Após protesto da defesa da jovem de 16 anos violentada no Morro da
Barão, zona oeste do Rio, a Polícia Civil decidiu no domingo, 29, passar
a coordenação da investigação sobre o crime para a Delegacia da Criança
e Adolescente Vítima (DCAV). Também no domingo, 29, a advogada Eloísa
Samy Santiago, que defendia a adolescente, anunciou que deixou o caso, a
pedido da família, que aderiu ao Programa de Proteção a Crianças e
Adolescentes Ameaçados de Morte, da Secretaria de Estado de Direitos
Humanos, em parceria com o governo federal.
Com a decisão, a Polícia Civil se antecipou a um pronunciamento
da Justiça, após o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) ter
defendido mudanças na condução do inquérito. Segundo a Polícia Civil, a
Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), que estava à
frente do caso, ficará com a apuração da divulgação de imagens do crime
nas redes sociais.
“A medida visa a evidenciar o caráter protetivo à menor vítima na
condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de
parcialidade no trabalho”, diz nota divulgada pela Polícia Civil.
Em entrevista à TV Globo, o chefe da Polícia Civil, Fernando
Veloso, afirmou que a decisão também teve o objetivo de “preservar” o
delegado Alessandro Thiers, titular da DRCI.
Veloso ainda disse que a perícia aponta que não há vestígio de
sangue nos vídeos que vazaram na internet e adiantou que o laudo do
exame de corpo de delito poderá ir “contra o senso comum” sobre como os
fatos aconteceram.
Antes de deixar o caso, a advogada Eloísa argumentou que a DRCI
não deu o tratamento adequado ao crime de estupro e concentrou-se na
investigação da publicação das imagens. Apontou também suposta atitude
imprópria de Thiers durante depoimentos da vítima.
Para a advogada, a adolescente foi constrangida, e o delegado não
respeitou a condição de vítima de violência sexual. Nos depoimentos, a
jovem disse ter sido dopada e atacada por 33 homens armados.
Eloísa foi informada pela avó da adolescente da decisão de
dispensar seus serviços na noite de domingo. A advogada se disse
“aliviada”, porque estava conduzindo o trabalho sozinha, e demonstrou
confiança nos órgãos do Estado.
No sábado, 28, a advogada encaminhou ao MP-RJ e à Justiça quatro
pedidos em relação ao inquérito. A promotoria concordou com três
pleitos, incluindo o desmembramento da investigação e o pedido de
investigação da conduta do delegado.
A promotoria entendeu também que a jovem deve ser protegida por
medida cautelar da Justiça, nos moldes da Lei Maria da Penha, que pode
proibir que suspeitos se aproximem ou mantenham contato com vítimas. A
advogada relatou que um dos suspeitos do crime, identificado como
Raphael Belo, tem tentado intimidar a adolescente.
O Sindicato de Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro (Sindepol-RJ) divulgou comunicado em que critica a defensora. No
texto, diz repudiar “de forma veemente as declarações oportunistas,
assim como qualquer tipo de ingerência nas investigações”.
Buscas. A PM fez ontem nova operação em busca de suspeitos do
crime, assim como havia feito no sábado. A operação começou por volta de
6h30, envolveu 70 policiais e terminou sem nenhuma prisão ou apreensão.
Tampouco houve troca de tiros.
http://istoe.com.br/delegado-e-afastado-de-investigacao-de-estupro-no-rio-advogada-deixa-caso/
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