sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Estudo afirma que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo

Homens se matam mais do que as mulheres, e em países com maior renda, taxa triplica

Mais de 800 mil pessoas se suicidam por ano e 75% delas são de países de baixa renda, aponta o primeiro relatório sobre o tema elaborado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O estudo apresentado nesta quarta-feira (3) mostra que, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata no mundo, mas que o número daquelas que não obtém sucesso na tentativa ainda é superior.

Por conta desta situação, a OMS considera o caso "um grande problema de saúde pública" que, infelizmente, não é tratado da forma correta e diz que "aumentar a consciência social e acabar com o tabu é uma das chaves para que alguns países façam progressos na luta contra o suicídio", como informa o relatório.

O relatório mostra que apenas 28 países contam com um plano estratégico para prevenir o suicídio de sua população, e outros 60 recopilam dados de suicídios consolidados. A organização aponta o estigma e o tabu em torno do suicídio como causa principal para que familiares e o governo não tratem a causa de forma aberta e efetiva, já que em alguns países essa restrição ocorre porque o ato do suicídio é ilegal. 

Geralmente, os homens se matam mais do que as mulheres, e em países com maior capital financeiro, essa margem triplica. Já nos desenvolvidos, esta prática está relacionada com desordens mentais, provocadas especialmente pelo abuso de álcool e depressão. No entanto, a maioria dos casos acontece em países de baixa e média renda e tem como principal causa a pressão e o estresse ocasionados por problemas socioeconômicos.

Além disso, muitos casos são provenientes de conflitos, desastres naturais, violência física e mental, abuso, isolamento e até mesmo por discriminação. Em relação à prática do ato, 30% dos suicídios ocorrem por envenenamento, enforcamento ou uso de armas de fogo.

A depressão ainda é uma doença estigmatizada que envolve muitos mitos e tabus. De acordo com o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), os pacientes têm preconceito e medo de serem tachados de loucos ou doentes mentais, por isso demoram a procurar ajuda médica e, consequentemente, aderir ao tratamento.

— Esta demora pode acarretar na cronificação do quadro, o que dificulta a remissão da doença. Por isso, o primeiro passo é vencer o medo do diagnóstico.

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Ultrapassada a primeira barreira, o segundo passo é avaliar o estágio da depressão. Segundo o psiquiatra Kalil Duailibi, coordenador do departamento de psiquiatria da Unisa (Universidade de Santo Amaro), nem todo diagnóstico exige uso de medicação.

— No caso de uma depressão leve, a orientação é fazer psicoterapia, mudar hábitos e praticar atividade física, de preferência aeróbia, quatro vezes por semana. O uso de antidepressivo geralmente é prescrito em quadros moderado e grave.

O especialista acrescenta que “os remédios não causam dependência e podem ser administrados com segurança por muito tempo”.

— O tempo de uso pode variar de meses a anos e somente 10% das pessoas que sofrem de depressão vão precisar manter o tratamento para o resto da vida.

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Segundo o presidente da ABP, a interrupção do antidepressivo nunca deve ser feita de forma abrupta. A orientação é diminuir as doses de forma lenta e gradativa, com orientação médica, para evitar recaídas. Kalil acrescenta que “estar se sentindo bem não significa deixar o remédio de lado”.

— Isso é um erro. A meta do tratamento da depressão é contribuir para que a pessoa volte a ter uma vida normal, ou seja, sinta prazer nas atividades habitualmente agradáveis e seja reintegrada em todas as esferas de sua vida: social, afetiva e profissional.

Segundo dados da ABP, mais de 80% das pessoas com depressão podem melhorar se receberem o tratamento correto.

Abandono do tratamento
De fato, o medicamento pode levar até 15 dias para começar a ter boa ação antidepressiva. No entanto, os efeitos colaterais são imediatos, o que dificulta bastante a adesão ao tratamento e faz com que o paciente queira abandoná-lo precocemente, conforme explica Kalil.

— A maioria dos pacientes interrompe o tratamento duas a três vezes até perceber que ficam mais vulneráveis a ter novas crises. A partir daí, costumam seguir as orientações médicas.

Entre os efeitos desagradáveis, o médico cita boca seca, prisão de ventre, visão turva, diminuição da libido, insônia e ganho de peso. Mas, para Geraldo, estes não são motivos suficientes para suspender a medicação.

— Apesar das desvantagens dos efeitos colaterais, a medicação promove uma melhora significativa da depressão. Além disso, temos muitas classes de medicamentos, que conseguem atender cada perfil de paciente.

O presidente da ABP alerta que pessoas que já tiveram um quadro de depressão têm 50% de chance de ter outro. Para quem já teve dois episódios, o risco aumenta para 70% e, para quem teve três, sobe para mais de 90%.

Depressão é uma doença feminina
A depressão pode ocorrer em qualquer ciclo da vida, mas como o sexo feminino passa por vários processos hormonais, as mulheres estão mais vulneráveis para a depressão, alerta Kalil.

— Entre 12 e 55 anos a depressão afeta quatro mulheres para cada homem, enquanto na infância e terceira idade a proporção é mais equilibrada, de uma mulher para cada homem.

A ex-BBB Fani Pacheco, de 30 anos, faz parte desta estatística. Em entrevistas a jornais e revistas, Fani já assumiu ter depressão desde os 22 anos e garantiu que ficar sem medicamento a faz se sentir desmotivada e sem vontade de fazer nada.

Segundo Geraldo, a depressão não é tristeza, mas pode vir acompanhada deste sentimento, assim como melancolia, desânimo, falta de interesse por qualquer atividade, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança e desamparo.

— A depressão tira as forças da pessoa, mas com o tratamento adequado este quadro pode ser revertido.
 
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