O Partido do Trabalhadores não se emenda. Com o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sob investigação pelo Ministério Público, a legenda
partiu para uma defesa tão desonesta e emocional quanto ineficaz. Em
uma das inserções que o PT levou ao ar ontem à noite em cadeia nacional,
o presidente do partido, Rui Falcão, empreendeu uma viagem ao reino da
mentira, da confusão e da desinformação, ao declarar com a maior
desfaçatez que Lula está sofrendo perseguição política porque praticou o
bem à população brasileira.
Numa lógica para lá de obtusa, o dirigente petista afirmou que o país
inteiro sabe o que Lula fez para melhorar a vida do povo e que, por
essa razão, “ele tem sido alvo de ataques, provocações e perseguições
pelos preconceituosos de sempre”. Só uma boa dose de cinismo, além das
usuais tendências paranoicas, é claro, para aceitar tão matreiro
raciocínio.
Não há perseguição preconceituosa a Lula. Tampouco o ex-presidente é
investigado por fazer o bem à população. O que há é uma série de
suspeitas que vão fechando o cerco sobre Lula.
Um tríplex no Guarujá reformado pela construtora OAS e ligado ao
ex-presidente é investigado na 22.ª fase Operação Lava Jato, por
suspeita de lavagem de dinheiro. Entre março de 2012 e janeiro deste
ano, Lula e seus familiares viajaram 111 vezes a um sítio em Atibaia,
que teve a reforma de R$ 700 mil paga pela Odebrecht. Mesmo que as
investigações sobre o maior nome do PT resultem em nada além do que foi
desvendado, essa promíscua proximidade com empreiteiras investigadas
mostra um quadro bem diferente daquele de “homem mais honesto do país”
que o petista pintou de si mesmo.
O PT tem o direito de defender o seu maior nome, mas isso não lhe
confere o direito de mentir. E é precisamente isso que faz a propaganda
do partido. Tanto Rui Falcão tem consciência de que os argumentos não
param em pé nem nos parcos 30 segundos de duração da propaganda que se
vê forçado a apelar para a emoção. “Eles não aceitam que o Lula continue
morando no coração do nosso povo, principalmente daqueles que mais
precisam”, afirma o presidente do PT.
Há uma intenção perversa nesse discurso. Rui Falcão maliciosamente
insinua que investigar Lula é uma forma de atingir os cidadãos mais
necessitados da população brasileira. Como se Lula fosse um herói
mitológico cheio de boas intenções, algo que as investigações em curso
vão desconstruindo.
O PT se coloca falsamente no papel de defensor dos menos favorecidos
em oposição, pasmem, à Justiça e às investigações da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal. É uma escolha lamentável, não apenas
porque carece de fundamentos, ou por ser mentirosa, mas porque é
desinformativa, atacando instituições que têm cumprido fielmente o papel
que lhes foi conferido pela Constituição Federal. Essas críticas ao
partido, por evidente, não se estendem a todos os simpatizantes ou
integrantes da legenda – certamente há muita gente séria que não
corrobora com táticas como as que a legenda vem usando.
Ao fim da propaganda, Falcão conclui dizendo que” mais uma vez a
verdade vai vencer a mentira”. Com toda a certeza isso irá ocorrer. Mas o
caminho para onde as investigações seguem indicam que será uma verdade
bem inconveniente às mentiras disseminadas por Falcão e pelo Partido dos
Trabalhadores.
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/entre-o-delirio-e-a-mentira-c0qamjp4rlvo7vjv17k8dem7k?ref=yfp
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