Indícios do uso de armas químicas fazem Casa Branca considerar ação militar. A pedido de Obama, Pentágono prepara leque de opções ofensivas na região
Vítimas do ataque na região de Goutha, na Síria, em 21/08/2013 - Bassam Khabieh/Reuters
Diante do agravamento da guerra civil na Síria, com as acusações de que o regime de Bashar Assad teria usado armas químicas
contra civis no massacre da última quarta-feira, os Estados Unidos já
estudam estratégias para uma possível intervenção no país árabe. Nesta
sexta-feira, o secretário de Defesa Chuck Hagel declarou que, a pedido
do presidente americano, o Pentágono preparou um leque de alternativas
para o caso de Obama decidir lançar uma ação militar contra Damasco.
"O Departamento de Defesa é responsável por fornecer ao presidente
opções para todo o tipo de contingências", afirmou Hagel. "Isso exige
posicionar nossas tropas e nossos recursos para ser capaz de realizar
diferentes opções – qualquer que seja a escolha do presidente."
Entenda o caso
- • Durante a onda da Primavera Árabe, que teve início na Tunísia, sírios saíram às ruas em 15 de março de 2011 para protestar contra o governo do ditador Bashar Assad.
- • Desde então, os rebeldes enfrentam forte repressão pelas forças de segurança. O conflito já deixou dezenas de milhares de mortos no país, de acordo com levantamentos feitos pela ONU.
- • Em junho de 2012, o chefe das forças de paz das Nações Unidas, Herve Ladsous, afirmou pela primeira vez que o conflito na Síria já configurava uma guerra civil.
- • Dois meses depois, Kofi Annan, mediador internacional para a Síria, renunciou à missão por não ter obtido sucesso no cargo. Ele foi sucedido por Lakhdar Brahimi, que também não tem conseguido avanços.
Plano de ação - Embora o secretário de Defesa não
tenha entrado em detalhes sobre as movimentações das forças do país na
região, fontes militares relataram para a imprensa dos EUA que a frota
americana no Mediterrâneo vai ganhar o reforço de um quarto navio de
guerra e que a Marinha recebeu ordens para se preparar para uma possível
operação militar na Síria.
Além disso, um funcionário de alta patente da Defesa americana contou
para a rede CNN que a lista de alvos para ataques aéreos no território
sírio foi atualizada recentemente. O plano de ação para um eventual
bombardeio incluiria o uso de mísseis de cruzeiro, que partiriam de
navios estacionados no Mediterrâneo e tornariam desnecessária a entrada
de pilotos americanos no espaço aéreo sírio.
Em entrevista para a própria CNN nesta sexta, o presidente Barack
Obama declarou que os EUA ainda buscam confirmação de que o ataque
químico ocorreu, mas que todos os indícios apontam para um “evento de
grande preocupação”. Obama destacou que a situação na Síria exige a
atenção americana e acrescentou que evitar a proliferação de armas de
destruição em massa e proteger as bases e os aliados do país na região
são “interesses essenciais” dos EUA.
No ano passado, Obama defendeu que o uso massivo de armas químicas na
Síria significaria a superação de uma “linha vermelha” que obrigaria a
Casa Branca a estudar ações mais incisivas sobre o conflito. Depois do
massacre da última quarta, França e Grã-Bretanha
já se manifestaram a favor de uma ação militar contra Assad caso o uso
de gases tóxicos seja comprovado. Aliada do ditador, a Rússia é contra a
intervenção e considera o uso da força “inaceitável”.
Investigação - No campo diplomático, os americanos
anunciaram um esforço conjunto com os russos para convencer o governo
sírio e os rebeldes a cooperaram com uma investigação sobre o suposto
ataque químico.
Na quarta-feira, uma ofensiva na periferia de Damasco provocou um
número indeterminado de vítimas. A oposição denunciou 1 300 mortes e
acusou o regime de ter cometido ataques com gases tóxicos. O
Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma ampla rede
de ativistas e médicos, contabilizou 170 mortes e não confirmou o uso de
armas químicas. O regime negou categoricamente o uso de armas químicas.
Os principais grupos de oposição na Síria
Conselho Nacional Sírio (CNS)
Burhan Ghalioun, primeiro presidente do Conselho Nacional Sírio, discursa em Viena, na Áustria, em dezembro de 2011
Criação: Outubro de 2011
Chefe: George Sabra
Princípios: lutar contra o regime usando meio legais;
rejeitar divisões étnicas; proteger a independência e a soberania
nacional, opondo-se à intervenção militar estrangeira.
Fundado na Turquia por exilados políticos, o conselho é dominado por
muçulmanos sunitas que lutam contra cristãos e alauítas leais ao regime
de Bashar Assad. O grupo é composto por 17 organizações menores e
indivíduos que propõem uma administração interina para o período
pós-Assad e um projeto de reconciliação nacional, além da criação de uma
comissão judicial para investigar crimes contra a humanidade e eleições
para formar uma assembleia constituinte.
A Irmandade Muçulmana exerce influência no CNS e o atual presidente, um
cristão ortodoxo, representa a maioria de integrantes originários do
grupo fundamentalista. Sabra substitui Abdel Baset Sayda, curdo que
deixou o cargo em novembro de 2012, logo após a criação da Coalizão
Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução (CNFROS).
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/eua-tracam-estrategia-para-possivel-intervencao-na-siria
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