segunda-feira, 27 de abril de 2015

Pacientes têm que levar a própria comida para não passar fome em hospital da Grande SP

Especialista alerta para os riscos de uma alimentação inadequada durante o tratamento

Paciente internada se alimenta com comida levada pela acompanhante Daia Oliver.
 
O Pronto Socorro Municipal de Itapevi, na Grande São Paulo, não serve nem comida nem água aos pacientes internados. Usuários se queixam que a unidade não dá atenção necessária e condenam o serviço prestado pela prefeitura.

A reportagem do R7 esteve no hospital, que fica no bairro Cidade Saúde, e flagrou a situação de abandono que os pacientes vivem lá dentro. 

Quando conversou com a reportagem, o conferente Cássio, de 52 anos, estava hava dois dias no hospital esperando remoção para realizar uma tomografia. 

— Estou esperando uma remoção desde ontem às seis horas da manhã. Fiz uma cirurgia e me deram alta. Quando estava em casa, minha coluna deu um estalo eu desmaiei e estou aqui, sozinho. Se tiver que comprar comida, tenho que me deslocar do meu “leito”, que na verdade é uma maca improvisada.

Em frente ao hospital há uma lanchonete, alternativa usada por pacientes para não passarem fome. De acordo com funcionários, pacientes e acompanhantes acabam comprando seus alimentos no local. Inclusive na entrada do hospital há uma placa indicando a direção da lanchonete.

A empregada doméstica Francisca Silva disse que deu entrada no Pronto Socorro porque estava com dengue. Ela precisou ficar internada em um quarto com mais treze pessoas. 

— Lá é um lugar muito ruim, nem parece posto de saúde. Eu tive que ir lá durante três dias para fazer controle das plaquetas antes de ser internada. Chegava às sete horas da manhã e só ia embora por volta das quatro horas da tarde. Passava o dia todinho lá.

Francisca disse que o hospital não dá qualquer tipo de orientação sobre alimentação, apenas avisa que o paciente e o acompanhante precisam levar a comida pronta de casa. 

— Eu acho isso muito errado, eles tinham que servir uma sopinha, alguma comida de hospital. Porque na verdade você não pode comer uma comida pesada, né. Mas lá não tem nada.

A nutricionista Larissa Lins, do Hospital Samaritano de São Paulo, explica que a falta de alimentos pode piorar o quadro clínico do paciente. Segundo ela, comida comprada na rua ou levada de casa pode expor o paciente que está com sistema imunológico comprometido ao risco de contaminação. Ela afirma, ainda, que cada paciente precisa fazer uma dieta própria, de acordo com o problema de saúde que tiver. 

— Esse alimento que está vindo de fora pode não estar de acordo com o que o paciente pode comer naquele momento do tratamento. Por isso tem que haver uma prescrição de dieta do hospital. A dieta precisa ser individualizada.

Providências
O problema do pronto-socorro de Itapevi já havia sido denunciado pelo programa Balanço Geral da TV Record em fevereiro do ano passado. Na ocasião, a prefeitura prometeu que a unidade de saúde começaria a servir comida aos pacientes até o primeiro semestre de 2014. Mais de um ano depois, nada avançou.

Procurado pela reportagem do R7, a prefeitura alegou, por meio de nota, que em até 90 dias a situação estará normalizada. “As obras de construção da cozinha já foram concluídas e, atualmente, a prefeitura está organizando um processo licitatório para contratação de uma empresa que executará os serviços”, diz o texto.

A administração municipal também alega que a demora na liberação de vagas por parte do Estado faz com que o pronto socorro mantenha pacientes internados, o que não seria sua prerrogativa: “o Pronto Socorro é uma unidade dia, ou seja, os pacientes devem ser atendidos e, em casos de maior complexidade e que envolvem internação, removidos aos hospitais de referência, sob gestão do Governo do Estado. Entretanto, em função da liberação de vagas por parte do Estado ser extremamente lenta, a prefeitura se vê obrigada a manter pacientes internados no Pronto-Socorro Municipal.”

De acordo com o Ministério da Saúde, é obrigação de qualquer unidade que realize internações servir alimentação adequada aos pacientes.

 http://noticias.r7.com/sao-paulo/pacientes-tem-que-levar-a-propria-comida-para-nao-passar-fome-em-hospital-da-grande-sp-27042015

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