Rio -
O Ministério da Saúde
estuda reduzir de 21 para 18 anos a idade mínima para cirurgia de
mudança de sexo na rede pública. Adolescentes de 16, então, iniciariam
os tratamentos hormonal e psicológico que antecedem o procedimento
cirúrgido, e que duram dois anos. Além disso, a portaria que poderá ser
publicada nos próximos dias vai incluir na lista de serviços do SUS
operação de troca de sexo feminino para masculino. Até agora só há o
oposto.
Ariadna realizou a operação, mas acredita que deveria ter feito mais cedo | Foto: Anderson Borde / Ag. News
Antes da decisão final, será realizada audiência com representantes do Ministério Publico Federal do Distrito Federal e Territórios, esta semana.
“Depois de um tratamento psicológico em Roma, eu operei na Tailândia,
em 2009, quando tinha 24 anos, mas desde os 7 sentia o desejo de ser
mulher. Achava minha voz fina e meu corpo feminino, mas sofria por não
poder usar saia. Acho ótima a decisão do Ministério da Saúde. Essa
cirurgia não é uma besteira, mas ocorre por causa de uma doença que leva
pessoas a não se encontrarem no próprio corpo. Acho que o tratamento
pré-operatório deveria ser mais rápido
do que os dois anos. É um transtorno e, em casos extremos, a pessoa se
multila e tenta até suicídio”, opinou a ex-BBB Ariadna Arantes, de 28
anos.
Além da redução da idade, a novidade é que o governo deverá pagar por
cirurgias para retirada de mamas, útero e ovários, além da terapia
hormonal para crescimento do clitóris. Já as operações para construção
do pênis (neofaloplastia) e de masculinização, com fechamento da vagina
(metoidioplastia), não serão contempladas.
A técnica, segundo o ministério, ainda é considerada experimental pelo
Conselho Federal de Medicina (CFM). O investimento inicial será de R$
390 mil por ano.
“Desde 2008, somos um dos únicos países do mundo a ofertar o tratamento
para transexuais de maneira universal e pública. O salto agora é
aumentar o acesso e ampliar a oferta de serviços que fazem a cirurgia,
além de autorizar o acompanhamento em unidades ambulatoriais”, disse
José Eduardo Fogolin Passos, coordenador-geral de média e alta
complexidade do Ministério da Saúde ao ‘Estado de São Paulo’.
O CFM publicou norma que apoia a redução da idade para a mudança de
sexo, além de cirurgias transgenitalismo para mulheres, ao contrário do
que disse o ministério. Somente a neofaloplastia é considerada
experimental.
No Rio, o Hospital Universitário Pedro Ernersto é o único da rede
pública que oferece mudança de sexo e, por ser instituição de ensino,
realiza troca de de feminino para masculino. Desde 2003, já foram
operados cerca de cem pacientes. No país, realizam o procedimento
hospitais em Porto Alegre, São Paulo e Goiás.
Roberta Close, ex-modelo, foi uma das primeiras a recorrer à técnica | Foto: Francisco Silva
Os prós e os contras da iniciativa
Entre especialistas, a decisão do Minsitério da Saúde não é consenso. A
terapeuta sexual Carla Vanecha Cecarello é a favor da redução de idade,
já que os conflitos sexuais surgem justamente na adolescência. “Quem
demora a fazer a cirurgia começa a querer se esconder e cria até fobia
social por não se sentir à vontade com o corpo”.
Rita Jardim, sexóloga e psiquiatra, defende que psicólogos definam se a
pessoa está ou não pronta para a intervenção, mas, para ela, maturidade
não está relacionada à idade. “A avaliação vai garantir que a pessoa
não tem doença mental que impulsionaria a mudança de sexo, como um
transtorno de personalidade”, aponta.
Já Valésia Vilela, psicóloga especializada em inteligência emocional e
sexologia, argumenta ser provado cientificamente que ninguém aos 16 anos
tem maturidade para tomar uma decisão definitiva. “O corpo é a
expressão da subjetividade. A subjetividade de uma pessoa de 18 anos
ainda é muito instável”, disse.
http://odia.ig.com.br/portal/cienciaesaude/redu%C3%A7%C3%A3o-da-idade-para-mudan%C3%A7a-de-sexo-divide-especialistas-1.574826
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