Foi na chamada Noite da Nostalgia, que acontece todo 24 de agosto no
Uruguai, que Sérgio Miranda, 46, e Rodrigo Borda, 39, se conheceram
naquele ano de 1999.
Nessa data, véspera do feriado da independência do país, bares, boates e festas costumam tocar músicas de outras décadas.
Os dois estavam em uma boate gay de Montevidéu e trocaram olhares no fim
da madrugada. "Eram 5h e vi um sorriso que me encantou. Fomos embora
juntos e, desde então, nunca mais nos separamos", conta Miranda à Folha
por telefone.
Dois dias antes de completar 14 anos daquele encontro, eles entraram em um cartório da capital uruguaia para se casar.
Foram o primeiro casal gay a oficializar a união quando a lei que
permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo entrou em vigor no país.
Diego Roche/Divulgação | |||
O casal uruguaio Sergio Miranda (à esq.) e Rodrigo Borda em sua festa de casamento em uma boate gay de Montevidéu |
"Como nação, o Uruguai sempre foi de vanguarda. E o governo de Mujica
[José Mujica] está conseguindo muitos avanços na questão dos direitos
igualitários", diz Miranda.
"A cena gay no país teve avanços significativos nos últimos 20 anos. Há
mais tolerância, aceitação. Mas não significa que a sociedade daqui seja
a mais mente aberta de todas."
Ele, que dirige a revista "Friendly Map", voltada ao público GLS, afirma
não ser militante. E conta que a decisão de se casar foi um o despertar
de um lado romântico. "Eu pensei: Por que não?
Um dia a gente precisaria de um contrato para algumas questões
burocráticas", diz. "Comecei a imaginar a festa, o convite, o bolo..."
Um dia, ele preparou o jantar e surpreendeu o companheiro com duas
alianças de prata com pedras olho-de-tigre. Fez o pedido formal e Borda
aceitou.
A sonhada festa aconteceu em 10 de outubro, quase dois meses depois do
casamento no civil. Teve bolo, champanhe e uma DJ animando a pista de
dança da boate gay Il Tempo, palco da celebração para os 300 convidados,
entre familiares e amigos mais íntimos.
Borda escolheu um quimono de seda preta e um penteado estilo samurai.
"Não queríamos nada convencional. Acho que deu pra notar [risos]", diz.
Miranda optou por uma camiseta de paetês e um paletó preto e amarelo
cheio de tachas pontudas. "Chorei o tempo todo. É lindo quando você
sente as pessoas te mandando amor", diz Borda.
No dia do registro, eles contam que se surpreenderam com a quantidade de fotógrafos que os aguardava na porta do cartório.
"Não imaginava essa repercussão", diz Borda. "Não somos políticos, não
somos militantes, mas acho que a visibilidade do nosso casamento pode
ajudar de alguma maneira."
Para Miranda, a certidão de casamento, na prática, não muda nada. "Outro
dia tive de preencher uma ficha e pude escrever pela primeira vez:
'casado'. É como se aumentasse a responsabilidade", disse.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/11/1365817-sergio-e-rodrigo-sao-o-primeiro-casal-gay-a-oficializar-a-uniao-no-uruguai.shtml
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