O protesto de servidores na tarde desta quarta-feira (16) contra pacote
de medidas fiscais proposto pelo governo do estado foi marcado por
confronto, tumulto e agressões a jornalistas.
Servidores protestam contra o pacote de cortes do governo do estado em frente ao prédio da Alerj
Os manifestantes concentraram-se em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para acompanhar a votação de dois projetos que fazem parte do pacote. O protesto começou tranquilo e ficou tenso depois que manifestantes tentaram ocupar a escadaria do prédio e derrubaram a grade de proteção.
Os manifestantes concentraram-se em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para acompanhar a votação de dois projetos que fazem parte do pacote. O protesto começou tranquilo e ficou tenso depois que manifestantes tentaram ocupar a escadaria do prédio e derrubaram a grade de proteção.
A polícia reagiu com bomba de gás, spray de pimenta e até cavalos para
conter os manifestantes e impedir a entrada deles na assembleia.
Comerciantes fecharam as portas com medo de depredação.
Agressões
Quatro jornalistas foram agredidos por manifestantes quando faziam a
cobertura do protesto. A maioria dos manifestantes era de policiais
militares, bombeiros e agentes penitenciários. O repórter Caco Barcelos,
da Rede Globo, foi hostilizado e agredido quando gravava uma
reportagem. Ele acabou sendo expulso do local, sob gritos, vaias,
agressões físicas e objetos foram jogados em sua direção. O repórter
Guilherme Ramalho, do jornal O Globo, também foi agredido e impedido de
trabalhar.
O repórter Gustavo Maia, do portal de notícias UOL, teve o celular
arrancado de sua mão pelo tapa de um manifestante, quando gravava o
protesto. O aparelho não parou de gravar mesmo após cair no chão. O
rosto do agressor pode ser visto nas imagens. Um repórter do G1 teve a
máscara de proteção arrancada de seu rosto e ainda levou um soco no
braço, quando se identificou como repórter. Ele foi xingado.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de
Janeiro criticou em nota, divulgada nesta noite, as agressões aos
jornalistas. "O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do
Rio de Janeiro repudia o recrudescimento das agressões a jornalistas no
exercício de suas funções. Hoje, durante as manifestações que vêm
acontecendo em frente à Alerj, contra as propostas restritivas ao
funcionalismo público, feitas pelo governo do estado, diversos
profissionais foram agredidos. Essa prática de agressão a jornalistas
está se tornando um hábito nefasto, que fere o direito à informação e
espelha o ódio e o desrespeito cada vez mais presentes em determinados
segmentos da sociedade", disse a entidade.
"Raia graúda"
Durante o protesto, várias categorias de servidores participaram. A
maioria - policias civis, militares e bombeiros - exibia faixas dizendo
que pretendem parar de trabalhar caso não recebam o décimo-terceiro
salário: "Sem 13º, sem réveillon". Outra, dos servidores da Justiça,
questionava a redução da cobrança de impostos para o setor produtivo. "É
justo dar isenção fiscal e quebrar o estado?", dizia, sobre os
benefícios.
O coordenador do Sindicato de Servidores do Poder Judiciário
(Sindjustiça), Fred Barcelos, disse que o "plano B" da população para a
crise econômica é o protesto. "Esse pacote é um arrocho em cima da
população e dos servidores", afirmou. Para ele, o governo quer
enfraquecer o funcionalismo. "O servidor público serve ao público,
acabar com o funcionalismo é arrochar ainda mais a população. Querem
cortar os aluguéis sociais, os restaurantes populares, enquanto gastam
milhões com jantares e flores", criticou.
O pacote do governo prevê é cortar o pagamento de cerca de 10 mil
beneficiários do aluguel social - em geral, moradores de áreas de risco,
que recebem até R$ 500 por mês -- e restaurantes populares, onde o
almoço custa R$ 2, além de aumentar alíquotas de contribuição
previdenciária de servidores ativos e aposentados. O objetivo é
economizar R$ 13,3 bilhões ainda este ano com as medidas. Por outro
lado, segundo a Comissão de Orçamento da Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj) o governo do estado deixa de rever despesas próprias, com frutas
secas, coroas de flores, alugueis de imóveis e vagas para carro.
Outra queixa dos servidores é os auxílios que alguns funcionários
recebem para cobrir gastos com moradia e educação e que podem passar de
R$ 5 mil por pessoa. "Os magistrados e os promotores têm um monte de
auxílios [somados aos salários] e até gasolina de graça. É justo cortar
da raia miúda, com tanta gente ganhando tanto? Tem que ir na raia
graúda", disse a funcionária aposentada da Justiça, Fátima Lopes.
As categorias também cobram diálogo e criticam a convocação de
policiais de outros estados para fazer a segurança no Rio. Homens da
Força Nacional chegaram ontem (15) de emergência para reforçar a
segurança na Alerj, onde foi colocada mais uma grade para impedir a
aproximação de manifestantes.
Governo do Rio
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, disse hoje (16)
que a violência não trará benefício ao debate sobre a crise financeira
do estado e pediu que manifestantes levem ideias e não violência à
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Pezão defendeu que as medidas buscam dar previsibilidade à folha de
pagamento do estado, que, segundo ele, ainda não está garantida para os
próximos dois anos. Pezão disse que só há dinheiro para pagar dez meses
de salários dos servidores ativos e inativos nos próximos dois anos.Caso
nada seja feito, a previsão é de um déficit de R$ 52 bilhões até
dezembro de 2018.
Alerj
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) discutiu
na tarde de hoje (16) os dois primeiros projetos do pacote de 22 medidas
enviadas pelo governo estadual para ajustar as finanças. Serão
debatidos dois projetos por dia e as votações devem ocorrer em dezembro.
O primeiro projeto debatido reduz de 40 para 15 salários-mínimos o teto
para pagamento em dinheiro de dívidas determinadas pela Justiça. Acima
desse valor, a dívida pode ser paga em precatório. O outro projeto corta
o salário do governador, vice-governador e secretários estaduais em
30%. Os deputados apresentaram emendas para proibir que os ocupantes
desses cargos acumulem vencimentos que ultrapassem o teto constitucional
do estado.
O presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), disse que o
Parlamento está disposto a contribuir para resolver a crise. "Nós temos
dado tudo o que o Executivo pediu. A crise é nacional, aprofundada por
um governo que se perdeu. Mas o Legislativo dará a sua contribuição".