O
governo brasileiro expressou "espanto", "rechaço" e "perplexidade" por
falas do ministro da Defesa do Uruguai, José Bayardi, que questionou o
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a eleição de Jair Bolsonaro
e a permanência do Brasil no Mercosul.
Em
uma dura carta publicada nesta segunda pelo jornal "El Observador" e
enviada na sexta passada à Chancelaria uruguaia, conforme a embaixada
brasileira no Uruguai confirmou à AFP, o embaixador do Brasil no
Uruguai, Antonio Ferreira, disse que recebeu "com absoluta perplexidade"
as declarações de Bayardi "por serem levianas e fora de contexto".
"Se
fosse por mim, de repente o Brasil teria que ter sido tirado (do
Mercosul) também (bem como a Venezuela), o que significou a última
eleição (do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro em 2018) e o
afastamento da presidenta Dilma Rousseff" de seu cargo em 2016, disse
Bayardi no programa local "Quem é quem" que é transmitido pela emissora
pública.
O ministro uruguaio respondia dessa forma a uma pergunta na qual questionavam se ele considerava a Venezuela uma ditadura.
Dirigente
de longa data do governante Frente Ampla (esquerda), ele assumiu neste
ano a pasta da Defesa. Antes de dar sua resposta, tirou do bolso um
exemplar em miniatura da Constituição venezuelana.
"Lá
(na Venezuela) há um governo que está sustentado em uma Constituição
que é a que os venezuelanos escolheram", garantiu Bayardi para quem o
regime de Nicolás Maduro "não" é uma ditadura e o que ocorre é "um marco
institucional de muita tensão".
A
discussão provocada por Bayardi bota lenha na fogueira de uma relação
pouco harmoniosa entre o Brasil de Bolsonaro e o Uruguai de Vázquez.
Antes da eleição do ex-militar à frente do governo nacional, vários
integrantes do governo uruguaio, inclusive ministros, criticaram o hoje
presidente.
O
ministro uruguaio insistiu na comparação entre a permanência do Brasil
no Mercosul e a saída da Venezuela do bloco. Caracas foi suspensa em
2017 pela aplicação de uma cláusula democrática aprovada em 1991 por
Brasília, Buenos Aires, Assunção e Montevidéu, sócios fundadores da
grupo.
"Acho
que (a Venezuela) foi tirada (do Mercosul) em um determinado momento
porque havia uma forte pressão (...), muito forte, pelos governos do
Brasil e da Argentina que haviam mudado, para tirar (Caracas), e que o
Uruguai resistiu a tudo o que pôde para que não acontecesse até acabar
sem poder resistir. Foi errado", afirmou.
"Se
começarmos com os questionamentos sobre a institucionalidade
venezuelana (...) posso dizer que, se aplicássemos o mesmo padrão para
fazer essa leitura, o Brasil teria que ficar de fora, pelo que isso
significou e ainda o que continua transcendendo do que foi a
institucionalidade brasileira", observou.
O
embaixador brasileiro disse que os comentários "sobre a sociedade
brasileira estão carregados de fortes preconceitos e demonstram total
desconhecimentos da realidade em que vivem 210 milhões de brasileiros,
uma sociedade com grande vigor democrático".
"Me
causou espanto e rechaço a opinião expressa sobre o funcionamento do
Mercosul, mecanismo que também demonstrou desconhecer", conclui a
missiva.
https://br.noticias.yahoo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário