sábado, 28 de março de 2020

Cerca de um milhão de paulistanos vivem em moradias superlotadas

SÃO PAULO – Em São Paulo, pouco mais de um milhão de pessoas moram em locais superlotados, com mais de três pessoas por dormitório. Isso dificulta a implementação de medidas de isolamento para pacientes diagnosticados com a covid-19 e deve acelerar a transmissão do novo coronavírus nesses lugares. Os dados foram compilados pelo Estado com base na Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE e referem-se a 2018.

A média de adensamento populacional da cidade, que tem 8,3% da população vivendo nessas condições, é bem mais alta que a do Brasil, que é de 5,6%. Em números absolutos, 11,6 milhões de brasileiros dividem o quarto com pelo menos três pessoas.

O excesso de pessoas na residência é uma barreira ao isolamento, uma das principais recomendações das autoridades médicas para conter a pandemia da covid-19. O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, explica que quando alguém é infectado pelo vírus deve preferencialmente restringir sua circulação dentro da própria casa, o que significa permanecer em um cômodo isolado.  “A higienização do espaço deve ser feita pelo próprio paciente ou, quando não houver essa possibilidade, sob demanda”, diz.
Na casa de Suderlene da Cruz, 42, é praticamente impossível adotar medidas de isolamento. Ela divide a casa de três cômodos – sala, cozinha e um quarto com banheiro – com o marido e dois filhos. Antes já foi pior, confessa. A pequena residência na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, já abrigou outros três filhos, além dos quatro atuais moradores.
Um lençol divide o único quarto da residência ao meio. De um lado, dormem Suderlene e o marido, Advaldo Rosa, de 46 anos. Do outro, a filha mais nova, Jhessy Keith, de 15 anos. O filho Jefferson Kelvin, de 20, dorme na sala. O banheiro da casa fica junto ao quarto. “Não dá para isolar ninguém em um lugar só, senão alguém fica sem banheiro”, conta Suderlene.
Na casa de Francisco Chaves Filho, de 57 anos, o problema se repete. O morador de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, divide a casa com três filhos e quatro netos. A residência tem apenas três cômodos: dormitório, banheiro e uma cozinha que serve também de sala. “Ficamos todos um pertinho do outro. Não dá para fazer nada”, conta Francisco, referindo-se à quarentena.
Neste caso, quando medidas de isolamento são inviáveis, a recomendação do especialista em caso de suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus é reforçar a higiene. “Superfícies, banheiros e pisos devem receber uma solução de água sanitária com água na proporção um para oito. Essas pessoas também não devem compartilhar objetos de uso pessoal”, aconselha Suleiman. 
Ele afirma que o vaso sanitário também deve ser limpo cuidadosamente com a solução de água sanitária e que lavar as mãos é de extrema relevância.
A família de Suderlene já aumentou os cuidados com a limpeza e segue as recomendações que vê nos jornais. Quando o filho e o marido chegam do trabalho, lavam as mãos antes mesmo de entrar em casa. Para isso, o tanque localizado na parte externa da residência já está preparado com sabão e álcool – o líquido, porque álcool em gel é considerado item de luxo.

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