terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Após explosão na Calfórinia, mulheres tornam-se também alvos de suspeita por terrorismo

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Tashfeen Malik vestia equipamento tático e uma máscara preta ao lado do seu marido na semana passada, quando eles atacaram o Inland Regional Center em San Bernardino, Califórnia, onde ele trabalhava. Ambos morreram após um demorado tiroteio com a polícia algumas horas mais tarde e estão no centro da investigação sobre o pior ataque terrorista em solo americano: o atentado de 11 de setembro de 2001.

Malik, cidadã paquistanesa de 29 anos, mãe de um bebê, jurou lealdade ao ISIS no Facebook antes do ataque mortal. Mas suas ações não refletem necessariamente os ideais e as regras que o ISIS estabelece no califado para as mulheres.

O ISIS disse publicamente que Malik e seu marido, Syed Rizwan Farook, era “partidários do califado”, não soldados, forma como eles geralmente descrevem seus seguidores.

A propaganda para mulheres ocidentais mostra frequentemente mulheres usando burka e munidas de uma AK-47. A mensagem do ISIS sublinha o “empoderamento” das mulheres, de acordo com Mia Bloom, especialista em terrorismo e professora da Georgia State University. Eles têm alcançado grande sucesso em recrutar mulheres Americanas, observa Karen Greenberg, diretora do Center of National Security na Fordham University’s School of Law. O grupo alega que o feminismo falhou com as mulheres e diz que apenas no califado elas poderão encontrar sua verdadeira natureza.

Na prática, o ISIS afirma que prefere as mulheres cuidando dos maridos e dos filhos, não se envolvendo em qualquer tipo de combate. No verão passado, uma filial do ISIS definiu as regras de participação para mulheres em combates. O chamado tratado de Zura, traduzido pelo perito Charlie Winter, incentiva as mulheres a apoiar os homens com suas habilidades domésticas, como “enfermagem, costura…cozinhar, lavar roupas e outras coisas”.

O documento detalha algumas circunstâncias nas quais é considerado aceitável que mulheres participem ativamente como combatentes. Mulheres podem fazer ataques suicidas em sua própria casa ou em lugares públicos caso esteja sendo atacada por “infiéis”. Nessas situações, o tratado diz que elas podem se explodir “sem permissão”.

As mulheres também têm permissão para agirem como franco atiradoras. Em circunstâncias especiais, ainda podem participar de operações especiais, como fez Malik. Mas isso se restringe à permissão de um líder, desde que seja para o “bem público”.

“Uma mulher não deve se juntar ao exército ou à brigada, pois isso leva à corrupção”, diz o Tratado. Esta relutância em permitir que as mulheres lutem, difere o ISIS de outros grupos terroristas que têm criado acampamentos especiais para treinar mulheres em combate.

“Eles projetam uma imagem para atrair mulheres para o califado, mas estas mulheres aprendem rapidamente que nunca chegarão a tocar em uma arma”, diz Bloom. “Elas podem ter um marido que impede a saída delas de casa”.
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Iraqi Sajida al-Rishawi, mostrando seu cinturão de suicídio enquanto fala sobre sua tentativa fracassada de detonar o cinto dentro de um dos três hotéis da Amman dirigidos pela al-Qaeda. (Foto: Jordanian TV via AP)

Alguns especialistas acreditam que as regras do ISIS para as mulheres apoiam as ações de Malik. Rita Katz dirige o SITE Intelligence Group, uma empresa privada de inteligência que controla as redes terroristas globais. Segundo ela, o grupo não chama pessoas como o casal de San Bernardino de “soldados”, pois parece que eles não estavam em contato direto com o ISIS antes do ataque.

“O ISIS já usou mulheres para operações de suicídio no passado”, diz Katz. “Para eles, isso não é a mesma coisa que participar de uma situação real de combate”.

Katz aponta o exemplo de Sajida al-Rshawi, que foi executada na Jordânia no início deste ano por seu papel em um ataque que matou 60 pessoas no país, embora sua bomba não tenha detonado. O ISIS queimou um piloto jordaniano até a morte enquanto exigia a libertação dela.
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Um outdoor exibe um versículo do Alcorão que incita as mulheres a usarem um hijab nos territórios controlados pelo ISIS na Síria. (Foto: Reuters)

As severas regras criadas para as mulheres do califado também são diferentes das que o ISIS encoraja as mulheres a seguirem em seus países de origem, disse Katz. Os vídeos do ISIS que incentivam ataques solitários no ocidente se dirigem a muçulmanos em geral em vez de “irmãos”, uma distinção semântica que inclui claramente as mulheres.

“Eles gostariam que outras mulheres do ocidente fossem inspiradas por estes atos”, doz Katz sobre Malik.
As autoridades ainda investigam a ideologia de Malik e Farook, apesar de acreditarem que o casal era radical por bastante tempo e que Malik nutria lealdade pelo ISIS. O Los Angeles Times relatou que Malik estava matriculada em um curso de 18 meses em uma madrasa (instituição educacional) chamada de Al-Huda Institute, em Multan, no Paquistão. Ela abandonou o curso antes de terminá-lo para se casar com Farook, que ela conheceu online.

Al-Huda é uma escola religiosa incrivelmente popular entre as mulheres do Paquistão e é muito criticada por pregar uma visão estreita e conservadora do Islã, que proíbe que as mulheres ouçam música, falem com homens que não sejam seus parentes e saiam descobertas em público. Mas apesar de sua retórica frequentemente antiocidental e fundamentalista, a Al-Huda nunca havia sido ligada a qualquer tipo de violência.

Sua visão das mulheres como companheiras que devem encorajar seus homens a se tornarem mais religiosos está em consonância com a ideologia de gênero do ISIS. O carismático fundador da escola, Farhat Hashmi, ensina que as mulheres devem usar o véu para manter o interesse do marido e suas famílias intactas, de acordo com o livro Transforming Faith, de Sadaf Ahmad. Ele também ensina esposas a se disponibilizarem sexualmente para seus maridos a todo momento, afim de evitar infidelidade, outro valor compartilhado pelo ISIS.

Um porta voz da Al-Huda disse ao New York Times que o grupo não tem nada a ver com as ações de Malik.
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Uma cópia do Alcorão e um envelope de plástico na casa dos suspeitos Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik em Redlands, Califórnia. (Foto: Mario Anzuoni/Reuters)

https://br.noticias.yahoo.com/o-isis-acha-que-o-lugar-de-mulheres-jihadistas-%C3%A9-111536872.html

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