"Stalingrado... Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes
cidades!”. Assim começou Carlos Drummond de Andrade a sua famosa Carta a
Stalingrado, um poema escrito em 1943, quando os soviéticos derrotavam
os alemães na célebre batalha. O texto exalta aquela cidade “que
resiste”, que se ergue dos escombros e que, segundo o poeta, é “uma
criatura que não quer morrer e combate”.
Ainda hoje, 70 anos depois do cerco de Stalingrado,
a cidade que agora se chama Volgogrado respira os ares do momento mais
trágico da história soviética e também da triunfante vitória contra a
Alemanha nazista. Dor e destruição se misturam com orgulho e
patriotismo.
“Nenhuma cidade evoca tanta história na Rússia como Volgogrado, nem
mesmo Moscou”, opina o professor Andrei Ivanov, do Departamento de
História da Universidade de Volgogrado. “O rio Volga é o maior da Europa
e muitos eventos importantes do nosso país estão relacionados ao rio.
Por isso o chamamos de Mãe Volga, pela importância que tem”.
Erguendo-se em uma colina de 102 metros, surge majestosa a estátua Mãe
Pátria, de 85m de altura e que é símbolo da cidade. A construção é uma
mulher feita de concreto empunhando uma espada de aço. O local foi palco
de enfrentamentos que duraram quatro meses durante o cerco de
Stalingrado e hoje abriga um memorial a todos que morreram no conflito,
em um complexo chamado Mamaev Kurgan. O Panteão conta com a inscrições
com os nomes de 7,2 mil combatentes mortos. Estima-se que 1 milhão de
soldados russos tenha morrido na batalha.
“Nós viemos aqui prestar uma homenagem aos defensores da pátria. Sem
eles, o que seria da Rússia agora? Na verdade, o que seria do mundo?
Estaríamos sob o jugo de Hitler ou de líderes semelhantes?”, questiona a
aposentada Natalya Konikova, que perdeu familiares na batalha.
Natalya leva todos os anos flores aos “heróis da Rússia”, em
agradecimento ao que eles fizeram pelo país. “Este é um ano especial
para a nossa cidade de Stalingrado. Uma pequena cidade salvou o destino
da humanidade”.
Na última quinta-feira, a prefeitura de Volgogrado aprovou que o nome
da cidade fosse alterado durante alguns dias este ano para a celebração
dos 70 anos da batalha. Desta maneira, neste sábado (02/02), o nome
oficial da cidade passa a ser “cidade-heróica Stalingrado”, atendendo a
pedidos de muitos veteranos da Segunda Guerra Mundial, segundo informações oficiais.
O decreto autoriza que o nome Stalingrado seja usado em discursos e
relatórios em seis datas especiais este ano, incluindo o dia da Vitória
(9 de maio), o dia do contra-ataque russo em Stalingrado (19 de
novembro) e o dia do fim da Segunda Guerra Mundial (19 de novembro).
Segundo pesquisa do instituto de opinião pública Levada, 18% dos russos
apóiam que a cidade volte a se chamar Stalingrado de maneira definitiva.
“Eu sei que Stálin fez muitas coisas erradas, mas é importante que a
gente relativize e veja também pontos positivos. A vitória na guerra foi
uma vitória nossa, uma vitória de Stálin”, conta o jovem Igor
Patrushev, que não se declara comunista, mas “respeita o legado da União
Soviética”.
Memória soviética
Além do complexo Mamaev Kurgan, a cidade de Volgogrado (ou Stalingrado, aos que preferirem o antigo nome) conta também com o Museu da Defesa de Stalingrado, com dezenas de exposições dedicadas apenas à batalha.
Além do complexo Mamaev Kurgan, a cidade de Volgogrado (ou Stalingrado, aos que preferirem o antigo nome) conta também com o Museu da Defesa de Stalingrado, com dezenas de exposições dedicadas apenas à batalha.
“Esta semana estamos recebendo pessoas de várias partes do mundo. Acho
que estão todos muito gratos ao esforço russo”, explica uma guia do
museu. “Com as fotos e os vídeos, podemos perceber um pouco a
importância dos anos de 1942 e 1943 para o futuro de todos nós”.
No segundo andar do museu, uma ilustração em 360° graus mostra um
Panorama dos anos da guerra do alto da colina onde hoje está a estátua
da Mãe Pátria. “Quando comparamos as cenas de destruição e carnificina
deste panorama com a cidade que temos hoje em dia, ficamos ainda mais
admirados com a capacidade de superação soviética”.
Drummond parecia ter razão quando, ainda em 1943, disse em sua carta:
“Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres, a grande Cidade de
amanhã erguerá a sua Ordem”.
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/estatua-da-mae-patria-e-simbolo-da-vitoria-sovietica-em-stalingrado,0c0ddd3f31a9c310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário