- A praia de nudismo mais próxima de São Paulo é Abricó, que fica na Praia de Grumari, no Rio de Janeiro
A FBrN (Federação Brasileira de Naturismo) está em busca de um lugar no
litoral paulista para virar a 9ª praia de nudismo no Brasil. Até hoje
existem legalmente oito lugares à beira mar em que a nudez é permitida.
Nenhum deles fica dentro de São Paulo --o Estado mais populoso do País,
com 43,6 milhões de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), e com a maior concentração de naturistas:
cerca de 2.000 pessoas certificadas pela FBrN.
A praia de
nudismo mais próxima, Abricó, fica no Rio de Janeiro. "Viajar até lá
para praticar o naturismo não é muito prático e nem viável
financeiramente", afirma Renata Freire, presidente do Conselho Maior
FBrN e membro da entidade responsável por acompanhar o projeto Praia
Naturista Região Sudeste. Moradora de Campinas (93 km de São Paulo),
Renata afirma que seu grupo costuma se reunir mensalmente durante o
final de semana em chácaras.
A necessidade de uma praia vem da
própria definição de naturismo: um modo de vida em harmonia com a
natureza, caracterizado pela prática da nudez social. Ou seja, sem apelo
sexual. "Não há nada de sexo. Somos respeitosos com as pessoas e entre
nós, gostamos de praticar esportes e curtimos a praia como todos gostam
de curtir", diz Renata. Entretanto, não existe uma lei federal que
assegure os direitos dos naturistas, eles são regidos por leis
municipais. Geralmente, o pedido para transformar uma praia em naturista
é feito às prefeituras. Depois disso, ela debate com a população e pode
aprovar ou rejeitar.
Praias de nudismo pelo Brasil
- Conheça belas praias espalhadas pelo litoral brasileiro para curtir o verão bem à vontade
Praia Brava: negociações interrompidas
A procura por uma praia se dá após um projeto frustrado de transformar
em naturista a Praia Brava, em São Sebastião, litoral norte de São
Paulo. Localizada ao lado da praia de Boiçucanga, trata-se de um espaço
de ondas fortes, pouco frequentada principalmente por causa ao difícil
acesso. Lá só se chega por uma trilha de 2 km, com subidas e descidas
íngremes, ou de barco. Há quase quatro anos, grupos praticantes tentavam
se introduzir na comunidade local e divulgar os princípios do
naturismo. Entretanto, depois de um início próspero e de diálogos
abertos, moradores se demonstraram contrários à ideia.
"Tivemos
um bom início de contato com reunião com a associação e apresentação de
vídeo mostrando nossa prática. Também visitamos a praia ao lado de um
guia oferecido pelos próprios moradores que, inclusive carregaram
lanches e bebidas para comprarmos na praia e fazermos um piquenique",
diz. Entretanto, após a visita, os moradores locais não concordaram em
dividir o lugar. Em dezembro deste ano, um grupo naturista de 24
pessoas, entre elas crianças, foi convidado a se retirar da Praia Brava.
Eliane Bortoluzzi, moradora de Boiçucanga, local próximo à Praia Brava,
é uma das pessoas que são contra o nudismo na região. "Moro muito perto
e frequento a Praia Brava com a minha filha adolescente. Também há
muitos jovens que visitam e até passeios de escola, com crianças. Não
sou a favor de se transformar em praia naturista", diz. Uma outra
moradora, que prefere não se identificar, aponta outro motivo: "Esse é
um parque estadual, uma reserva. A lei não permite nenhum tipo de
atividade que não preserve o parque. Isso não pode mudar. Sou contra
qualquer tipo de movimentação. As poucas pessoas que frequentam a trilha
já deixam lixo."
Contudo, os naturistas encontram simpatizantes
entre alguns moradores, principalmente os que trabalham com serviços de
turismo, como Mauro Moreira, morador de Boiçucanga e proprietário do
Porangaba Camping. "Acho que atrairia mais turistas, principalmente um
público segmentado. Não é muita gente que frequenta a Praia Brava, pois
não é fácil de chegar nela", afirma. O morador José Benedito dos Santos,
que faz passeios de barco para o lugar, também apoia a causa. "Não acho
que os naturistas prejudicariam. Frequentar a praia sem roupas, para
mim, está tudo bem. Seria maravilhoso ver gente bonita numa praia
linda", afirma.
A Prefeitura de São Sebastião se mantém
imparcial. "A posição do município não está formada", afirma Marianita
Bueno, secretária de Cultura e Turismo de São Sebastião. Segundo
Marianita, isso acontece por causa da falta de uma lei estadual --a
praia pertence à área de proteção ambiental do Parque Estadual Serra do
Mar. "Uma praia de naturismo exige a aprovação de uma lei numa Câmara
Municipal e audiências públicas para debater com a população. Isso não
aconteceu em São Sebastião", diz a secretária.
Questionada sobre
a possibilidade do naturismo fomentar o turismo na região, Marianita se
mostrou cética. "Queria ver uma pesquisa de outras praias de naturismo
para saber o quanto aumentou o número de turistas. Nós recebemos 1,5
milhão de visitantes por ano em São Sebastião. Não sei se faria muita
diferença um grupo pequeno de 20 frequentadores a mais", afirma. Diante
do debate, a FBrN preferiu recuar e pausar as negociações. "Não
desistimos, mas precisamos de um tempo em silêncio para podermos avaliar
outros espaços que possam nos atender", diz Renata.
Ampliar
Evento com pelados propõe ignorar preocupações com o corpo13 fotos
Homens
e mulheres entram nus no mar para nadar, em Sydney (Australia), neste
domingo (17). Eles participam de evento que incentiva as pessoas a
tentarem algo diferente e estimula que se joguem fora as preocupações
com a imagem corporal William West/AFP
A praia perfeita
Orla tranquila, areia deserta, com poucos moradores e número pequeno de
frequentadores. Se estiver cercada por costões, encostas de morros ou
por árvores e mato alto, ainda melhor. O acesso um pouco mais difícil
também é um quesito importante. "Geralmente, os frequentadores de
lugares menos acessíveis não se incomodam com a nudez. Alguns são até
adeptos de tomar sol de corpo inteiro", afirma Renata.
Antes de
efetuar um pedido de legalização de nudismo a uma prefeitura, os grupos
naturistas costumam frequentar as praias e conscientizar a população
local sobre a prática do nudismo. "Visitamos e observamos a frequência
da área e perfil dos usuários. Vamos entrando em contato e
experimentando a nudez para verificar a aceitação", explica Renata.
Somente com a aceitação dos moradores é feito o pedido à prefeitura.
"Também devemos ter um grupo de naturistas por perto que possa estar
sempre pela praia. Se não marcarmos presença, os moradores que não
aceitam a nudez acabam ocupando o espaço", diz Renata Freire. Por isso
mesmo, ela está dando mais um passo em direção à primeira praia de
nudismo de São Paulo. Ela está estruturando um grupo em São José dos
Campos, cidade que fica mais próxima do litoral.
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/12/27/procura-se-uma-praia-praticantes-de-nudismo-buscam-espaco-no-litoral-paulista.htm