Jader Marques, advogado de defesa de Elissandro Spohr, um dos donos da
boate Kiss, afirmou que 830 convites da festa Agromerados foram distribuídos para estudantes da Universidade Federal de
Santa Maria
(UFSM) venderem uma semana antes do evento que terminou com 235 mortos.
Ele disse que mais de 200 convites foram devolvidos pelos
universitários, mas admitiu que outras pessoas podiam pagar na porta e
outras festas de aniversário ocorriam na casa, que suporta no máximo 691
pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros.
"A casa tinha um fluxo
dinâmico. Quando dava a lotação de 700 pessoas ninguém mais entrava. O
dia mesmo da festa não estava aquela maravilha que o Kiko esperava. A
casa estava meio vazia até", argumenta o advogado. A Polícia Civil ouviu
uma funcionária da casa, porém, que diz ter separado mil comandas para
serem vendidas na noite do dia 26.
"As pessoas que ouvimos até
agora relatam que a casa estava lotada", afirma o delegado regional
responsável pelo caso, Marcelo Arigony. "Já os funcionários dizem que a
boate estava apenas cheia."
Marques disse que a boate "tinha
plenas condições de funcionamento e que o dono não sabia da apresentação
com sinalizadores da banda. "Aquilo foi uma surpresa, para causar
frisson", afirmou o advogado.
Extintores. Ontem a polícia ouviu mais 14 testemunhas. Uma reconstituição do acidente também foi feita no interior da
boate Kiss
com cinco sobreviventes. Segundo depoimento prestado por Vanessa
Vasconcelos, de 31 anos, ex-gerente da boate, Kiko também mandava
retirar os extintores das paredes por questão estética. Ela trabalhou na
casa de dezembro de 2010 a dezembro de 2012 e sua irmã morreu na
tragédia. "Ele achava feio os extintores. Mandava a gente tirar. Só
colocava de volta quando ia ter inspeção", disse Vanessa.
Os donos
da casa noturna, no entanto, afirmam que na noite do acidente a casa
tinha todos os equipamentos necessários contra incêndio.
Pelos
depoimentos, a polícia descobriu que o extintor usado por um dos
seguranças da casa para tentar controlar o início do incêndio realmente
não funcionou. Os cinco extintores da boate tinham sido recarregados em
outubro pela empresa Previ. "Me pagaram R$ 50 para recarregar cada um.
Mas, se alguém tira o lacre ou faz qualquer manuseio errado, eles podem
falhar na hora de serem acionados", afirmou Carlos Weber, dono da Previ.
A defesa do proprietário da Kiss negou que o local dos extintores
tivesse sido mudado.
Reforma. Marques admitiu ainda que o
proprietário construiu "uma nova face" para a boate que não constava do
projeto original. "Como eu disse, foram reformas feitas para melhorar o
atendimento ao público e em um período no qual já estávamos esperando a
nova vistoria dos bombeiros. Não sei dizer se a fiscalização da
prefeitura chegou a ir lá e constatou as mudanças", diz o advogado, que
também defendeu o goleiro Bruno Fernandes no caso da morte da modelo
Eliza Samudio.
Para a defesa, os argumentos da prisão temporária
de Spohr e do outro sócio-proprietário, Mario Hoffmann, não têm mais
validade. "A prisão temporária foi justificada sob a suspeita de que os
donos tinham escondido câmeras do circuito interno de segurança. Mas
tenho aqui uma assinatura do dono da empresa que fazia a manutenção dos
equipamentos dizendo que eles não estavam funcionando." / DIEGO
ZANCHETTA
Suicídio. Elissandro Spohr, um dos donos da boate, teria
tentado o suicídio no hospital onde está internado sob custódia
policial em Cruz Alta, a 130 km de
Santa Maria.
A delegada Lylian Carús afirma que ele tentou se enforcar com a
mangueira do chuveiro na noite de anteontem. "Por sorte os policiais que
estavam no quarto perceberam", disse o advogado Jader Marques.
Já
o cardiologista Paulo Ricardo Nazário Viecili, que atende o empresário,
contesta esta versão e diz que seu paciente teve uma crise nervosa.
Segundo Viecili, o empresário está sob efeito de sedativos e não há
previsão de alta. Spohr está no hospital desde a segunda-feira, com a
mulher, grávida de quatro meses. Ambos estavam na boate na noite do
incêndio e inalaram fumaça.
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