sábado, 28 de março de 2020

Saiba quais são as diferentes fases do isolamento social


Sentimentos, que vão da euforia à tristeza, podem mudar ao longo da quarentena. E isso é normal.


No dia 21 de março, a bióloga capixaba Sabrina Simon, de 33 anos, que há seis meses se mudou para Turim, na Itália, para fazer doutorado em epidemiologia da febre amarela, levantou, tomou seu café da manhã e decidiu usar o Instagram para desabafar. Àquela altura, ela estava há 25 dias no isolamento social determinado pelo governo italiano a fim de frear a disseminação do novo coronavírus. Ao perceber que muitos colegas brasileiros começavam a se preocupar com a fase igualmente imposta por aqui, resolveu relatar sua percepção a respeito do período de recolhimento – e alertar sobre o que viria.


Em uma sequência de stories (que se transformaram em um vídeo que viralizou), ela dividiu a quarentena em três fases. A primeira, a semana da euforia – na qual muita gente teve a sensação de estar em férias e aproveitou para passear e fazer atividades físicas ao ar livre. Na segunda, o tédio começou a dar as caras e as pessoas começaram a cantar nas janelas e sacadas, com intuito de envolver os vizinhos para que o sentimento fosse quebrado coletivamente; na terceira semana, esse eventos começaram a perder o sentido na medida que os números de infectados e as mortes aumentavam e o sentimento de tristeza ficou mais forte.
Para o professor do programa de pós-graduação em psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristiano Noto, as fases identificadas por Sabrina Simon são similares às cinco fases do luto, descritas pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross no fim dos anos 1960. São elas: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. “Todos vamos passar por esses estágios, em momentos diferentes, mas vamos passar”, diz Noto, explicando que a vivência do isolamento é individual. “Quem está sozinho em casa sente de um jeito. Quem está em home office, mas tendo que lidar com os filhos pequenos, por exemplo, vai perceber de outra maneira.”
Além da depressão que, segundo Noto as pessoas podem sentir conforme os dias de isolamento avancem, outros transtornos mentais que podem aparecer são a ansiedade, as fobias e a hipocondria. “O importante é ficar atento sobre a intensidade desses sentimentos, o quanto eles estão causando sofrimento para daí, então, buscar a ajuda de um médico”, diz Noto.
Sabrina conta que, agora, o conteúdo das redes sociais na Itália mudou. “As brincadeiras e os vídeos das pessoas treinando em casa pararam e as pessoas passaram a compartilhar fotos e mensagens mais sérias e tristes em seus perfis”, conta.
Vida imita a arte. Quem experimentou sensação parecida, mas em outro contexto, foi o estudante de administração e humorista João Akel, de 21 anos. Ele participou da primeira versão brasileira do reality show The Circle, produzido pela Netflix, que estreou no dia 11 de março. O programa, sucesso nos Estados Unidos e na Inglaterra, confinou por 30 dias nove participantes em um prédio, cada um em um apartamento, que só podiam interagir por uma rede social exclusiva – mas sem comunicação por voz ou vídeo. O prêmio, de R$ 300 mil, vai para o mais popular. Algo bastante parecido com o período vivido na vida real, com comunicações se dando, em geral, por meio digital. A diferença é que o prêmio, nesse caso, é ajudar a frear a covid-19.
“A situação é bem parecida, confesso. Estamos todos conectados, mas ninguém está próximo de verdade”, compara Akel, que agora enfrenta o confinamento também na vida real.
“Apesar de poder falar com os outros participantes via rede social, eu não sabia a reação do público, para quem acostumei a produzir meu conteúdo. Senti certa carência, perdi a alegria. Tive que inventar maneiras de me alegrar”, conta Akel. O programa foi gravado entre outubro e novembro do ano passado – antes da pandemia, portanto.
O professor de psiquiatria Cristiano Noto acredita que esse tipo de sensação faz parte do processo. Ainda assim, apesar do período complicado, ele acredita que sairemos fortalecidos. “Seremos mais solidários. Estamos ‘parando o mundo’ por conta de uma doença, para preservar os idosos. Isso é solidariedade.”
PRESERVE-SE
As dicas que eles dão para enfrentar o isolamento social

Cristiano Noto, psiquiatra

Faça coisas práticas, como abastecer a despensa, arrumar casa.

Crie uma rotina, tenha horários para começar a trabalhar (em caso de home office), de almoçar etc. Com rotina, tudo fica mais previsível e a ansiedade diminui.
Dê tempo para se adaptar à nova realidade. Não tenha pressa em fazer cursos e outras atividades que estão sendo ofertadas online.
Sabrina Simon, bióloga que vive na Itália
É preciso filtrar as informações, tanto de qualidade quanto de quantidade. Eu escolhi um horário e uma fonte de informação segura. Entro lá apenas uma vez por dia para me informar sobre os desdobramentos da doença.
Tenha um novo projeto para trabalhar nele. Seja produtivo em algo que te dê motivação.
João Akel, confinado no reality  The Circle
Alimente-se de forma saudável, você vai precisar de energia.
Tenha um momento para se distrair com os amigos: converse com eles, participe de jogos online.

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