terça-feira, 26 de março de 2013

Descontrole impulsiona violência em Bauru: aonde isso vai chegar?

É a pergunta que poucos fazem em situações de crise e que impulsiona casos em Bauru; lesões corporais cresceram 20% 

Em Bauru, no mínimo, seis casos de violência doméstica no fim de semana. Em poucas horas, duas tentativas de suicídio. Na região, a discussão em uma boate termina com três baleados. Ontem, um menino de 13 anos esfaqueou uma criança por conta de uma pipa.

Ocorrências, problemas e envolvidos diferentes, mas, com um ponto em comum: o descontrole emocional.
Reprodução
Lesões corporais cresceram 20%
Dados divulgados ontem pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) confirmam esse cenário preocupante. No primeiro bimestre de 2013, foram 453 casos de lesão corporal dolosa em Bauru. Um crescimento de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram registrados 377 casos.

Já os dados do ano inteiro apontam 2.416 ocorrências de lesão corporal em 2012. Se a tendência de aumento verificado nos dois primeiros meses continuar, a cidade deve chegar perto dos 3 mil casos este ano.

Nas ocorrências registradas neste fim de semana, algumas chamaram a atenção. Em uma delas, por ciúme, uma mulher, de 34 anos, foi agredida pelo companheiro e ainda ameaçada de morte com um facão.

Em outra, no Jardim Flórida, a briga do casal acabou ferindo a cabeça de uma criança de 1 ano e oito meses.

Segundo o psicoterapeuta cognitivo Arnaldo Vicente, coordenador do Centro de Terapia Cognitiva (CTC) da cidade, o descontrole emocional é produto de uma distorção da realidade. “As pessoas tendem a ter medidas de autoproteção. O problema é quando essas medidas são internas. Quando isso ocorre de forma exagerada, a pessoa cria uma preocupação excessiva e um pensamento distorcido”.
O psicoterapeuta explica que essas atitudes são reflexos de Pensamentos Automáticos Negativos, os chamados PANs.

“Todo mundo possui esses pensamentos negativos. Porém, algumas pessoas se guiam por eles. Em crises,  enxergam os outros como inimigos e é como se precisassem dar uma lição neles”.

E não é só a agressividade espontânea. Neste fim de semana, um homem, em processo de separação, tentou se enforcar. “A pessoa distorce a realidade em tal ponto que entra em um grau de desespero. Em casos de separação, elas valorizam mais o parceiro do que a própria vida”.

Preocupação
O psicoterapeuta faz um alerta ainda mais preocupante. “É uma situação que tende a piorar, uma vez que as pessoas não têm costume de observar seus atos”. Preocupação compartilhada também pela polícia.

“Acredito que a sociedade vive uma busca por espaços muito grande. Um exemplo perfeito é o trânsito, um dos campeões em desentendimentos”, aponta o comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4º BPM-I), major Walter Oliveira.

Em janeiro deste ano, após uma “fechada” no trânsito, um vendedor autônomo, de 52 anos, deu uma marretada na cabeça de um motorista, de 32 anos.

“Mas o que mais nos preocupa é mesmo a violência doméstica. Percebemos que crescem os números de casos. No dia a dia, verificamos que é isso que desagrega a família. Depois, gera um desvio de condutas nos jovens e, consequentemente, outros crimes”, complementa o major.

Números ainda maiores
O número de brigas motivadas pelo descontrole é muito maior do que o representado pelo universo dos dados oficiais. É que, quando os casos têm menor gravidade, são resolvidos pelo local. “E é a grande maioria”, aponta o major Walter Oliveira.

Essa é a orientação em casos que não envolvam outros delitos. “Os policiais acabam sendo um pouco psicólogos”, brinca. Mas tem outro prejuízo considerável. “Perdemos um tempo precioso nessas ocorrências e que podíamos estar em um patrulhamento preventivo, por exemplo”, complementa.

Auto-observação e até trabalho voluntário evitam as ‘explosões’
Um senso de proteção muito grande, irritação exacerbada, egoísmo e sentimento de ser o “dono da verdade”. Se você tem esses sintomas ou conhece alguém assim, é preciso ligar o alerta. Segundo o psicoterapeuta cognitivo Arnaldo Vicente, são sinais do descontrole emocional.

Tendo em vista esse quadro, o mais importante é a auto-observação. “Muitos acham que esse comportamento é normal. Mas não é. É sinal de uma distorção da realidade e que pode resultar em uma agressão sem motivo, por exemplo”, aponta o especialista.

Vicente recomenda a ajuda de um profissional para verificar o nível desse descontrole e tratá-lo. Contudo, afirma que existem diversas outros modos de amenizar esse comportamento. Até trabalho voluntário pode ajudar.

“A pessoa precisa se abrir para desenvolver ideias mais reflexivas. É preciso que diminua esse sentimento de egoísmo. Assim, um trabalho voluntário pode abrir essa capacidade de percepção. O mesmo ocorre com a prática de um esporte, por exemplo”, complementa o psicoterapeuta Arnaldo Vicente.

Homicídios? Em alta; outros crimes, estáveis
O número de homicídios em Bauru, segundo a SSP-SP, também aumentou no primeiro bimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em 2013, já foram registrados oito casos, quando, em 2012, foram apenas dois registros nos primeiros meses.

A polícia, porém, argumenta que tal aumento significativo seja algo sazonal. “É realmente o crime que mais grave. Mas, acreditamos que seja algo pontual. Ou seja, não podemos pensar que vai ser uma tendência para o resto do ano”, afirma o major Walter Oliveira.

Este ano, foram cinco homicídios em janeiro e três em fevereiro. Para o major, a maior parte dos casos ocorre por conta de desavenças entre os próprios criminosos.

Já o número de roubos se manteve estável. No primeiro bimestre foram 150 roubos, enquanto houve 149 no ano anterior. Furtos tiveram redução. Foram 1.025 em 2013 e 1.141 em 2012. “Há grandes operações que coíbem a ação de criminosos. Ele percebe e isso contribui para reduzir os casos”, diz o comandante do 4º BPM-I.

 http://www.jcnet.com.br/Policia/2013/03/violencia-aonde-isso-vai-chegar.html

 

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