Dois órgãos divulgaram o nível do sistema com diferença de 15,6%; de acordo com a ANA, o reservatório está com 22,2% de sua capacidade, enquanto a empresa estadual projeta 26,3%
SÃO
PAULO - Qual o nível atual do Sistema Cantareira? A pergunta, que antes
merecia uma única resposta divulgada diariamente pela Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), agora é motivo de
divergência entre a empresa paulista e a Agência Nacional de Águas
(ANA). Com o uso inédito do "volume morto" dos reservatórios, iniciado
há cinco dias, a Sabesp e o comitê anticrise liderado pela ANA passaram a
divulgar o novo índice de água disponível para a Grande São Paulo com
uma diferença de 15,6% (4,1 pontos porcentuais).
Segundo o boletim
diário divulgado pelo comitê, que também é composto por técnicos do
Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e da Sabesp, o Cantareira
estava nesta segunda-feira, 19, com 22,2% da capacidade. Já a Sabesp
divulgou que o índice era de 26,3%. Ambos consideram que a quantidade de
água disponível nesta segunda era de 75,5 bilhões de litros -
represados acima do limite das comportas de captação. Há ainda os 182,5
bilhões que serão retirados do "volume morto", com uso de bombas.
Há
discordância quanto ao porcentual que o fundo das represas representa
da capacidade total do sistema. A distorção ocorre porque o comitê
anticrise leva em consideração em seus cálculos que o uso de 182,5
bilhões de litros do "volume morto" também eleva a capacidade do
Cantareira, de 981,56 bilhões de litros para 1,164 trilhão de litros.
Dessa forma, aponta o grupo técnico, os 257,93 bilhões de litros
equivalem a 22,2% do manancial. Já a Sabesp não considera que a reserva
profunda aumentou a capacidade do Cantareira e diz que o volume
armazenado representa 26,3% de 981,56 bilhões de litros.
Em
nota, a empresa paulista informou que o cálculo apresentado no boletim
do comitê e divulgado no site da ANA "não foi discutido" entre os órgãos
que compõem o grupo técnico. "Trata-se de uma publicação de
responsabilidade da agência reguladora", afirma.
A
companhia destaca ainda que, embora haja uma diferença de 15,8% nos
índices do Cantareira, o volume de água restante no manancial é o mesmo:
257,9 bilhões de litros. "Não há uma redução da quantidade de água. A
divergência está apenas no critério da conta", completa.
A
assessoria de imprensa do DAEE informou que a conta apresentada no
boletim do comitê foi feita pela ANA. Já a agência federal informou, por
sua vez, que o cálculo que chegou ao resultado de 22,2% foi feito pelo
grupo técnico, órgão colegiado do qual a Sabesp também faz parte.
Ambos
certos. Para o professor de Finanças Adriano Gomes, da Escola Superior
de Propaganda e Marketing (ESPM), os dois cálculos estão corretos. "O
que muda é o referencial. É uma questão muito mais conceitual do que
numérica. Como o volume que será utilizado é o mesmo nos cálculos, o
índice que hoje é maior (26,3%) vai cair mais rápido do que o outro. E,
se for o caso, ambos vão chegar a zero juntos", afirma Gomes.
O
efeito disso já pôde ser percebido na segunda. Enquanto o índice da
Sabesp recuou 0,1 ponto porcentual em um dia, o índice do comitê
anticrise ficou estável. Ambos demonstram que a chuva forte que caiu na
capital no domingo não atingiu o Cantareira.
Sem considerar
o "volume morto" que será utilizado, o nível do Cantareira estava ontem
em 7,7% da capacidade, segundo a análise do comitê anticrise. Antes do
início da retirada de água da reserva profunda, esse índice era de 8,2%.
Ao
custo de R$ 80 milhões, a captação do "volume morto" foi dividida em
duas etapas. A primeira teve início nas Represas Jaguari-Jacareí, em
Joanópolis, a cerca de 100 quilômetros da capital. De lá, a Sabesp
pretende retirar 105 bilhões da reserva profunda. No próximo mês, a
companhia deve concluir as obras para captar mais 77 bilhões do "volume
morto" da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista.
Segundo
informações fornecidas pela Sabesp ao comitê anticrise, o uso do "volume
morto" seria suficiente para abastecer a Grande São Paulo até o fim de
novembro. Há duas semanas, o secretário estadual de Saneamento e
Recursos Hídricos, Mauro Arce, garantiu o abastecimento de água na
região sem adoção de racionamento generalizado até março de 2015. Na
última semana, contudo, um diretor da Sabesp informou que a reserva
profunda deve durar só até outubro.
http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/volume-morto-faz-ag%C3%AAncia-federal-e-sabesp-divergirem-sobre-cantareira
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