Ao ver um agente da PF desmaiar na sua frente, Nelma fez massagem torácica e respiração boca a boca..
Presa
por suposto envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro e evasão
de divisas investigado na Operação Lava Jato, a doleira Nelma Kodama
ganhou fama e a simpatia de policiais federais por um ato heroico atrás
das grades: salvar a vida de um carcereiro que sofreu um ataque cardíaco
em plena Superintendência da Polícia Federal no Paraná.
Ao ver um agente da PF desmaiar na sua frente, Nelma fez massagem
torácica e respiração boca a boca. Em seguida, destrancou um médico
preso na mesma carceragem para auxiliar a vítima. O relato foi feito à
reportagem por três fontes da PF, que se dizem surpresas com a
eficiência na assistência ao homem enfartado.
Em seguida, chegaram outros policiais, que levaram o colega a um
hospital. O agente se salvou e a "barra" da doleira ficou um pouco mais
limpa na PF. O episódio teria ocorrido em 8 de abril, mesmo dia,
coincidentemente, em que o doleiro Alberto Youssef passou mal. Ele
também é suspeito de operar um esquema de lavagem que teria movimentado
R$ 10 bilhões.
"A Nelma podia até tentar fugir, mas fez o que fez. Abriu a outra cela, tirou o médico de lá, trancou novamente os outros presos e salvou o cara. Merecia até uma redução de pena por isso", agradece uma fonte graduada da polícia.
Conhecida no mercado financeiro por "Greta Garbo" e outros
pseudônimos que remetem ao glamour de Hollywood, Nelma, de 47 anos, é
personagem antiga de comissões de inquérito e investigações policiais.
Em 2005, foi citada na CPI dos Correios pelo doleiro Antônio de Oliveira
Claramunt, o Toninho Barcelona, como operadora do PT no mercado de
câmbio de Santo André, durante a gestão do ex-prefeito Celso Daniel,
assassinado em 2002. No ano seguinte, ela negou tudo à CPI dos Bingos:
"Não conheço", "nunca vi", reiterou, em cerca de 40 minutos de
depoimento.
O nome de Nelma reapareceu na Operação Miquéias, do ano passado, que
investigou suposto esquema de pagamento de propina a políticos e
servidores públicos para desvio de recursos de fundos de pensão
municipais. A PF detectou operações dela com o doleiro Fayed Traboulsi,
de Brasília, acusado de participar das fraudes.
A Lava Jato foi deflagrada em 17 de março, como um desdobramento da
Miquéias. Não por acaso, equipe da PF em Brasília viaja ao Paraná nesta
semana para, em parceria com policiais federais que atuam no Estado,
aprofundar os trabalhos e estabelecer elos entre os investigados nas
duas operações.
Nelma foi presa dois dias antes da ação, quando tentava embarcar para
Milão no Aeroporto Internacional de Guarulhos com 200 mil guardados na
calcinha. Para a PF, ela sabia das investigações e tentava fugir. Os
advogados de Nelma negam.
No mês passado, a Justiça Federal aceitou denúncia contra a doleira.
Conforme a denúncia do Ministério Público Federal, ela enviava recursos
ao exterior por meio de contratos de câmbio fraudulentos que simulavam
importações.
"Os doleiros atuam em rede, fazendo pagamentos uns para os outros
informalmente. É o que se chama de hawala (confiança)", explica um
policial federal. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de
Nelma.
http://cgn.uol.com.br/noticia/93459/doleira-presa-no-parana-ganha-fama-por-socorrer-e-salvar-policial