Turistas estrangeiros gastaram R$ 650 milhões na temporada passada no estado.
A restrição à compra de moedas estrangeiras
tem tornado mais difícil, para os argentinos, viajar para fora do país –
e as consequências disso já são sentidas no litoral catarinense, onde
eles representam uma parte importante das receitas do turismo local.
Segundo donos, funcionários e representantes de hospedagens ouvidos pelo iG
, esta será uma temporada atípica, na qual menos argentinos serão vistos no litoral do estado.
“A ocupação da minha pousada em janeiro costuma ter 90%
de argentinos, mas, neste ano, terá 95% de brasileiros”, diz o
proprietário de uma das principais hospedagens da Praia do Rosa, em
Imbituba (SC), tradicional destino dos estrangeiros no estado.
"Neste Ano Novo, não tivemos nenhum argentino", afirma o
funcionário da principal pousada de Canasvieiras, praia de Florianópolis
que também costuma rebecer grande número de visitantes de fora. "Agora
que começaram a chegar alguns, mas só os que vêm com agência de viagem;
os que chegam de carro não estão vindo", afirma.
Segundo o funcionário, a ausência dos argentinos tem sido
atenuada por uma ocupação maior dos brasileiros. "Apesar de com certeza
ser uma temporada diferente, estamos lotados, com 100% de ocupação,
talvez porque também não esteja fácil para os brasileiros viajarem para
fora", diz.
A situação é parecida em Balneário Camboriú (SC), onde os
turistas estrangeiros representaram mais de 40% dos visitantes de
fevereiro do ano passado. Somente naquele mês, a cidade recebeu 137 mil
turistas de fora do País.
"Acredito que uma eventual diminuição de argentinos em
janeiro e fevereiro seria compensada por turistas brasileiros, que
viajam muito nessa época", afirma Dirce Fistarol, diretora de hospedagem
do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes e Bares de Balneário Camboriú.
"De março em diante, já é uma incógnita", afirma.
"O problema não é econômico, os argentinos continuam
tendo dinheiro para viajar, mas sim fiscal, já que eles não conseguem
comprar dólares", diz Dirce, que também é proprietára de um hotel na
cidade. "Vimos que eles estão usando mais o cartão de crédito, mesmo com
a taxa de 15% que pagam para isso", diz.
A Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Santa
Catarina ainda não possui dados de ocupação da temporada atual. Segundo
funcionários informaram à reportagem, o órgão irá a campo nesta semana
para iniciar a coleta de informações.
Em janeiro do ano passado, turistas estrangeiros
responderam por 15% das visitas a Santa Catarina, índice que subiu para
20% em fevereiro. São os visitantes que mais gastam – R$ 79,5 por dia em
janeiro, contra R$ 69,6 dos nacionais – e que mais tempo ficam no
destino – 10,5 dias em janeiro, contra 7,3 dos nacionais.
Os argentinos respondem por mais de 75% dos estrangeiros
que visitaram o estado em fevereiro passado – não há dados para janeiro.
Mas em destinos como a Praia do Rosa, Canasvieiras, Ingleses e
Balneário Camboriú a importância deles para o turismo é tradicionalmente
maior.
Em números absolutos, mais de 600 mil estrangeiros
visitaram o litoral catarinense nos três primeiros meses do ano passado,
e geraram uma receita superior a R$ 650 milhões para o turismo do
estado. Os dados são da Santa Catarina Turismo (Santur).
Entenda o caso
Em 2012, o governo de Cristina Kirchner aprofundou
medidas que restringiam a compra de moeda estrangeira pelos argentinos.
As novas regras determinavam que eles não poderiam mais comprar dólares
para poupar – uma tradição do país, para proteger as economias
familiares da inflação.
Além disso, as medidas criavam restrições para a compra
de moedas a fim de se fazer viagens de turismo. Essa operação passaria a
depender da aprovação da Administração Federal de Ingressos Públicos.
Na prática, quem quiser comprar moeda estrangeira para
viajar precisa justificar o valor com base no número de dias no destino,
e pode ter a vida fiscal bisbilhotada pelo órgão público, afirmaram
alguns cidadãos à reportagem.
O objetivo do governo, segundo especialistas, é forçar a
população a poupar usando o desprestigiado peso, além de manter altas as
reservas de dólares, importantes para se garantir a estabilidade em
tempos de crise financeira internacional.
http://economia.ig.com.br/2013-01-15/restricoes-a-compra-de-dolar-reduz-numero-de-argentinos-no-litoral-de-sc.html