"Quantas grandes empresas e universidades brasileiras têm presença
permanente em Washington? Quantos canais de diálogo fora do governo
existem para se avançar ou discutir os interesses brasileiros nos EUA?",
pergunta Michael Werz, pesquisador-sênior para países emergentes do
Center for American Progress, um centro de estudos ligado ao Partido
Democrata.
Ele mesmo responde. "Quase nada. Nesta cidade, o Brasil parece país pequeno".
A opinião é compartilhada por dezenas de especialistas em relações
internacionais da capital americana ouvidos pela Folha. Em tempos em que
a relação entre os governos Dilma e Obama está na geladeira, por causa
do escândalo de espionagem, a interlocução é modesta.
Editoria de Arte/Folhapress |
"O Brasil claramente não tem uma narrativa em Washington", diz o
presidente do think tank [centro de estudos] Interamerican Dialogue,
Michael Shifter.
PÁLIDO
"Perto de outros emergentes, a presença do Brasil é pálida", concorda
Julia Sweig, diretora do programa de América Latina do Council on
Foreign Relations.
As cinco maiores associações empresariais da Turquia têm escritório
próprio na cidade para fazer contatos e lobby. Tanto México quanto Índia
apostam na força da diáspora, com associações e prêmios a mexicanos e
indianos-americanos de destaque.
A representação brasileira aumentou nos últimos anos, com a criação de
um escritório da Coalizão da Indústria Brasileira (BIC, da sigla em
inglês), ligada à Fiesp, em 2000, e com o Brazil Institute, do Wilson
Center, em 2006, único entre os 400 centros de estudos da cidade com
programa exclusivo dedicado ao Brasil.
"Outros países onde o peso da relação comercial com os EUA é similar
investem bem mais", diz Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute.
"O investimento de diversos países aqui é para conquistar acesso. É para
ter amigos em Washington a quem ligar", diz Andrew Selee, que fundou o
Mexico Institute do Wilson Center em 2003.
O orçamento do instituto mexicano, com doações privadas, é quase três vezes maior que o do brasileiro.
"Boa parte da agenda bilateral de EUA e México trata de assuntos
domésticos, como comércio, imigração, segurança. Com o Brasil, é só
geopolítico, que é bem menos influente com políticos e com o Congresso
daqui".
O patrocínio de estudos e pesquisadores nos centros de estudos não se
trata apenas de divulgar a imagem desses países nos EUA, mas de
influenciar governos no futuro. Vários think tanks são o empregador
natural de democratas e republicanos quando não estão no governo.
ETANOL
"Em Washington é fundamental saber navegar o mundo do lobby, dos think
tanks e da mídia para conseguir ser ouvido", diz Leticia Phillips,
representante para a América do Norte da associação da cana e do etanol
brasileiros Unica.
A entidade fez lobby para o Congresso americano derrubar as altas alíquotas contra o produto --e conseguiu.
A Coreia do Sul contratou vários escritórios de lobby para arrancar
vantagens do acordo comercial bilateral e até para garantir mais vistos
para profissionais coreanos.
O acordo de livre comércio entre os EUA e a Coreia do Sul foi aprovado
em 2011. O superavit que os coreanos têm com os americanos cresceu 60%
em relação a 2010.
O governo brasileiro não contrata escritórios de lobby nos EUA. A Coalizão de Indústrias Brasileiras (BIC) tem autorização para fazer lobby.
Mas, segundo o site Open Secrets, que trabalha com os dados oficiais de
lobby direto no país, a Coalizão investiu abaixo do valor que é
registrado pelo site, de US$ 10 mil/ano. A Federação das Indústrias da
Coreia do Sul gasta US$ 400 mil por ano em lobby direto.
Um programa de estudos brasileiros na Universidade Georgetown teve seu
auge entre 2000 e 2006, com patrocínio da Motorola, Coca-Cola e Alcoa,
mas sofreu um baque após escândalo de corrupção.
O coordenador do programa foi afastado e condenado depois do desvio de
US$ 311 mil em notas fiscais frias a professores fantasmas. Ele fugiu
dos EUA em 2005. Na semana passada, a Justiça americana discutia o
arquivamento do processo por não conseguir localizar o réu.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/12/1385550-lobby-do-brasil-nos-eua-e-timido-se-comparado-ao-de-outros-paises.shtml
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