Eleitores rejeitam o título de brasileiros e defendem criação de um novo país nas redes sociais: "República de São Paulo"
O resultado do 2º turno das eleições dominou as redes sociais com novos ataques a nordestinos,
mas também deu força a movimentos separatistas, que rejeitam a
reeleição de Dilma Rousseff (PT) e lutam por uma nova divisão geográfica
do Brasil. O mais forte discurso foi observado em São Paulo, onde o
deputado eleito Coronel Telhada (PSDB) declarou apoio ao processo de
independência do Sul e Sudeste, exceto Minas Gerais e Rio de Janeiro,
que tiveram maioria de votos ao PT. “Devemos nos submeter a esse governo
escolhido pelo Norte e Nordeste? Eles que paguem o preço sozinhos”,
disse o político em seu perfil do Facebook.
Ao iG, o deputado faz um recuo em
seu discurso e cita um “mal-entendido” entre os seguidores, dizendo
agora que não quer separar as regiões brasileiras, mas dar autonomia
política aos Estados do Brasil, possibilitando que eles criem sua
próprias leis, num sistema federativo similar ao dos Estados Unidos.
“Foi
um mal-entendido. Não era para ter uma repercussão tão negativa, apenas
defendi a autonomia estadual. Sou totalmente contra a separação física e
geográfica [de São Paulo]. Demoramos tantos anos para
conseguir montar uma democracia, um Brasil unido, que separação não é a
resposta”, justifica Telhada, sobre a fala que foi compartilhada 15 mil
vezes na rede social.
Na última terça-feira (28) pela manhã, o
post já não era encontrado no perfil do coronel, “possivelmente foi
apagado pelo número de reclamações que o Facebook recebeu”, sugere.
“Precisamos tomar muito cuidado com o que a gente escreve. Às vezes, a
gente escreve uma besteira”. A repercussão da fala de Telhada foi
instantânea. Entre palavras de opoio e acusações de racismo contra o
deputado, seguidores divulgavam a existência da página Movimento São
Paulo Independente (MSPI), que apoia a fundação de um novo país, a
República de São Paulo.
“Não somos brasileiros, somos paulistas”
A
eleição presidencial ficou marcada por uma campanha dura, além de
protagonizar a disputa mais acirrada da história e ser responsável pela
divisão do País. Os movimentos que defendem uma nova definição do Brasil
passaram ainda a rejeitar a nacionalidade brasileira. “Não seríamos
mais chamados de brasileiros, pois esse rótulo está desgastado e
vergonhoso. É motivo de aversão no exterior. O nosso gentílico seria
paulista”, defende um seguidor da página do MSPI.
Para
Alessandro Chiarottino, vice-presidente do movimento MSPI, que começou
nos anos 1980, as eleições 2014 mostraram um Brasil dividido em dois
pelos eleitores de Aécio Neves (PSDB) e de Dilma Rousseff – “um de São
Paulo para baixo e outro representado principalmente pelo Nordeste”. O
líder do grupo, que também atua como advogado e professor de direito
constitucional, explica que a nova divisão geográfica é “importante e
natural” no momento em que o resultado do pleito é questionado.
Veja as principais manifestações de revolta nas redes sociais após as eleições:
Reeleição
de Dilma Rousseff gerou revolta nas redes; movimentos defendem a
independência de SãoPaulo e impeachment da petista. Foto: Reprodução
“Como
o meu Estado vota de uma forma tão diferente das outras partes do País?
Talvez temos valores diferentes, uma visão diferente de como posso
crescer na vida”, indaga Chiarottino, ressaltando que o Brasil foi
dividido por “termos sociais”, principalmente pela região que mais se
beneficia pelo programa social Bolsa Família. Em poucas horas, após o
final da apuração das urnas, a página MSPI saltou de 8 mil para 20 mil
seguidores. E os três administradores estão confiantes de que o caso
“não se trata de fogo de palha”.
Inspirado pela
revolução constitucionalista de 1932 e por movimentos separatistas
europeus, como Liga do Norte (Itália) e Identitário Catalão (Espanha), o
grupo espera colocar a separação de São Paulo em debate na população. O
advogado explica as motivações do movimento: “São Paulo contribui com
R$ 220 bilhões por ano para a União e recebe de volta menos de 10%. Além
disso, sofremos com uma sub-representação política. Deveríamos ter o
dobro dos parlamentares no Congresso Nacional”.
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