Até que idade uma criança é criança, quando entra na puberdade? Como orientar nossos filhos quando as fases estão tão misturadas?
As
fases do desenvolvimento humano estão em transformação. Infância,
pré-adolescência, adolescência, idade adulta, as fronteiras andam tênues
e os parâmetros sendo rompidos. Até que idade uma criança é criança?
Quando entra na puberdade? Permanecem adolescentes por quanto tempo? Não
me refiro às transformações físicas, essas também cada vez mais
precoces, mas às psicológicas e de comportamento. Que referências tomar
para me guiar na educação da minha filha?
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), criança é considerada a pessoa até os 12 anos incompletos.
Dos 12 aos 18 anos, idade da maioridade civil, encontra-se a
adolescência. Não se fala em pré-adolescência, mas teóricos colocam esta
fase entre os 9 e os 12 anos, alguns estendem até os 14, quando
entendem que efetivamente começa a puberdade, uma vez que as mudanças
iniciam mais cedo para as meninas e mais tarde para os meninos. Ou seja,
cada caso é um caso.
Ana Bia tem 8 anos e, apesar de muitas vezes agir como criança, outras tem atitudes e gostos de adolescente.
Converso com outras mães cujas filhas agem da mesma forma, então,
penso, deve ser normal. Mas aí olho para trás, para as memórias da minha
própria infância e absolutamente não lembro de me interessar por moda,
maquiagem, ídolos teen, nem de sofrer tanto com intriguinhas entre amigas antes dos 14 ou 15 anos. As meninas de hoje são tão mulherzinhas!
Tudo
bem, os tempos eram outros, a gente se gastava tanto andando de patins,
bicicleta, pulando corda e Amarelinha, que não tinha tempo pra mais
nada. Era voltar pra casa, comer, tomar banho e dormir. Televisão à
noite era monopólio dos adultos, canal a cabo inexistia, programação
infantil só pela manhã, quando eu tinha aula. Então, já viu. Havia menos
oportunidades para sermos bombardeadas avassaladoramente pela mídia e
suas ofertas de produtos e conceitos, tampouco éramos vulneráveis a
imposições de padrões estéticos e estereótipos. Criança era criança e ponto. Era feita para correr, brincar e ralar os joelhos. Não existia nem marcas de roupas infantis!
Esses dias a Bia vestiu um shortinho e uma regata e me perguntou se estava muito “piriguete”. Quando, me diz quando eu teria feito uma pergunta desse tipo pra minha mãe? Na minha inocência, eu não saberia nem o que é piriguete! Simplesmente, questões com o meu corpo e com a minha aparência não entraram no menu da existência antes dos hormônios da puberdade começarem a agir. Mas hoje elas entram muito antes. E nos pegam, às mães, com as saias justas.
Será que o excesso de convivência com adultos transforma nossos filhos em menos crianças?
Onde foram parar as turmas de prédio? Que solidão vivem os pequenos de
hoje! Morro de pena da Bia, que chega aos finais de semana e não tem com
quem brincar. Tem apenas outra menina no edifício, que quase nunca está
em casa. Ficamos as duas desesperadas atrás de amiguinhas e colegas
para ela interagir, sobretudo nos dias em que estou de plantão online e
não posso sair de casa. O jeito é brincar só.
Bem
resolvida que é, Ana Bia se diverte como pode. E do que ela gosta?
Séries de TV americana para adolescentes como Violetta, ICarly,
Victorious, Os Feiticeiros de Waverly Place. Livros como “O Diário de
uma Garota Nada Popular”, que devora em uma semana. São 250 páginas! Ela
adora. Mas são para adolescentes e os temas sempre os mesmos: bullying,
vencedores X fracassados, meninas populares X comuns, conceitos que até
há pouco não tínhamos no Brasil e que estamos importando da cultura
americana. Por coincidência (ou não!), abordam exatamente situações,
infelizmente, que a Bia já enfrenta na escola.
Aí entra a questão: permitir a leitura ou não? Com orientação constante e supervisão da parte dos pais, não deixa de ser um treino para o que vai encontrar logo mais à frente e talvez ficar mais preparada. Será? Ou seria o contrário e estou permitindo o contato com esse modo tão nocivo de enxergar a vida? Proibir é o caminho? São pontos de vista a se debater.
Sou a favor de orientar
nossos pequenos, alertar para estas visões distorcidas da realidade que,
se não cortadas pela raiz, podem dizimar autoestimas. Somos todos
bonitos, interessantes, inteligentes, únicos, não existe isso de melhor
ou pior. Converso muito com a Bia sobre beleza real e a maravilha que é
sermos cada um de um jeito. Que não é a nossa aparência, mas a forma
como agimos e pensamos que nos define. E que o respeito à diversidade de
gênero, crenças, raças, condições sociais deve sempre nortear suas
ações. Seja em que fase de vida for.
http://estilo.br.msn.com/demaepramae/blog/ana-kessler/post.aspx?post=897c5481-a766-44ac-a8d6-52572599c513
Nenhum comentário:
Postar um comentário