“Não sou pessimista, sou realista. Nós criamos a
melhor infraestrutura, descentralizada, e a primeira coisa que fizemos
foi construir um sistema super centralizado sobre ela, o que é muito
bizarro”, comentou Peter Sunde
Por Anna Beatriz Anjos
No Brasil para participar da CryptoRave, evento que tratará de
criptografia e segurança na rede, Peter Sunde, ativista hacker e
cofundador da plataforma The Pirate Bay, declarou, em conversa com
jornalistas nesta quinta-feira (23), que a internet “deu totalmente
errado”. “Não sou pessimista, sou realista. Nós criamos a melhor
infraestrutura, descentralizada, e a primeira coisa que fizemos foi
construir um sistema super centralizado sobre ela, o que é muito
bizarro. Depois, centralizamos tudo nas mãos de algumas companhias em um
só país, que não tem um histórico de bondade com qualquer um que esteja
além de suas fronteiras”, destacou, referindo-se aos EUA.
No começo do mês, Sunde causou polêmica ao afirmar, em um artigo,
que o Partido Pirata estaria morto. “As pessoas estão um pouco
chateadas por isso, mas eu não gosto do Partido Pirata”, disse. Ele
explica que esse conjunto de agremiações, existentes ao redor de todo
mundo – e pelo qual se candidatou à vaga no Parlamento Europeu em 2014 –
é focado em questões muito específicas, como o combate às atuais leis
de propriedade intelectual e industrial. “Talvez
possamos pensar em algo além disso, um sistema parlamentar que
funcionaria se você se importasse somente com algumas causas, mas como é
hoje, acho até vergonhoso tirar votos das pessoas com base em coisas
específicas. Por exemplo, se você vota no Partido Pirata em um país onde
suas bandeiras são liberdade de expressão e informação, o que é
totalmente compreensível, você não sabe quais são as proposta em relação
à imigração, educação, saúde etc, o que não é certo.”
O sueco falou também sobre o WikiLeaks, com o qual disse colaborar.
Ele acredita, entretanto, que a plataforma não tenha muito a revelar
daqui para frente. “É ruim que não tenhamos mais diversidade, que
tenhamos apenas uma plataforma de vazamentos (…) enquanto deveríamos ter
várias delas. Penso que, se alguém quiser trabalhar com vazamento de
informação, deveria pegar a tecnologia do WikiLeaks e criar sua própria
plataforma, além de se especializar em algumas áreas”, adicionou. “Por
exemplo, se você está interessado em vazamentos sobre o mundo
financeiro, essa deveria ser sua expertise (…) Tenho muito medo dessa
centralização. Nós, ativistas, estamos sempre reclamando da
centralização promovida pelo Facebook, Twitter e todas essas empresas,
mas fazemos o mesmo.”
Questionado sobre como utiliza a internet após ser perseguido por
governos na Europa, Sunde abordou a questão da vigilância na internet.
“Todos estão sendo monitorados e vigiados. O ‘lado bom’ sobre quem faz
isso é que não discrimina: eles não são racistas, não ligam para o seu
sexo, simplesmente amam todo mundo e olham todos”, ironizou. “Não acho [que sou mais vigiado do que os outros].
Acho que eles monitoram todo mundo, armazenam os dados e, quando
precisam da informação, apenas a buscam. A questão não é se você esta
sendo vigiado, mas quando cruzará a linha e passará a ser interessante
para eles.”
Sunde comentou, ainda, os cinco meses em que ficou preso no ano
passado – ele os demais fundadores do The Pirate Bay foram condenados
por violação de direitos autorais. O ativista conta que, nesse período,
emagreceu 15 quilos e se dedicou a estudar Filosofia, sobretudo Michel
Foucault, que analisa justamente os sistemas de vigilância e punição.
“Não funciona, não é um sistema transparente, e a maioria dos presos,
com poucas exceções, são pessoas pobres, que não tiveram acesso à
educação ou ajuda do governo”, observa.
http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/04/a-internet-deu-totalmente-errado-diz-fundador-do-the-pirate-bay/
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