BRASÍLIA - "Nós existimos". Foi com essa frase que o pastor e
escritor Joide Pinto Miranda começou e encerrou sua exposição durante a
audiência pública que ouviu depoimentos de ex-homossexuais na Comissão
de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 24.
Levantando uma foto antiga em que mostrava sua fase de travesti e depois
mostrando um cartaz ao lado de sua família, Miranda disse ainda que sua
experiência pode provar que ninguém nasce gay. "É uma conduta que pode
ser desaprendida", afirmou.
Para uma plateia formada por
parlamentares evangélicos, a maioria dos depoentes atribuiu a mudança na
sexualidade a Deus. Eles disseram que apenas na igreja encontraram o
amparo necessário para superar os traumas que os levaram a ter relações
com pessoas do mesmo sexo. Alguns criticaram o Conselho Federal de
Psicologia, que proíbe que se trate homossexualidade como doença e que
psicólogos ofereçam "a cura gay".
Em comum, todos relataram que
foram vítimas de abuso, e que a violência a que foram submetidos foi a
principal razão para continuar as práticas homossexuais. Todos afirmaram
que "nunca foram" e "nem nasceram" e sim "estavam" gays. "Hoje sofro
preconceito quando digo que sou ex-gay. Na verdade nunca fui gay, nasci
heterossexual, mas a vida me levou para esse caminho", disse Miranda,
que diz ter sofrido abuso aos seis anos de idade e apontou influência
também da ausência paterna.
A estudante de psicologia e
radialista, Raquel Celeste Vasconcelos Guimarães disse que desenvolveu
uma repulsa por homens após ter sido abusada dos 8 aos 15 anos e que
começou a sentir desejo por mulheres aos 11 anos. "Isso foi se
desenvolvendo e me assumi, achei que tinha encontrado a felicidade",
disse, ressaltando que é feliz mesmo atualmente ao estar casada com um
homem. "Deixei essa opção sexual. Nunca fui homossexual, foi devido à
situação que me aconteceu", afirmou.
O pastor Robson dos Santos
Alves, ao começar seu depoimento, disse que estava vivendo na audiência
desta quarta uma "coisa sobrenatural". "É um marco o que está
acontecendo", disse. Ao contar sua história, Alves afirmou que, após ser
abusado, "se sentia sujo" para se relacionar com mulheres. "Deixei a
prática homossexual com a ajuda de Deus e da fé. A verdade é que nunca
fui gay", disse.
A audiência teve ainda o depoimento da esposa de
um ex-gay. Ana Paula Cavalari disse que o marido é um pai exemplar e
que "nunca foi verdadeiramente gay". "Ele sempre foi heterossexual. Ele
foi levado para o homossexualismo por conta de abusos e traumas", disse.
"Sou esposa de um ex-gay, somos felizes e casados há 20 anos e também
sofro preconceito. Existo também", disse.
O também pastor e
radialista Arlei Lopes Batista disse que seu processo de construção da
homossexualidade começou no ventre da sua mãe. "Minha mãe não desejou um
homem, ela me desejou mulher. Ela me vestia de mulher até os quatro
anos e isso me deixou confuso", disse. Batista, que também disse ter
sido abusado, afirmou que continua sofrendo preconceitos por conta dos
seus trejeitos femininos. "Se a minha mão mexe para lá ou para cá, ela
não define quem eu sou. O que define quem eu sou é o que eu acredito. E
eu sou homem", disse.
Oxalá. O pastor e deputado
federal Marco Feliciano (PSC-SP), que fez o requerimento para a
audiência pública, disse que toda a sociedade precisava assistir aos
depoimentos. "Oxalá que toda a sociedade estivesse assistindo", afirmou,
pedindo aos deputados que procurassem o vídeo e gravassem 5 mil cópias
em DVD de "alta resolução para esparramarem" pelo País.
Feliciano
negou que a realização da audiência seja uma tentativa de ressuscitar o
projeto que ficou conhecido como "cura gay". "Não existe cura, porque
não é doença. É um fenômeno de comportamento", afirmou.
"Homossexualidade se tornou um modismo".
Coube ao deputado Adelmo
Carneiro Leão (PT-MG) uma das falas contrárias a dos parlamentares
evangélicos. O petista disse que era errado afirmar que todos os gays
sofreram abuso sexual. "Não podemos dizer que todos sofreram abusos,
certamente não foi. Nem que o abuso leva a homossexualidade. Não é",
disse.
Presente na audiência, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ)
chegou a fazer uma intervenção para pedir que o presidente da Comissão,
deputado Paulo Pimenta (PT-RS), se declarasse impedido de conduzir os
trabalhos. O pedido foi indeferido pelo petista, que disse que, apesar
de ter sido contrário à realização da audiência, estava tendo um
comportamento isento. "Não me julgue por aquilo que vocês eventualmente
façam", disse a Bolsonaro.
Os deputados Erika Kokay (PT-DF) e
Jean Jean Wyllys (Psol-RJ), defensores da causa gay, foram bastante
criticados por não estarem presentes na audiência. O deputado Major
Olímpio (PDT-SP) disse que os críticos à audiência são "covardes e
omissos". "Sabem nos denominar a bancada da bala, a bancada da bíblia,
mas não têm moral de olhar no olho e debater", disse.
Apesar do
tema polêmico, a plateia em sua maioria apoiou o tema e aplaudiu os
depoimentos e as falas dos deputados da bancada evangélica. Um pequeno
grupo de simpatizantes da causa gay, com bandeiras coloridas, assistiu à
audiência, tentou fazer algumas intervenções e chegou a bater boca com
alguns parlamentares e presentes. Já no fim, eles aplaudiram e gritaram
frases de "me representa" ao deputado Adelmo Carneiro Leão (PT-MG), que
discursou ponderando opiniões dos parlamentares anteriores.
http://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/na-c%C3%A2mara-ex-gays-dizem-que-nunca-foram-homossexuais-de-fato/ar-AAc4B7p