Activistas acusam o governo de não ter dado apoio suficiente às pessoas
que fugiram das suas casas para não estarem expostas às radiações
Em muitas aldeias e cidades por todo o Japão realizaram-se ontem
homenagens em que foi feito um minuto de silêncio em memória das mais de
18 mil pessoas vítimas do sismo e consequente tsunami que devastaram o
país a 11 de Março de 2011. Desde então, e porque o desastre também
provocou uma crise nuclear na central de Fukushima Daiichi, a maioria
dos reactores do país continua desactivado.
“Fico sempre profundamente comovido ao ver tantas pessoas a levarem as
suas vidas sem se queixarem”, afirmou o imperador Akihito, invocando a
memória das vítimas do desastre. “Espero ser capaz de partilhar pelo
menos um pouco do seu sofrimento”, sublinhou, desejando que as vidas
perdidas não sejam esquecidas, nem as pessoas que vivem “nestas
condições difíceis, nos refúgios na região afectada”. Já o
primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, também presente na cerimónia em
Tóquio, prometeu apressar os trabalhos de reconstrução.
“O Japão não
nunca mais viverá uma verdadeira Primavera se a Primavera não chegar ao
Nordeste do Japão. Prometo não esquecer o peso de cada dia e prometo
acelerar a reconstrução da região”, afirmou. “Vou transformar o Japão
num país resiliente nos desastres, ao mesmo tempo que ficarei ao lado
das pessoas afectadas”, rematou, numa altura em que o governo já gastou
milhões de dólares com os trabalhos.
Depois de o tsunami ter provocado o pior acidente nuclear desde
Chernobyl (em 1986), os activistas antinuclear da Greenpeace têm vindo a
acusar o governo japonês de não ter dado apoio suficiente às pessoas
que fugiram das suas casas nas regiões destruídas, por forma a não
ficarem expostas às radiações. Segundo membros da organização, muitas
delas ficaram arruinadas economicamente, os divórcios têm aumentado e os
esgotamentos nervosos também. “Estas pessoas precisam de uma
compensação adequada e apoio para reconstruírem as suas vidas”, disse a
Greenpeace em comunicado. Segundo os dados actuais, 315 196 pessoas
estão ainda sem residência fixa, vivendo muitas delas em pequenas
unidades habitacionais temporárias. Por seu turno, na fábrica nuclear de
Fukushima Daiichi (220 quilómetros a nordeste de Tóquio), onde quatro
dos seis reactores foram atingidos pelo tsunami, a situação estabilizou,
mas vão ser necessários 40 anos até serem desmantelados.
Rin Yamane recordou à AFP o dia em que perdeu a sua mãe na catástrofe.
“De repente estávamos no meio de um mar negro… Só quando a vi na morgue,
alguns dias mais tarde, soube que era verdade”, explicou a jovem.
Passados dois anos, a polícia da autarquia de Miyagi continua à procura
de desaparecidos. “Há um ano que não encontramos corpos”, disse o
polícia Toshiaki Okajima, explicando que no município existe ainda uma
lista de 1300 desaparecidos e que a esperança das famílias não
desapareceu. “Por isso é que temos de continuar à procura”, acrescentou.
http://www.ionline.pt/mundo/japao-mais-300-mil-pessoas-ainda-vivem-abrigos-temporarios