja, com a mesma proposta política desenvolvimentista, nacionalista.
Mas ele tenta agora uma virada absurda para uma visão neoliberal, um
programa muito parecido com o programa que destruiu a Grécia e sem a
homologação da opinião pública. O Temer fica em uma dificuldade muito
semelhante à da Dilma, que é a falta de apoio da sociedade civil, da
população brasileira. E ele busca esse apoio da forma tradicional,
dividindo cargos no Congresso nacional, que tem uma representatividade
altamente questionável hoje em função do sistema eleitoral.
BBC Brasil: O senhor defende, então, eleições gerais e não apenas à Presidência?
Requi
ão:
O importante é começar pela eleição presidencial, mas depois temos de
focar em mudar o sistema eleitoral. Já começamos a mudar. O Brasil já
aboliu o financiamento de pessoas jurídicas de campanha eleitoral, esse é
o primeiro passo e é muito importante.
BBC Brasil:
Quais seriam os passos seguintes?
Requião:
É preciso acabar com essa multiplicidade absurda de partidos, que na
verdade são legendas negociais, que entram no jogo político para
negociar apoio e posições no Parlamento e fora dele. A reforma política é
essa, mas a reforma fundamental é econômica.
BBC Brasil:
O posicionamento do senhor, contrário ao impeachment, tem causado alguma forma de pressão dentro do PMDB?
Requião:
O PMDB não é o partido nazista, é um partido que vive da diversidade de
opiniões. Na verdade, a minha opinião é a opinião histórica do partido,
os outros é que estão mudando.