Quase metade dos homicídios são cometidos por motivos fúteis, diz especialista

 

Em Minas Gerais, três pedras de crack e R$ 35 já causaram mortes

Dívidas de R$ 30, drogas, inveja, heranças: cada vez mais assassinatos são cometidos por motivos banais. Segundo o especialista em segurança pública e professor da Puc Minas, Robson Sávio Reis Souza, pesquisas apontam que 45% dos homicídios no Brasil são cometidos por motivos fúteis. Em Minas Gerais, o cenário não é diferente: em janeiro deste ano, Alysson Gilmar Gonçalves, de 25 anos, foi detido depois de matar um casal pela quantia de R$ 35. As vítimas eram donos de um depósito de material de construção e não quiseram trocar uma peça vendida ao suspeito.

Gonçalves já tinha passagens por tráfico e tentativa de homicídio. Segundo o delegado responsável pelo caso, Emerson Morais, ele "teve a audácia" de chegar à delegacia com um carro clonado para prestar depoimento.A ousadia pode ser justificada pela "baixa eficiência da Justiça criminal", segundo professor da Puc Minas.

— Temos em média apenas 10 % dos homicídios integralmente processados pela Justiça. Isto mostra para as pessoas uma possibilidade muito grande de impunidade.

A Justiça funcionou no caso de Welerson Damasceno da Cruz, de 33 anos. Ele foi preso pela Polícia Militar ao esfaquear um homem em um ponto de ônibus na região de Venda Nova, em BH. A vítima, que era amiga do suspeito, quase morreu porque deixou de pagar R$ 30. Já na Zona da Mata, a vida de um jovem de 18 anos valeu ainda menos: o pintor Anderson Christian Feliciano confessou ter esfaqueado a vítima por causa de três pedras de crack.

Segundo a Polícia Militar, o combate aos crimes que tem o tráfico de drogas como pano de fundo tem sido feito de forma "insistente" em todo o Estado. A PM alega que tem recorrido ao policiamento intensivo, além de promover ações educacionais em comunidades para afastar os jovens desta realidade.

Souza afirma que para reduzir a quantidade de crimes como estes são necessárias várias medidas que passam desde a mudança de padrões culturais até a reforma no sistema Judiciário.

— Nós somos uma sociedade altamente machista e autoritária que faz as pessoas a acreditarem que quem tem mais dinheiro ou poder, pode mais. Por isso precisamos da eficiência da Justiça, para mostrar que todos são iguais perante a lei.
 

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