SÃO PAULO - A consultoria Economática divulgou ontem um levantamento
com grandes bancos brasileiros e americanos. O resultado não foi nenhuma
novidade. Desde 2002, as instituições financeiras brasileiras têm dado
um "banho de lavada" nas americanas quando o assunto é rentabilidade.
Apesar do ROE (rentabilidade sobre o patrimônio líquido) não ser tão
alta quanto em 2006 (quando bateu 33,16%), os bancos brasileiros
superaram, e muito, os americanos em 2014: 18,23%, contra 7,68%,
respectivamente.
O que chamou atenção, no entanto, foi um ponto
pouco ressaltado no estudo. Retirando o filtro dos grandes bancos (ou
seja, aqueles que possuem ativo total superior a US$ 100 bilhões), a
média dos ROEs de todos os bancos brasileiros e americanos praticamente
coincidem (ver no gráfico abaixo). Os brasileiros encerraram 2014 com
rentabilidade de 9,80%, contra 8,47% dos americanos.
O que
explicaria tamanha diferença? Um dos fatores possíveis de se observar no
primeiro momento é que o ROE dos grandes bancos brasileiros, na
verdade, é puxado principalmente por duas instituições: Itaú Unibanco
(ITUB4), que encerrou o ano passado com 22,68% de rentabilidade sobre o
patrimônio líquido (figurando disparado na liderança dos bancos
brasileiros e americanos), seguido por Bradesco (BBDC3; BBDC4), com
19,81%. À margem, aparecem Banco do Brasil (BBAS3), que apesar de ter
fechado o ano com o indicador em 16,65%, só vem perdendo em ROE - queda
de 7,35 pontos percentuais na comparação com 2013 -, e Santander
(SANB11), com míseros 3,90%.
Passando por essa observação, a
segunda mais lógica é que os bancos grandes se diferenciam dos médios
por vários motivos, entre eles, o mais óbvio: o próprio porte. Isso
possibilita um custo de captação mais barato, dado o menor risco de
solvência. O segundo trata-se pela diversificação de receitas. Os
grandes bancos ganham dinheiro não apenas com a margem financeira
(empréstimos e aplicações em títulos públicos e privados), mas também
com receitas de serviços e seguros. Terceiro, os grandes bancos
desfrutam de elevados créditos tributários, seja diante dos robustos
provisionamentos, seja por conta de aquisições efetuadas.
Ok. Com
tudo isso na conta, seria de se esperar que a rentabilidade dos menores
fosse realmente inferior a dos grandes bancos, mas a questão principal
aqui é que essa diferença nem sempre foi tão gritante. Em 2008, por
exemplo, antes do estouro da crise, a média do ROE de todos os bancos
brasileiros estavam em 21,2%, contra cerca de 25% quando considerado
apenas os grandes bancos. No pós-crise, é que essa relação se perdeu e o
ROE de todos os bancos desabou para 10,6% em meados de 2009 - um pouco
acima do atual patamar, de 9,8%, e bem abaixo do registrado pelos
grandes bancos, em torno de 20% naquele ano.
Dito isto, o que
explicaria esse afastamento nos últimos anos? A economia. Depois do
baque de 2009 e passado anos de euforia brasileira, a economia do País
voltou a degringolar e os bancos de médios e pequenos não conseguiram
acompanhar a concorrência que os grandes começaram a travar.
A
desaceleração econômica fez com que os grandes bancos invadissem a área
dos bancos médios e pequenos, especificamente em créditos consignados.
Diante da entrada acirrada dos grandes, uma onda de associações começou a
se espalhar pelo setor: o BMG com o Itaú; o Bonsucesso com o Santander;
o BMC com o Bradesco; e, por fim, o Nossa Caixa com o Banco do Brasil.
"Eles optaram por abrir mão do controle para ganhar em margem. Quem não
fez isso ficou para trás", explicou João Augusto Frotta Salles, da
consultoria Lopes Filho.
Dos que têm capital aberto hoje na
Bolsa, a lista dos bancos que passam por situação complicada é extensa: o
BicBanco (BICB4) sucumbiu e precisou ser vendido para um banco chinês.
Sofisa (SFSA4), Banco Pine (PINE4) e Indusval (IDVL4) não passam longe
de um cenário turbulento. O que está em situação melhor é o Daycoval
(DAYC4), que é o mais bem administrado, comentou Salles.
Dos
bancos focados em investimentos, a realidade também não é muito
diferente dessa, com a atividade fraca no mercado de capitais. "O BTG
Pactual (BBTG11), por exemplo, também não está muito bem na foto",
afirma o analista. Há também os bancos de montadoras, que atravessam um
período complicado na venda e financiamento de veículos.
Em meio a tudo isso, como Itaú e Bradesco se salvaram?
O
Itaú e Bradesco têm buscado eficiente nos últimos anos, com corte de
custos e avanços tecnológicos, o que também contribuiu para reduzir
despesas. Além disso, um aspecto ainda mais importante é que essas
instituições melhoraram muito suas carteiras de crédito ao longo dos
anos, diminuindo financiamentos em veículos e a empresas de médio porte,
que são os segmentos mais propensos à inadimplência em períodos de
desaceleração econômica, explicou Salles.
Por outro lado, elas
têm elevado em crédito consignado, que é mais difícil de ter
inadimplência pois o desconto é feito em folha; no imobiliário, que tem o
imóvel como garantia; e para grandes corporações. Com tudo isso feito, o
Itaú e Bradesco conseguiram reduzir muito suas despesas com
provisionamento para crédito, o que contribuiu para o bom resultado em
2014, destacou.
Já o BB não conseguiu acompanhar o ritmo deles e
por isso vem perdendo em eficiência, em grande parte pois tem sido usado
como instrumento do governo para ajudar a dar sustentação a uma
economia cambaleante. Outra questão é que o BB é muito ligado ao crédito
agrícola, que tem uma margem muito apertada. "Ele é o mais engessado,
não consegue fazer tantos cortes e fica para trás. Nunca conseguirá ter
um desempenho como Itaú e Bradesco", argumenta Salles. Ele ressaltou
ainda que no último ano as despesas do banco com provisionamento, na
contramão do Itaú e Bradesco, cresceram muito, já que tem uma carteira
de crédito muito superior a de seus pares. Com isso na conta, a resposta
não poderia ter sido diferente e o banco foi o único entre os grandes a
apresentar queda no ROE na comparação de 2013 e 2014: caindo de 24%
para 16,65%.
Confira abaixo o gráfico com a evolução da rentabilidade de todos os bancos brasileiros vs americanos:
© Gráfico: InfoMoney
Gráfico de rentabilidade de todos os bancos brasileiros vs americanos.
A seguir o gráfico apenas com a rentabilidade dos bancos com ativo superior a US$ 100 bilhões:
http://www.msn.com/pt-br/dinheiro/economiaenegocios/por-que-s%C3%B3-ita%C3%BA-unibanco-e-bradesco-ganham-dinheiro-no-brasil/ar-AA9YIBn