Ministros do Supremo Tribunal Federal, tidos como simpáticos à gestão
da presidente Dilma Rousseff, têm começado a questionar a petista em
conversas de bastidores. Até o fim do ano passado, o STF parecia ao
Planalto um palco mais amistoso do que o Congresso, mas o panorama mudou
nos últimos dias com o agravamento da crise.
O abandono do governo dentro da Corte vai além da
perspectiva sobre o impeachment. Integrantes do Tribunal dizem,
reservadamente, ver indicativos claros de que há indícios para
investigar a presidente por tentativa de obstrução da Justiça em razão
da indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da
Casa Civil. O sinal foi dado, na avaliação de um ministro, na decisão
do plenário desta semana, que manteve no Supremo os grampos de Lula.
"Para
afirmar o que a maioria do Tribunal afirmou, é preciso reconhecer que
há indícios de infração penal (por parte de Dilma)", diz um ministro que
participou do julgamento. Na avaliação dele, o caso só foi mantido na
Corte porque há suspeita de irregularidades cometidas pela presidente,
que tem prerrogativa de foro. Do contrário, o caso poderia ser conduzido
na primeira instância pelo juiz Sérgio Moro.
Relator
da Operação Lava Jato no STF, o ministro Teori Zavascki não entrou,
durante o julgamento, no mérito da discussão sobre uma eventual
investigação de Dilma - que precisa ser solicitada pelo procurador-geral
da República, Rodrigo Janot -, mas deu indicativos, na interpretação
desse integrante do Tribunal, de que há gravidade na conversa.
A
análise sobre a deterioração do governo extrapola os gabinetes dos
ministros tradicionalmente críticos a Dilma e agora faz parte do
discurso de magistrados contabilizados pelo Palácio do Planalto, até
hoje, como votos governistas.
Um ministro da Corte com
boa interlocução com o Executivo já tem feito previsões de que o
"triunvirato peemedebista" deve prosperar até a metade do ano. A
expressão é uma referência interna à possibilidade de o vice-presidente
da República, Michel Temer, assumir o governo no caso de afastamento,
tendo como colegas de partido os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha
(RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL).
"O trem saiu da estação."
É assim que outro ministro define o processo "sem volta" de afastamento
de Dilma. Para o mesmo magistrado, o Brasil vive uma crise aguçada por
ações desastradas no campo econômico e o "fundo do poço parece nunca
chegar". O coro é reforçado por um terceiro integrante do Tribunal, para
quem o impeachment se dá pelo esfacelamento da base aliada diante da
derrota do presidencialismo de coalizão na gestão Dilma.
Nomeado
ao STF pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dias Toffoli se
afastou do Planalto durante o primeiro mandato de Dilma e se aproximou
do maior desafeto de petistas hoje no Tribunal: o ministro Gilmar
Mendes. Interlocutor do Planalto no Judiciário avalia que outros dois
ministros, Celso de Mello e Cármen Lúcia, têm demonstrado decepção com o
governo do PT. Quem mantém o contraponto às vozes críticas ao governo é
Marco Aurélio Mello. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2016-04-03/ministros-do-stf-comecam-a-questionar-a-presidente-dilma.html
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