Em março de 2013, objeto semelhante - tratava-se de uma colônia de fungos - foi encontrado em embalagem; no mesmo mês, 14 clientes beberam produto de limpeza vendido no lugar do suco
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"AE"
Novamente uma caixinha de Ades não trazia apenas suco. Após a filha do consumidor Marcelo Fernandes sentir um gosto desagradável ao beber o produto, o conteúdo foi despejado na pia, para que a embalagem fosse jogada no lixo. Havia algo sólido lá dentro. Quando foi aberta, a surpresa: uma "gosma" de difícil identificação.
"Se isso acontecesse em outro país, sabe-se lá o que poderia ser dessa empresa", diz o engenheiro, de 41 anos. A "gosma" foi encontrada no lote SAP 547876 do suco Ades, de 1 litro, sabor pêssego.
Marcelo fez duas reclamações. Uma, à Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP). Entre outras coisas, a instituição informou que "sempre que o consumidor adquirir alimento e constatar que ele apresenta qualquer problema que o torna impróprio ao consumo, deve solicitar ao fornecedor a sua substituição ou devolução dos valores pagos".
A segunda queixa do consumidor foi feita à Ades, em sua página no Facebook. Na mensagem, ele pede esclarecimentos (veja a conversa completa na galeria acima).
Em resposta pela rede social, Ades pediu calma: "Fique tranquilo, nós vamos te ajudar!". E deu a entender que o responsável pelo problema talvez seja o próprio cliente: "Qualquer amassadinho na embalagem pode causar micro furos permitindo a entrada do ar, que em contato com o produto, sem conservantes, pode causar fungos."
Procurada pela reportagem, a Unilever, fabricante do Ades, telefonou rapidamente para o cliente - "para oferecer todo o suporte necessário", disse a empresa em nota.
De acordo com Marcelo, não foi bem assim. A empresa não se desculpou pelo ocorrido, diz ele. Pediu para que Marcelo entregasse o material para análise, o que ele se negou a fazer. "Vou enviar para um laboratório de minha confiança e tomarei as medidas cabíveis", afirma. O representante da Unilever, de acordo com o consumidor, indicou mais uma vez que o incidente seria fruto de problemas armazenamento, ou seja, que a marca estaria isenta.
Em nota enviada à reportagem, a Unilever fez o mesmo: "Qualquer dano à caixa ou ao lacre durante o manuseio, distribuição ou armazenamento pode comprometer a qualidade do alimento. Após aberto, a recomendação é de que Ades seja consumido em no máximo três dias, conforme rótulo das embalagens".
A empresa diz estar à disposição de todos os consumidores para eventuais esclarecimentos no telefone 0800-707-9977 ou pelo e-mail sac@atendimentounilever.com.br.
Antecedentes. Não é a primeira vez que o suco Ades traz problema semelhante a um consumidor. Em março de 2013, circulou pela internet imagem de "gosma" como a encontrada neste episódio. A Unilever usou a mesma explicação. Declarou que a embalagem pode ter recebido micro furos durante o transporte ou armazenamento inapropriado; e que a "gosma" de então seria ou bolor ou uma colônia de fungos.
No mesmo mês, houve caso ainda mais grave e de sérias consequências. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a suspensão da fabricação, distribuição, comercialização e consumo, em todo o território nacional, de determinados produtos da marca Ades. A punição aconteceu "por suspeita de não atenderem às exigências legais e regulamentares" do órgão.
Na prática, em vez de somente suco, foi embalada solução de limpeza. Por ingerir a substância tóxica, doze pessoas precisaram de tratamento médico, custeado pela Unilever. Ao todo, catorze relataram o mesmo problema. O motivo do engano, explicou a empresa, foram falhas no processo de higienização.
"Daquele vez em que as pessoas beberam soda cáustica, achei que fosse algo pontual, parei de consumir, mas depois voltei", diz Marcelo. "Agora? Nunca mais! Ades está banido da minha casa, não quero ver nunca mais um suco da Ades pela minha frente", afirma Marcelo.