Procurador-geral dos EUA enviou carta ao Congresso a detalhar os
casos. Barack Obama anuncia nesta quinta-feira nova política para o
recurso a aviões não tripulados.
A Administração Obama admitiu pela primeira vez que
ordenou o assassínio de quatro cidadãos norte-americanos fora de uma
zona de combate, entre os quais Anwar al-Awlaki, morto em Setembro de
2011 no Iémen.
Não era propriamente um segredo, já que a operação norte-americana contra Awlaki tinha sido confirmada em várias ocasiões
por altos funcionários da Casa Branca, embora sempre sob a condição de
anonimato. O anúncio oficial foi feito na quarta-feira à noite pelo
procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, numa carta enviada ao
Congresso, na véspera de um discurso do Presidente Barack Obama sobre o
assassínio de cidadãos norte-americanos e a utilização de drones armados. No primeiro discurso do seu segundo mandato sobre o tema, Barack Obama vai anunciar uma redução do uso de drones e iniciar um processo de transferência de autoridade da CIA para as Forças Armadas.
"Desde
2009, no âmbito das operações antiterrorismo contra a Al-Qaeda em áreas
onde não se verificam combates, os Estados Unidos visaram e mataram um
cidadão norte-americano, Anwar al-Awlaki", lê-se na carta assinada pelo responsável pela Justiça na Administração Obama.
"Com
base nos princípios legais estabelecidos há várias gerações e nas
decisões tomadas pelo Supremo Tribunal durante a II Guerra Mundial, e
também durante o actual conflito, fica claro que a cidadania
norte-americana não torna estes indivíduos imunes", argumenta Eric
Holder.
"Estas considerações permitem o uso de força letal num
país estrangeiro contra um cidadão dos Estados Unidos que é um
operacional destacado da Al-Qaeda ou das suas forças associadas, e que
está envolvido activamente num plano para assassinar americanos",
escreve o procurador-geral na carta enviada ao Congresso.
Para
além da operação no Iémen, em 2011, a Casa Branca confirmou também a
morte de três outros cidadãos norte-americanos – Abdulrahman al-Awlaki,
Samir Khan e Jude Kenan Mohammed – nos últimos quatro anos, embora o
procurador-geral ressalve que "estes indivíduos não foram
especificamente visados pelos Estados Unidos".
A história destes
três norte-americanos não é contada na carta enviada ao Congresso, mas
já foi revelada por vários media. As ligações de Samir Khan e Jude Kenan
Mohammed à Al-Qaeda eram conhecidas, mas a morte de Abdulrahman
al-Awlaki, o filho adolescente de Anwar al-Awlaki, é mais controversa.
Samir
Khan, 25 anos, era o director de uma revista online financiada pela
Al-Qaeda na Península Arábica e foi morto no ataque que tinha como alvo
seleccionado Anwar al-Awlaki. Nasceu na Arábia Saudita, filho de pais
paquistaneses, mas foi criado em Nova Iorque e na Carolina do Norte. Não
era considerado um alvo suficientemente importante para fazer parte da
lista de assassínios selectivos da Casa Branca, mas morreu porque estava
ao lado de Anwar al-Awlaki no dia do ataque, no Iémen.
Jude Kenan Mohammed cresceu em Ralleigh, na Carolina do Norte, mas viajou para o Paquistão ainda jovem,
para integrar um grupo de radicais islâmicos. Foi morto em Novembro de
2011, na região paquistanesa do Waziristão Sul, num ataque com um drone
que matou outras 12 pessoas. Tal como Samir Khan, Jude Kenan Mohammed
também não estava na lista de ataques selectivos (destinados a
assassinar um único indivíduo, identificado pelos Estados Unidos como um
perigoso militante terrorista), mas foi morto num "signature strike",
a designação usada pelas autoridades norte-americanas para descrever um
ataque contra um grupo de pessoas que se movimentam "de forma suspeita"
numa área controlada por combatentes inimigos.
O caso de Abdulrahman al-Awlaki é diferente. Nascido em Denver, no estado do Colorado, em 1995, Abdulrahman foi morto num ataque com um drone em
Outubro de 2011, no Iémen, duas semanas depois de o seu pai ter sido
assassinado. Não tinha nenhuma relação conhecida com a rede terrorista
Al-Qaeda e diz-se que estaria à procura do pai quando foi morto, num
ataque que vitimou outras nove pessoas. Altos funcionários da Casa
Branca terão admitido que a morte de Abdulrahman al-Awlaki foi um erro –
o ataque teria como alvo o egípcio Ibrahim al-Banna. Antes da
confirmação oficial do procurador-geral Eric Holder, apenas um alto
funcionário da Casa Branca tinha falado em público sobre a morte de
Abdulrahman al-Awlaki. Em Outubro do ano passado, o antigo assessor de
imprensa da Casa Branca Robert Gibbs, conselheiro de Barack Obama na
campanha eleitoral de 2012, foi filmado a responder a uma questão
sobre o facto de Abdulrahman ser norte-americano, menor de idade (tinha
16 anos de idade) e ter sido morto sem acusação ou julgamento: "Acho
que o pai devia ser mais responsável, se estiver realmente interessado
no bem estar do filho."
O programa norte-americano de aviões não
tripulados para atacar suspeitos de terrorismo nas zonas tribais
paquistanesas na fronteira com o Afeganistão foi lançado em 2004, por
George W. Bush. Mas a chegada de Barack Obama à Casa Branca levou a uma escalada que muitos analistas consideram imparável. Para além do uso em operações de luta contra o terrorismo, os dronesestão também a ser alvo de controvérsia devido ao seu uso em território dos Estados Unidos, por parte das forças de segurança e de particulares.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/casa-branca-admite-ter-ordenado-assassinio-de-quatro-americanos-com-drones-1595256
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